PORQUE NÃO DEVEMOS GOVERNAR, NEM ALMEJAR O PODER (4ª parte)

24 de janeiro de 2019 543
(continuação deste post)
c) a queda do PIB mundial, da massa global de mais-valia e de valor válido – Organismos mundiais insuspeitos de vinculação com a ordem capitalista anunciam a desaceleração da economia mundial. O Fundo Monetário Internacional, em informação dada pela sua presidente Christine Lagarde, anuncia (obviamente contra a sua vontade) a redução do PIB mundial em 2019 e 2020. 
 
China e Estados Unidos, locomotivas do crescimento econômico mundial por terem sido vitoriosos na guerra concorrencial de mercado, dão claros sinais de emperramento. 
 
A China acaba de divulgar uma queda no seu PIB em 2018, fixado em 6,3%, que é a menor taxa de crescimento econômico desde 1990. Este fenômeno vem se repetindo ano a ano na China, sendo tal desaceleração econômica atribuída à queda do consumo interno e às restrições tarifárias à importação de produtos chineses pela via de medida protecionistas dos países importadores (dentre eles, principalmente, os EUA).
 
Entretanto, faz-se mister afirmar uma obviedade. Embora crescer de um valor de 1 para2,represente uma taxa de 100%, em termos de importância econômica global não significa muito. Mas, quando se chega a números altos e se quer manter a taxa de crescimento numa mesma proporção matemática por anos a fio, isto passa a ser impossível. 

Como a disputa concorrencial de mercado se dá dentro de um espetro de capacidade de consumo que não cresce na mesma proporção do desejo de expansão comercial dos produtores de mercadorias, a resultante óbvia é que em algum momento haja um redução da média anual de taxa de crescimento econômico de quem passou a abocanhar grande parte do mercado.
 
É o que está acontecendo com a China. De um PIB anual de US$ de 361 bilhões em 1990, a China passou a cerca de US$ 15 trilhões em 2017, ou seja, um aumento de cerca 4.300% em 27 anos. Agora, as taxas de crescimento vêm, exatamente, se reduzindo. 
 
Isto porque crescer permanentemente com as mesmas taxas registradas nos primeiros anos é algo impossível de ocorrer, seja porque o consumo de mercadorias é previamente estabelecido (ainda que se estimule o consumismo desenfreado), seja porque os países importadores se veem atingidos pela queda de suas produções industriais internas de mercadorias e passam a adotar medidas protecionistas.
 
O liberalismo econômico somente se mantém como doutrina econômica aceitável para quem está ganhando a guerra mercantil concorrencial, mas isso só vai até o limite em que a raposa do liberalismo deixa de comer as galinhas alheias e passa a enfrentar a fome. 

É o que está a acontecer com os Estados Unidos, que sempre pregaram o liberalismo de mercado e agora estão adotando medidas protecionistas contra importações, justamente porque a dinâmica do lógica do capital virou a chave contra seus próprios interesses, graças aos seus altos custos sociais de produção.
 
A desaceleração do crescimento econômico da China não é coisa de pequena monta para o sistema de crédito mundial, na medida em que sua colossal dívida pública e privada está num curva ascendente. O FMI afirma que atingirá 290% do PIB do país até o final de década e pode acarretar a insolvência até mesmo do spread financeiro incidente sobre ela.
 
Os EUA estão sendo obrigados a tomar medidas protecionistas para tentarem conter os prejuízos advindos da antiga feitiçaria que agora se voltou contra eles próprios, os feiticeiros.
 
O FED, o Banco Central Americano, aumentou a taxa de juros de 0,5% ao ano para 2,0% a.a. O que poderia parecer sintoma de recuperação econômica que visa frear o consumo, na verdade é o seu oposto, pois o que está na base desse comportamento é a necessidade de contenção da pressão inflacionária pela discrepância entre consumo de importados e capacidade de produção interna competitiva. 
Os títulos do tesouro estadunidense subiram de 2,0% ao ano para 3,1% a.a. em razão da necessidade de suprimento da crescente e estratosférica dívida pública daquele país, além de estarem pagando mais para títulos com vencimento em prazo menor. Isso é sintoma de desaceleração à vista.
 
A redução de impostos feita pelo presidente destrumpelhado causou um substancial aumento da dívida pública; isto representa maior endividamento por emissão de títulos públicos e moeda sem lastro, podendo gerar pressão inflacionária, principalmente se o dólar estadunidense deixar de ter receptividade no mercado internacional de câmbio. 
 
