UM LEGADO CINEMATOGRÁFICO DE ZÉ CELSO E DO TEATRO OFICINA: "PRATA PALOMARES".

7 de julho de 2023 213

"...em 1971, Num dos períodos mais repressivos da ditadura militar, Zé Celso assinou o roteiro de Prata Palomares, dirigido por André Faria (co-autor do roteiro). O longa foi selecionado para participar da Semana da Crítica do Festival de Cannes de 1972, mas o governo militar proibiu a exibição do filme, que tratava da guerrilha e da tortura.

Com Ítala Nandi, Otávio Augusto e Renato Borghi (um dos fundadores do Oficina), Prata Palomares conta a história de dois guerrilheiros que, depois de derrotados por um regime ditatorial, invadem a igreja de uma pequena cidade chamada Porto Seguro. Eles criticam o conservadorismo e querem mudar a realidade e a sociedade. 

Um deles se disfarça de padre e acaba mergulhando numa espiral de loucura, cercada por torturas, violência e crises psicológicas Ele se torna um líder religioso que funda um novo estado messiânico chamado Paraíso Agora, traindo seus ideais revolucionários.

Com forte influência da liberdade de criação do Oficina, Prata Palomares tem linguagem não linear, que traz os ecos do Cinema Novo e do Cinema Marginal, além de trazer a contestação, a influência do tropicalismo, a união, e o choque, do sagrado e do profano, o olhar crítico sobre a formação da sociedade brasileira, tantas vezes apontada como passiva, conformista e conservadora. 

Convidado cinco vezes para participar de Cannes, todas negadas pelos censores da ditadura, foi finalmente liberado em 1977 para ser exibido no exterior e, em 1979, para exibição em território nacional, quando foi premiado no Festival de Brasília

Por seu histórico, é um filme raro, nada unânime, mas documento importante do período e uma das provas que tanto Zé Celso quanto o Oficina jamais se calaram, mesmo em tempos em que isso significava de fato perigo de vida...(trecho do do artigo de Flávia Guerra, No cinema, Zé Celso também (re)existiu, transgrediu e influenciou gerações, publicado em 06/07/2023 pelo UOL) 

Observações: foi exatamente no Festival de Brasília que eu assisti a Prata Palomares, tendo no minha crítica o considerado, disparado, o melhor filme nele exibido. Mas o finado jornal Fim de Semana, um dos veículos que me valeram o convite para o evento, não só deixou de publicá-la, como encerrou unilateralmente a minha colaboração. O motivo é fácil de adivinhar.

Também estava lá como crítico da revista Fiesta Cinema, que, pelo menos ela, não vetou meu texto. Infelizmente, não possuo mais exemplar daquela edição nem cópia do que escrevi. 

Nem tive nenhuma disposição para rever Prata Palomares, porque várias passagens me lembraram situações que eu e companheiros da VPR havíamos vivido, Alguns não sobreviveram. Eram recordações sofridas e dolorosas demais para mim.

O filme está disponibilizado em versão integral no Youtube, que, contudo, só permite que ele seja visto no Youtube mesmo. Então, impossibilitado de colocá-lo na tradicional janelinha, só me resta recomendar aos interessados que cliquem aqui para irem vê-lo lá. (por Celso Lungaretti)

 

 

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Fonte: CELSO LUNGARETTI
A VISÃO DEMOCRÁTICA (POR CELSO LUNGARETTI )