Jornalista reencontra mãe 30 anos após ser deixado em caixa de papelão na frente de uma casa

25 de dezembro de 2020 305

De Larissa Pereira e Diogo Almeida do G1 PB com TV Cabo Branco.

“Você sabe quem está ligando, não é?”. Estas foram as primeiras palavras que o jornalista e professor universitário paraibano Rodolpho Raphael disse para a mãe biológica dele, Edileuza Fernandes, em uma videoconferência feita exatamente 30 anos depois que ela o deixou para ser adotado em uma caixa de papelão, junto a uma carta, em frente a uma casa na cidade de Esperança, Agreste paraibano.

Rodolpho cresceu sabendo que foi adotado e sempre teve carinho pela mãe biológica, mesmo sem tê-la conhecido. Ele foi criado pelos pais adotivos, Antônio Rafael e Maria do Carmo, e somente trinta anos depois resolveu buscar a família biológica, após postar nas redes sociais uma foto de Edileuza.

Para entender como o reencontro entre mãe e filho, que o jornalista considera um presente de Natal, foi possível, é preciso voltar para a madrugada da quarta-feira 19 de dezembro de 1990, dia em que ele foi deixado na casa dos pais adotivos.

 

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Segundo Antônio Rafael, pai adotivo de Rodolpho, era por volta de 0h20 quando ele, a esposa e a mãe dele foram acordados por batidas na porta de casa e uma pessoa chamando pelos dois, insistindo para que acordassem. O chamado foi seguido do choro de um bebê.

“A minha esposa acolheu ele muito bem acolhido e disse: ‘mas meu filho, esse menino desse jeito, em uma caixinha de papelão… vamos abraçar esse menino e vamos educar esse menino. Ele vai ser uma grande pessoa”, conta seu Antônio.

Junto ao bebê, dentro da caixa, estava uma carta: “Boa noite. Estou invadindo a sua casa para lhe pedir que me acolha. Não tenho pai nem tenho mãe e por isso escolho vocês para serem os meus. Pois eu sei que vocês são carentes de carinho e eu também sou. Não escolhi dia e nem mês para nascer. Por força do destino, nasci faltando oito dias para o Natal e escolhi logo vocês para este presente maravilhoso”, diz o texto da carta.

 

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“Nisso eu já fui ligando para minha mãe biológica, em vídeo. Eu não mandei nem um oi e já fui ligando. Ela atendeu surpresa, ficou em choque e eu disse: ‘sabe quem está ligando? Porque estou ligando?’ e ela não disse uma palavra. Só chorou descontroladamente e contou a história, o que ela passou, e agradecendo a Deus por depois de 30 anos ter me encontrado”, explica Rodolpho.

Dona Edileuza Fernandes contou em entrevista para a TV Cabo Branco que o que mais queria ouvir era o filho a chamando de mãe. Ela revelou também que teve que dar o próprio filho contra a vontade dela.

“Ela teve um relacionamento de alguns meses com um rapaz de Esperança. Ele era ajudante de uma empresa de caminhões e também alcoólatra e extremamente agressivo. Chegou em uma situação em que ela teve que sair de casa e, quando voltou para a casa dos pais, o meu avô, pai dela, vaqueiro de um sítio extremamente rígido, disse que ‘filha que engravida sem marido, sozinha, só tem duas opções, ou aborta ou dá a criança. Ela disse que ia levar a gravidez até o final”, conta Rodolpho.

Dona Edileuza disse que nestes 30 anos nunca deixou de procurar o filho, mas as pistas não ajudavam.