PEDAÇO POR PEDAÇO, ESTÃO MONTANDO O QUEBRA-CABEÇAS. QUE CADA VEZ SE PARECE MAIS COM O MONSTRO DE FRANKENSTEIN...

6 de novembro de 2018 594
A boa notícia é que a presença de Sérgio Moro como superministro da Justiça sinaliza a intenção do novo governo de tentar ser mesmo governo e não oaquecimento para a instalação de uma ditadura.
 
Afinal, trata-se do quadro com melhores perspectivas futuras que a direita brasileira possui neste instante. 
 
Então, nada indica que o atrairiam para um projeto golpista ao qual não tem nenhuma contribuição relevante a oferecer e que, ademais, não convém aos planos dele próprio, Moro, cujas ambições presidenciais são facilmente perceptíveis. Correriam o risco de torná-lo um inimigo, e dos mais perigosos.
 
Pois não ficaria bem para quem se diz inspirado pelo exemplo do heroico juiz italiano Giovanni Falcone, o das mãos limpas, ensanguentar as suas. Já basta a convivência a que será obrigado, com certos aliados do novo governo cujos nomes frequentemente aparecem nas notícias sobre abusos contra trabalhadores rurais, crimes ecológicos, exploração da fé y otras cositas más...
 
Isto quer dizer que já podemos baixar a guarda? Nem tanto. Agora se tornou razoável supormos que não haverá uma Operação Jacarta (*) sendo desencadeada logo no dia da posse. Mas, a própria heterogeneidade das visões ideológicas e/ou ambições fisiológicas dos convidados para oministério saco de gatos nos permite antever muitas disputas internas, muitas lambanças externas e grandes dificuldades para a viabilização das medidas austericidas e regressivas que estão sendo tramadas.
Sangue, o juiz Falcone só teve nas mãos o dele próprio. 

E a pergunta que não quer calar é: o que fará um governo com DNA tão autoritário se não conseguir superar a oposição da sociedade civil, do Judiciário, da imprensa e, enfim, da componente civilizada da coletividade brasileira? 
 
Pois tudo leva a crer que tal oposição crescerá à medida que: 
 
  • o esvaziamento do partido que vem perdendo todas as batalhas desde 2016 for privando o governo Bolsonaro de um de seus principais apelos populares, o antipetismo; e 
  • que a imposição a ferro e fogo do neoliberalismo pulverizará o outro apelo (a lorota de ser anti-sistema), evidenciando que o pretenso outsider, longe de não estar contaminado pelo stablishment político podre e poder servir de alternativa a ele, apenas representa o que de mais retrógrado a lesivo aos interesses dos explorados nele existia (não se é afilhado político do Paulo Maluf fortuitamente...).
Então, recomendo aos leitores que mantenham acessível  o meu Manual de Sobrevivência em Terreno Minado, pois ele poderá ser muito útil adiante. 
 
E, infelizmente, o aumento da violência política nos confins do Brasil e mesmo na periferia das grandes cidades, constatado ao longo da última campanha eleitoral, sugere que, onde há menor visibilidade, os alvos da campanha de ódio por diferenças comportamentais  correrão perigo imediato, sim! 
O ódio contamina toda a sociedade


Quando se ouve num estádio de futebol um grito de guerra comocruzeirense, toma cuidado, o Bolsonaro vai matar viado!, o mínimo bom senso manda considerarmos a possibilidade de surgirem consequências.  
 
Como se dizia no início da ditadura militar, era possível exercer um relativo controle das forças repressivas que agiam sob as ordens do Estado, mas existiam também os inspetores de quarteirão que, de um momento para o outro, passaram a crer que poderiam fazer o que bem entendessem sem sofrerem punição (a partir do AI-5, a própria repressão oficial ganhou a certeza da impunidade).

Mas, mesmo em meio à intolerância ditatorial, ainda havia alguns bombeiros acidentais empenhando-se em conter a sanha dos incendiários, como o ditador Ernesto Geisel, que garantiu a realização da missa de 7º dia do Vladimir Herzog sem repressão nem atentados dos grupos paramilitares, apenas recomendando aos organizadores: "Segurem seus radicais, que eu seguro os meus".

O desarmamento dos espíritos deveria ser um dos principais ingredientes do discurso de posse. Mas, até agora, nada indica que o será.
 
 
 
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"Segurem seus radicais, que eu seguro os meus"
* em 1977, quando Geisel executava sua abertura lenta, gradual e segura, a linha dura militar andou tramando o extermínio prévio de cerca de 2 mil esquerdistas destacados, para que eles não participassem das etapas seguintes da vida nacional. 
 
Mas, cientificado, Geisel e seu escudeiro Hugo de Abreu exoneraram o comandante do 2º Exército Ednardo D'Ávila Mello (sob o pretexto que desacatara a ordem presidencial de evitar que algum outro preso político morresse dentro do DOI-Codi nos meses subsequentes ao assassinato de Vladimir Herzog, que provocou comoção nacional e internacional) e, mais adiante, o ministro do Exército Sylvio Frota. 
 
E a tal Operação Jacarta saiu de cogitação, pois seus homens-chave haviam sido anulados. O nome, por sinal, era uma alusão ao assassinato em massa de esquerdistas da Indonésia em 1965/66, que vitimou mais de meio milhão de pessoas.    
 
A VISÃO DEMOCRÁTICA (POR CELSO LUNGARETTI )