Marcos Rocha não conseguiu se transformar em liderança, diz cientista político
O ano de 2022 deve ficar registrado com o período de maior disputa eleitoral de todos os tempos. Essas eleições gerais definirão os próximos nomes para presidente do País e governadores. Ainda, serão eleitos os integrantes das Assembleias Legislativas, assim como do Congresso Nacional, incluindo: um terço dos 81 membros do Senado, sendo que o restante já foi definido em 2018; e todos os 513 membros da Câmara de Deputados.
Em Rondônia mais de 1.190.505 eleitores aptos a votar vão às urnas, segundo dados disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Esse número é 2,25% maior que nas últimas eleições municipais em 2016, quando o estado tinha 1.164.265 eleitores.
O cenário eleitoral no estado é incerto e duvidoso. O PAINEL POLÍTICO convidou dois cientistas políticos para ajudar a entender a conjuntura eleitoral.
Gilmar dos Santos Nascimento é cientista político graduado em história, mestre em sociologia e doutor em ciência política.
Ele analisa que dos atuais nomes que podem disputar eleições para o governo de Rondônia, todos são “fiéis escudeiros” apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. É o caso de Marcos Rocha (PL) que tentará reeleição, e do senador federal Marcos Rogério (PL), principal defensor de Bolsonaro na CPI da Pandemia.
Outro que é especulado para disputar cadeira no Palácio Rio Madeira é Ivo Cassol, ex-senador pelo estado, que vive um imbróglio jurídico. No radar do cientista de possíveis candidatos também há o ex-governador, Confúcio Moura (MDB). Mas não aparece o atual prefeito de Porto Velho, Hildon Chaves (PSDB) e o deputado federal Léo Moraes (Podemos).
“Os nomes que aparecem na mídia não vão ter um discurso tão diferente. Eles têm um perfil político muito semelhante. Não tem discurso de mudanças ou mesmo de transformação que seria algo mais forte. O eleitor vai ter muito aquela questão de votar mais pela aproximação. E nisso o governo (atual) tem vantagens porque ele tem a estrutura do estado que está trabalhando em várias frentes. Tentando mostrar para o povo rondoniense a presença e atuação do estado nos municípios. E você tem por outro lado candidatos que têm perfil do mesmo jeito de grande executor, realizador que é o caso do ex-senador Ivo Cassol, considerado um ‘trator’ no estado em termos de trabalho. Não vejo um quadro que possa polarizar, que possa levar o eleitor a definir seu voto com convicção ideológica não”, disse Gilmar.
Na visão do cientista político é ruim para o eleitorado de Rondônia, não ter nenhum adversário efetivamente de oposição.
“Não existe em Rondônia uma candidatura que tenha ganhado força, que tenha já se contrapondo ao atual governo. Tem pessoas, políticos com partido e com mandato se colocando como candidatos. E não vai ter um discurso (de oposição)”.
Segundo Gilmar Santos, mesmo com toda estrutura de poder o governador não conseguiu demonstrar confiança.
“O governador Marcos Rocha, ele não conseguiu se transformar em uma liderança política estadual. Ele é um gestor que tem logicamente o poder de ser chefe do executivo (estadual). Mas você não percebe que ele ganhou musculatura em relação a ser uma liderança política”.
O PAINEL POLÍTICO também entrevistou o Afonso Maria das Chagas. Ele é professor dos departamentos de Ciências Sociais (DACS) e Ciência Jurídica (DCJ) da Unir (Universidade Federal de Rondônia).
É graduado em direito, mestrado em direito público e possui doutorado em ciência política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Afonso estuda e pesquisa a organização social e política socioterritorial em Rondônia. O cientista político entende que haverá uma disputa religiosa de eleitores entre os supostos principais candidatos ao governo.
“Na disputa entre os acólitos do Presidente da República (Marcos Rocha e Marcos Rogério), desta disputa de ‘Marcos’, um sobreviverá. É possível antever que será o fisiologismo quem definirá o ‘escolhido’, sem que, no entanto, isso venha a figurar como possibilidade efetiva. Há uma disputa religiosa entre ambos, no setor evangélico. E enfim, se se confirmar uma tendência de mudança de rumos políticos, a sombra do ator presidencial não será suficiente para transformar-se em apoio e voto, para qualquer um dos dois.”
