DITADURAS E DEMOCRACIAS: AMBAS SÃO BURGUESAS.
Nunca é demais estabelecermos as diferenças cosméticas de dois modelos políticos (ditaduras e democracias burguesas) que, para muitos, parecem ser os únicos possíveis. Trata-se, contudo, de um engodo colossal que vem sendo introjetado no inconsciente coletivo através dos tempos.
Não são nem únicos, nem antagônicos entre si, pois têm uma mesma identidade básica que se constitui como negatividade social intrínseca: a relação social sob a forma-valor. Contudo, a identidade de conteúdo de relação social de base permanece imperceptível como se fosse invisível à visão coletiva.
Foi o que ocorreu, p. ex., nas últimas eleições altamente polarizadas. Quem rejeitasse qualquer das opções colocadas eleitoralmente era tido pela totalidade dos adversários como contribuinte do sucesso do rival. Uma camisa de força ideológica-eleitoral.
Pela diferença apenas de forma, esquece-se da identidade de conteúdo fundamental presente nas duas opções ofertados ao eleitor: o mesmo modo de produção e apropriação da riqueza socialmente produzida. É a questão de forma prevalecendo sobre o conteúdo.
Como nos interrogatórios policiais, os ditadores barbarizam
e os presidentes simulam compaixão. São complementares.
As ditaduras e as democracias burguesas são espécies de formas políticas da relação social do gênero capitalismo (este último sendo o conteúdo). As diferenças existem apenas no que tange à forma de acesso ao poder e de administração do Estado sempre submisso ao capital:
— as ditaduras são fechadas num círculo de poder tutelado pela força das armas, que escolhe quem se perpetua ou é sucedido como governante ditatorial;
— as democracias são reguladas pelos filtros políticos das instituições com governantes ciclicamente eleitos pelo voto popular, o qual, no entanto, é objeto de manipulação econômica e ideológica, mediante, sobretudo, a lavagem cerebral da mídia burguesa e outros instrumentos da moderna robótica da informação;
— na ditadura, o governante manda e seus capachos obedecem, mas todos se subjugam às ordens do capital;
— na democracia burguesa, um manda no executivo que divide seu poder com o legislativo e o judiciário, mas todos se subjugam ao poder econômico.
Ambas as formas políticas têm, portanto, um ponto em comum: prostram-se aos pressupostos do capitalismo, que manda nas duas e lhes dá ordens ditatoriais.
Enfim, a forma política é dependente da forma econômica, a qual, por sua vez, é ditada pelo totalitarismo de uma lógica escravista e segregacionista por excelência.
Podem-se estabelecer diferenciações meramente administrativas entre as duas formas no trato com a população, de vez que:
— nas ditaduras burguesas a corrupção, o autoritarismo, a prepotência, o corporativismo opressor, o clientelismo, o medo submisso, as perseguições, e a injustiça são mais presentes por conta do mutismo imposto aos subjugados e graças à impunidade de que os poderosos desfrutam;
— nas democracias burguesas imperam todos os males acima referidos, só que suavizados pela possibilidade de exposição mais aberta de todas estas mazelas e por um certo temor da insatisfação popular, sempre mitigado por promessas de melhoras sociais que nunca chegam.
Os democratas burgueses sentem-se sensíveis aos apelos populares e se frustram com sua impotência para solucionarem os problemas sociais, por conta da incompatibilidade dos seus desejos com a lógica vazia de sentido humano do mecanismo de priorização do valor ao qual são submetidos.
Os ditatoriais, adeptos da disciplina e obediência hierárquica governamental como requisitos para o progresso, agudizam o sofrimento social calando na porrada os que contestarem as suas orientações, que, sob as rédeas do capital, terminam sempre por evidenciarem-se injustas e desumanas.
É que, na base destes conceitos políticos. vige um processo de exclusão social ditado pela forma-valor, expressa no dinheiro e nas mercadorias. Trata-se do mecanismo pela qual se acumula a riqueza empresarial capitalista, de modo autofágico e excludente dos que produzem tal riqueza.
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O desgaste destes dois modelos perante a população é inevitável, justamente porque eles dão sustentação política a uma base de relação social estabelecida sob uma equação matemática irresolúvel (o valor é uma mensuração numérica abstrata que expressa um quantitativo de tempo de trabalho abstrato com valor médio ditado pela economia de produção de mercadorias que se digladiam entre si de modo autodestrutivo) e em marcha acelerada para a inviabilização definitiva.
Neste sentido, a discussão sobre superioridade de um ou outro modelo passa longe da questão principal: como superarmos o modo de relação social capitalista e estabelecermos outro que aproveite devidamente o saber tecnológico adquirido pela humanidade, colocando-o a serviço de emancipação social dos seres humanos.
Chega de vermos trabalhadores e patrões se engalfinhando numa luta inglória pelo dinheiro, quando já estão presentes as condições para se proporcionar a todos os seres humanos uma existência gratificante!!
Até quando continuaremos a olhar para o pêndulo do relógio que oscila de um lado para o outro sem sair do lugar??? (por Dalton Rosado)
Posted by celsolungaretti
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