"Faz-me confusão que não haja um programa de música em horário nobre"

17 de novembro de 2017 683

Éjá no próximo sábado que Teresa Salgueiro sobe ao palco de uma das mais emblemáticas salas da capital, a Aula Magna, para, num cenário envolvente e intimista, apresentar o 'Horizonte e a Memória'. Mais do que um breviário de canções representativas da tradição musical portuguesa, este espetáculo pretende levar ao público uma musicalidade distinta, permitindo-lhe viajar entre os temas do álbum mais recente da cantora e pela reminiscência de artistas intemporais como Amália Rodrigues, Zeca Afonso e Carlos Paredes. 

Há três décadas a 'viajar' pelo mundo com a música portuguesa na 'bagagem', Teresa Salgueiro, ex-vocalista dos Madredeus, decidiu, em 2011, embarcar numa carreira a solo, rumo a um reportório de originais, assumindo não só a direção musical como a escrita das letras.

'O Mistério' e o 'Horizonte' - os dois discos da sua autoria - são, por isso, obras que lhe saíram da 'alma'; letras que fluíram quando colocou o coração na ponta dos dedos. Em entrevista ao Notícias ao Minuto, a autora abre as 'portas' deste universo de criação musical, tecendo também um retrato das duas décadas em que deu voz aos Madredeus, com mais de cinco milhões de álbuns vendidos em todo o mundo. 

Depois de 20 anos a dar voz aos Madredeus, eis que em 2011 decide prosseguir viagem rumo a um álbum de originais, assumindo a direção musical e a escrita das letras. Esta iniciativa foi, sobretudo, um desafio?

A ideia de fazer um reportório original surge pouco depois da minha saída dos Madredeus. Foi então que pensei que não poderia desistir da música. Apesar de entretanto ter continuado a colaborar com alguns artistas, mantive a ideia de gravar um tributo à riqueza, à variedade e à antiguidade da nossa cultura. Comecei, então, por gravar um disco – ‘Matriz’ – em colaboração com outro artista. E depois fui desafiada por um músico com quem ainda trabalho, Rui Lobato, para integrar um grupo de composição. Fui ao primeiro ensaio e percebi que tinha essa capacidade porque surgiam ideias de melodias. Porém, não foi fácil encontrar pessoas com a mesma visão da música, com a mesma disponibilidade e com todo o tempo que é necessário para editar um álbum. Por isso, durante alguns anos fui colaborando com outros artistas, tais como os ‘Solis String Quartet’ - um quarteto de cordas napolitano – no projeto ‘Canti Naviganti’. Tratava-se de um projeto musical com arranjo de uma série de canções italianas e, a certa altura, achei que seria interessante integrar temas portugueses.