Por que é tão difícil dizer que temos medo

20 de outubro de 2018 264
Dias antes da operação do patriarca, a família se reuniu em volta da mesa. A troca de insultos era o prato do dia.
 
Política. Economia. Criação dos filhos. Tudo virou motivo de brigas e troca de farpas. Nem as crianças escapavam. Todos estavam com os nervos à flor da pele.
 
Mas ninguém falava o que estava na cara e era evidente para qualquer um: todos estavam com medo.
 
Medo de perder o pai, o avô, o marido, o sogro. A operação seria simples, mas seria uma operação mesmo assim. Anestesia geral, alguns dias no hospital, o constante risco de complicações.
 
Ah, como seria melhor desabafar do que brigar.
 
E foi quando pensou: por que brigamos e ofendemos quem a gente ama quando seria muito mais fácil admitir nossa fragilidade? Tão mais simples admitir o óbvio, mas aquela família insistia em brigar em vez de falar a verdade.
 
Sim, expor nossa vulnerabilidade não é o caminho mais natural. Assim como não é o melhor preencher o tempo com discussões acaloradas e brigas inúteis.
 
Então, para aquela família que estava com os nervos à flor da pele, ela só queria dizer uma coisa: não tenham receio de ter medo. Medo de perder alguém. Medo do adoecer. Medo de não saber prever o futuro. Medo de ver a vida mudar de uma hora para outro.
 
De verdade, queria que eles entendessem que só nos sentimos assim porque somos como todo mundo. Somos humanos.
 
E que é muito melhor colocar o dedo na ferida do que brigar por futilidades.