Afonso Maria das Chagas acredita que velhos nomes da política também devem aparecer buscando assento no Palácio do Governo e vislumbra a ideia de mudanças no legislativo.
“Em um Estado, onde o vetor de influência verifica-se na influência municipalista, como têm sido, Hildon Chaves aparece como nome forte para o cargo, assim, como em grau, um pouco menor, Confúcio Moura. O Eleitor em Rondônia observa e se afeta muito mais, pelos resultados (positivos ou negativos), da liderança do político enquanto mandatário municipal. Têm sido esta uma referência ao eleitor. Consta-se ainda, é claro, para o pleito de 2022, o retorno de ‘velhos atores políticos’ à cena eleitoral. Seja disputando cargos em âmbito legislativo, seja apoiando nomes de legenda, seja ambicionando a cadeira no Palácio Rio Madeira. Aqui, especificamente, fala-se do retorno da ‘família Raupp’ e do ex-governador Ivo Cassol, candidatos não só aos cargos, mas à reabilitação política. É claro, que algumas coisas novas aparecerão neste cenário. Uma das coisas que se espera, aliás, por necessidade política em Rondônia, é uma mudança significativa no campo legislativo”.
O cientista político alerta para a possibilidade de se repetir a indiferença do eleitorado às urnas da última eleição.
“Há uma análise sobre as tendências dos eleitores em Rondônia, de que a maioria deles colocam em segundo plano a questão ética na hora de votar. Em grande parte, isso ainda tem correspondência, sobretudo se adicionarmos a isso os sinais de indiferença do eleitorado. Nas últimas eleições, segundo turno de 2018, contabilizados os votos brancos, nulos e as abstenções, chegou próximo a 35%. Em grande parte, isso reflete que o quadro de indiferença do eleitorado é mais forte que o de mobilização”.
Ele também se mostra preocupado com a compra do voto e de como isso pode impactar de maneira negativa na democracia.
“Outra questão crucial, é a de que as prioridades materiais, ou demandas materiais, têm um apelo maior que a discussão conjuntural política. Se tomar isso em conta, ao lado da possibilidade em que o período eleitoral se torne um ‘tempo conveniente’ para resolver ou responder a demandas econômicas individuais ou locais. E aqui, o mercantilismo eleitoral, ainda que coibido pela legislação, volte a funcionar. A compra ou troca de votos, substitui em larga escala, os critérios democráticos de escolha de representantes, por vezes velada, por outras explicitamente. A ser considerado, ainda, que em Rondônia, uma das características do período eleitoral é que a percepção do voto é mais local que estadual, ou seja, vincula-se muito à força política dos agentes locais e dos devidos enquadramentos feitos. Como serão eleições gerais, há ainda a possibilidade de que, o sucesso ou o fracasso dos alinhamentos eleitorais, onde se vinculam candidaturas locais à candidatura presidencial, poderá influenciar de forma positiva ou negativa”.
E finaliza. “Há um consenso, fundado em interpretações de caráter sociológico, de que o perfil do eleitor rondoniense é ainda, bastante conservador, e embora isso possa ou não reverter aspectos em cargos majoritários, será significativo na escolha de parlamentares. Tal tendência ainda reflete um grau de ‘anemia política’, quando a preocupação com os objetivos públicos ou republicanos dá lugar à lógica do clientelismo eleitoral, a ser alimentado de forma intensiva pela opinião ou por ‘consensos fabricados’, por meio de redes sociais”.
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PAINEL POLITICO (ALAN ALEX)
Alan Alex Benvindo de Carvalho, é jornalista brasileiro, atuou profissionalmente na Rádio Clube Cidade FM, Rede Rondovisão, Rede Record, TV Allamanda e SBT. Trabalhou como assessor de imprensa na SEDUC/RO foi reporte do Diário da Amazônia e Folha de Rondônia é atual editor do site www.painelpolitico.com. É escritor e roteirista de Programas de Rádio e Televisão. .