OAB e Sindicato dos Jornalistas se manifestam contra apresentador da Rede TV de Rondônia que associou estupro ao uso de roupas
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Rondônia (Sinjor), emitiu uma nota de solidariedade “ao movimento de mulheres jornalistas, iniciado em redes sociais e sites de notícias, contra a postura de um apresentador de TV que afirmou durante comentário ao vivo, que roupas curtas usadas por mulheres estimularia o crescimento de estupros”.
O Sinjor reforça que “a fala é uma afronta a todas as mulheres e mostra um retrocesso imenso de uma postura machista que a maioria da população acreditava ter sido banida da televisão brasileira. A revolta das mulheres é justa. Não se pode fechar os olhos para esse tipo de comportamento, em especial no jornalismo” diz o texto.
Na nota o sindicato diz “que não compactua com esse tipo de jornalismo nocivo, perverso e desumano que, em busca de audiência, fere princípios básicos em qualquer sociedade como o respeito, dignidade, cidadania e criatividade”.
“O Sindicato não poderia deixar de se posicionar favorável ao movimento que exige, ao menos, uma retratação pública do apresentador”.
Nota do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Rondônia (Sinjor)
A Ordem dos Advogados de Rondônia também se pronunciou. “A violência sexual contra mulher é inadmissível. A OAB/RO entende que é dever de todos, principalmente de formadores de opinião, defender o enfrentamento à violência contra a mulher. Dessa forma, os comentários do apresentador devem ser devidamente criticados e repudiados por todas as pessoas e organizações que se preocupam com a efetivação dos direitos humanos das mulheres.”
O presidente Márcio Nogueira defende que culpar as mulheres pela violência machista é “seguir na direção contrária a todos os ditames éticos que guiam a busca pela efetivação de uma sociedade igualitária, democrática e humana”.
ENTENDA O CASO – Na última segunda-feira, 31, o apresentador Wilson Rodrigues, conhecido como ‘Pica Pau’, do programa Plantão de Polícia, Rede TV Rondônia de Ariquemes, fez declarações sexistas e misóginas, ao vivo, durante exibição na televisão.
“Vamos com parar com esse negócio de Hashtag mexeu com uma, mexeu com todas. Para de palhaçada”.
O apresentador comentava sobre uma operação policial que acabou com uma festa clandestina que envolvia menores e bebidas e respondia a uma internauta como evitar um estupro.
Em tom debochado, irresponsável e preconceituoso, o apresentador responsabilizou a mulher pelo estupro.
“Tem umas menininhas de 13, 14 aninhos, que se ‘maqueia’ (sic) e veste umas roupas muito ‘comportadas’. Não tem o short jeans. Elas não usam o short. Usam o cós do short. Ficam parecidas rapariga, ‘moça’. Aí vão pra esses lugar (sic), dessas festinhas, enche (sic) a cara e é estuprada por um monte de moleques.”
Absurdamente Rodrigues justifica a vioência sexual contra a mulher. “Moleque é isso! Tá na flor da juventude, da idade.”
O movimento de mulheres em defesa do jornalismo criado na internet cobrou providências da sociedade e responsabilização judicial do apresentador.
“Cobramos um posicionamento do Sindicato dos Jornalistas de Rondônia, Ordem dos Advogados do Brasil, seccional de RO, Defensoria Pública, promotoria dos Direitos Humanos do Ministério Público, da Câmara de Vereadores de Ariquemes e Porto Velho, da Assembleia Legislativa, das prefeituras dos dois municípios mencionados e do Governo do Estado“.
“Convocamos todas as mulheres de Rondônia, inclusive as primeiras-damas do estado e da Capital, para que fortaleçam o combate a todo tipo de violência contra pessoas do sexo feminino. É preciso que as mulheres nas diversas redações de veículos de comunicação do estado se unam contra qualquer tipo de agressão às mulheres.”
O OUTRO LADO – O apresentador chamou o caso nas suas redes sociais de “mimimi” e repetiu pela segunda vez o teor da sua declaração misógina e sexista.
“E aí eu disse que meninas menores de idade, nas vestimentas curtas, uma maquiagem parecendo ‘puu’. Que nessas festas regadas a bebida, álcool e droga poderiam ser estupradas, mortas. Ou o pai e a mãe receber uma ligação: ‘dona Maria, vem aqui na delegacia 5h da manhã que tua filha tava numa festinha, ou, dona Maria, tua filha foi nessa festa, chácara tal, bebeu droga, fumou demais e três moleques estupraram ela’”.
Wilson Rodrigues disse que tudo não passava de “lacração” das mulheres jornalistas que tentavam lhe responsabilizar judicialmente. Exibiu uma notificação da direção da emissora. E ao final do vídeo solta uma gargalhada confirmando que continua impune, “eu continuo no programa”.
Thales Augusto, diretor comercial da Rede TV, disse por meio de notificação que a emissora “repudia a expressão machista do apresentador ‘ Pica-Pau’, pois não condiz com a linha editorial adotada”.
Afirmou ainda que o apresentador tem total responsabilidade sobre o programa. “É de responsabilidade do mesmo a coordenação e supervisão da programação local, bem como pelo conteúdo dos programas que irão ao ar, inclusive se responsabilizando civil e criminalmente no caso de conteúdo aleatório à honra, bem como à dignidade das pessoas envolvidas, ou, atos praticados contrário às leis vigentes”.
O diretor pede a imediata retratação por parte do apresentador. Mas no vídeo publicado, Wilson Rodrigues não pede desculpas. Apenas zomba da iniciativa das mulheres jornalistas. Apresentadores de programas policiais no Brasil são insistentes em ofender pessoas, a sociedade e cometer crimes de preconceito, por exemplo.
Enquanto isso, as mulheres jornalistas em Porto Velho registraram Boletim de Ocorrência policial e vão levar o caso à justiça.
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PAINEL POLITICO (ALAN ALEX)
Alan Alex Benvindo de Carvalho, é jornalista brasileiro, atuou profissionalmente na Rádio Clube Cidade FM, Rede Rondovisão, Rede Record, TV Allamanda e SBT. Trabalhou como assessor de imprensa na SEDUC/RO foi reporte do Diário da Amazônia e Folha de Rondônia é atual editor do site www.painelpolitico.com. É escritor e roteirista de Programas de Rádio e Televisão. .