Todos esses fatores, somados à briga política para a obsessiva construção do muro na fronteira com o México que paralisou o pagamento das despesas públicas orçamentários do governo (oshutdown), estão contribuindo para uma previsão de queda do crescimento do PIB estadunidense para 2019.
 

Mesmo incluindo-se nesta análise a União Europeia, que abrange os países mais ricos da Europa, com significativa produção industrial, os prognósticos recentes são de redução gradual do crescimento do PIB: 2,1%, no fechamento de 2018, 1,9% em 2019 e 1,7% em 2020.
 
O PIB japonês, por sua vez, deverá crescer apenas 1,3% em 2019, o que será insuficiente para fazer face à sua colossal dívida pública e privada, que já equivale a mais de 200% do PIB.   
 
Argumentam os defensores do capitalismo que tais perspectivas de desaceleração econômica se devem aos riscos crescentes e interconectados, tanto no cenário doméstico quanto no externo. 
 
Mas, até aqui citamos apenas ameaças que pesam sobre as grandes locomotivas da economia planetária. Quando a questão se transfere para a periferia mundial, o quadro é bem mais grave, tendo em vista a pobreza reinante e renitente. 
 
Segundo a Cepal – Comissão Econômica para a América Latina, nosso continente deverá registrar, em 2018, um pífio crescimento de 1,3% no seu PIB, abaixo do 1,6% do ano anterior. As projeções são também decepcionantes para a grande Ásia (com exceção da Índia) e a África. 

As equivocadas análises superficiais das causas dos números negativos do crescimento da economia mundial atêm-se sempre a fatores políticos incidentes sobre a realidade, como se se pudesse manter a lógica capitalista viabilizada a partir de administradores públicos e executivos competentes, probos e sensíveis.

É que os analistas dos organismos econômicos internacionais, todos eles ligados à defesa da dinâmica do capital, jamais podem dizer o que agora afirmamos: 
 
A queda dos indicadores econômicos mundiais se deve a fatores econômicos inerentes às contradições irremovíveis da dinâmica da reprodução do capital (e não a fatores meramente políticos), os quais provocam a queda da massa global de extração da mais-valia e da massa global de valor válido produzido, problema que somente poderá ser resolvido com a sua superação e consequente substituição por outro modo de produção social.
 
Essa queda da economia mundial encontra explicação naquilo que Karl Marx vaticinou a partir dos seus estudos sobre a crítica da economia política, concluindo que o capitalismo já vivia à sua época a promoção da miséria social de grandes segmentos populacionais em contraponto à riqueza concentrada em bolsões de capitalização.

E que as viveria ainda mais no curso do seu desenvolvimento, graças às contradições básicas irremediáveis que se explicitariam com maior evidência, dentre as quais destacamos as seguintes: 
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— ao mesmo tempo em que desenvolve a produtividade das forças de produção com o uso tecnológico cada vez mais avançado da tecnologia aplicada à produção de mercadorias (hoje com o uso da microeletrônica, então inexistente), reduz a um mínimo o valor das mercadorias, o que implica a redução da massa global de valor e de extração de mais-valia;
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— dispensa, em sua maior parte, o trabalho abstrato, único produtor de valor, o que provoca o desemprego estrutural e a eliminação completa da capacidade de compra de mercadorias por segmentos populacionais excluídos do processo de produção e redução da capacidade aquisitiva de outros pelos baixos salários (a escravidão direta, dos negros africanos e servos europeus, foi abolida para proporcionar salários e a existência de mais compradores de mercadorias), daí resultando uma redução da produção e venda de mercadorias ao nível global.
 
Basta uma análise superficial da composição do PIB dos países desenvolvidos, relativamente aos setores primário (agricultura e agronegócio, de baixíssima importância para a economia mundial) e secundário (indústria), únicos que contabilizam valor novo válido para a economia, para se inferir a inconsistência dos números fictícios, baseados em moeda sem valor, que compõem e flutuam nas suas economias artificiais.

[Quanto ao setor terciário, de serviços, ele apenas troca de mãos valor já existente, e que representa maior parte do PIB.]
 
É evidente que estamos todos vivendo sob a égide de um modo de relação social que se alicerça em fundamentos inconsistentes; então, tal qual um castelo de cartas quando submetido ao vento forte, o capitalismo está prestes a ruir. 
 
A nós cabe evitarmos as graves consequências bélicas para a humanidade e toda a vida planetária que podem advir da transição necessária para um novo modo de produção social.  (por Dalton Rosado) 
(continua)
 
A VISÃO DEMOCRÁTICA (POR CELSO LUNGARETTI )