Coronavírus: Estado e os municípios se preparam para a ameaça invisível

28 de fevereiro de 2020 211

Foi confirmado, nesta semana o primeiro caso Covid-19, ou novo coronavírus, no Brasil. O paciente, de 61 anos, que mora em São Paulo, fez viagem para a Itália entre 9 e 21 de fevereiro. Dois testes deram positivo para infecção e a família está em observação. No Espírito Santo, o sinal de alerta está ligado. Um caso suspeito foi descartado durante a semana. O homem, de 54 anos, chegou da Itália no último domingo com sintomas semelhantes aos do Covid-19. O caso foi descartado após os exames darem positivo para Influenza A.

 

Na quarta-feira, mais uma suspeita, em Aracruz. Um capixaba de 25 anos, que viajou para Singapura recentemente, procurou atendimento médico após apresentar problemas respiratórios. O resultado dos exames ainda não foi divulgado.

Diante da ameaça invisível, os governos buscam formas de bloqueio. Quando alguma pessoa busca atendimento médico com sintomas semelhantes aos do coronavírus (febre, dores de garganta, tosse seca) e tem histórico de viagens para países com casos da doença, os serviços de saúde devem seguir protocolos definidos pelo Ministério da Saúde.

Os municípios também se embasam nessas diretrizes para o atendimento aos pacientes suspeitos. Segundo o coordenador do Centro de Operações Estratégicas (COE) da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Luiz Carlos Reblin, casos suspeitos devem ser encaminhados para o Hospital Dr. Jayme dos Santos Neves, na Serra, e ao Hospital Infantil, em Vitória. As amostras coletadas para exames devem ser encaminhadas para o laboratório da Fiocruz, no Rio de Janeiro.

Em relação ao atendimento a ser realizado nos municípios, que poderá ser a porta de entrada de casos suspeitos, todos os profissionais já estão sendo orientados e capacitados para identificação da infecção. Os municípios também estão orientados a realizarem a comunicação obrigatória por meio do FormSUS, para que haja a notificação imediata dos possíveis casos.

O que dizem os municípios

Em nota, a Secretaria de Saúde de Cachoeiro de Itapemirim informou que todas as diretrizes usadas são as repassadas pela Sesa. “Nesta sexta-feira haverá uma reunião da Superintendência Regional de Saúde de Cachoeiro com representantes dos municípios do Sul do Estado”.

Em Venda Nova do Imigrante, o procedimento se repete. Pacientes que vieram de áreas de risco e apresentam sintomas devem ser monitorados, explica Camila Mauro Zandonadi, coordenadora de Vigilância em Saúde do município.

“Se há um caso suspeito, há todo um procedimento para atender e conduzir esse paciente. Tanto ele quanto os profissionais de saúde devem usar máscaras e, nos casos mais graves, que exigem internação, esses pacientes são encaminhados para os hospitais de referência”, explica.

Há ainda a possiblidade de isolamento domiciliar, relata Camila, quando o caso não exige internação e o paciente pode ficar na própria casa e terá acompanhamento dos profissionais de saúde.

“Há ainda a investigação epidemiológica. Em caso positivo, temos de listar aqueles que tiveram contato próximo ou ficaram em área fechada com esse paciente”, explica.

Ela relata ainda que, no município, já há um aumento de estoque de equipamentos de proteção individuais (EPIs) para uso dos profissionais de saúde. “Estamos nos preparando e já temos planos de contingência e orientação dos profissionais de saúde”, explica.

Exames

O Laboratório Central do Espírito Santo (Lacen/ES) é o responsável pelas análises das amostras enviadas pelas unidades de saúde. No local, as amostras serão analisadas para triagem de outras viroses e, caso os resultados descartem casos de influenza ou outras viroses, o material será enviado para o laboratório de referência nacional (Fiocruz) para confirmação ou descarte do caso.

“Na medida em que ele passe a circular, as unidades básicas e hospitais passam a olhar de forma diferente para o paciente que apresentar sintomas. A partir de agora já temos um olhar diferenciado para pessoas que circularam pela Europa, pois até agora a gente olhava apenas para quem vinha de países asiáticos. Então a gente já amplia o leque de países para definição de casos suspeitos”, destacou o coordenador do Centro de Operações Estratégicas (COE) da Sesa, Luiz Carlos Reblin.

No Norte da Itália, prateleiras vazias

Um capixaba, morador do Vêneto, que pediu para não ser identificado, disse que a situação nas cidades é crítica. Nos supermercados, as prateleiras estão vazias. Os trens pararam de circular. Algumas empresas estão abertas, mas já há previsão de que muitas delas permitam, durante a crise, que os funcionários trabalhem de casa.

 

“Meu serviço ainda não foi afetado porque trabalho ao ar livre. Então, o risco é muito pequeno. Mas há muitos locais fechados, como cinemas, locais com maior aglomeração de pessoas, eventos foram cancelados. Muitos supermercados já estão fechados, até porque as prateleiras estão vazias”, relatou o capixaba, afirmando que fez um estoque de alimentos para um mês.

Há ainda, segundo ele, um certo preconceito com chineses nas ruas das cidades. “Os italianos estão muito apavorados, assustados. Evitam os chineses, quando os encontram”, revela.

Há 15 anos na Itália, capixaba fala da mudança na rotina

Há 15 anos morando na Itália, o capixaba Robson Schumaker afirma que há sim receio por conta do aumento de casos de Covid-19, mas em Verona, onde ele reside com a esposa e o filho, ainda não se observa o mesmo receio que há na Lombardia, por exemplo, região onde os casos de coronavírus são mais numerosos e a situação é mais preocupante.

 

“Nas regiões que estão mais afetadas, há comércios fechados, fábricas também. Por enquanto está tranquilo aqui em Verona. Eles pedem para não ficarmos em locais com muitas pessoas, portanto as escolas fecharam até dia 1º de março e isso pode ser prorrogado. Empresas onde muitos trabalhadores dividem o mesmo espaço também estão fechadas. Não vemos mais tanta gente em bares e restaurantes”, relata.

Segundo ele, alguns jogos de futebol foram cancelados, outros, terão as partidas com portas fechadas, sem a torcida. Há muito cuidado para não expor a população ao vírus, conta. “Se eu falar que estou 100% tranquilo, não é verdade. Tenho um filho pequeno e minha esposa está grávida. Então, a gente fica apreensivo sim. Mas não podemos deixar o medo tomar conta, senão não conseguimos fazer nada”.

O atendimento médico também é diferente na Itália, explica Schumaker. Cada um tem um médico próprio, algo como um médico de família no Brasil. Qualquer problema, é preciso entrar em contato com esse profissional primeiro, para só depois ser encaminhado para outros especialistas.  “Aqui, ligamos para o médico de conduta caso tenhamos algum sintoma. Não vamos ao hospital direto. E eles enviam profissionais para avaliar o caso, quer dizer, se for um caso de coronavírus, não vai afetar as pessoas hospitalizadas, que certamente estão mais debilitadas, então, a doença fica mais contida”.

 

Os reflexos do vírus na economia

A epidemia do novo coronavírus já causa impacto na exportação de mármores e granitos do Ceará. Segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Mármores e Granitos do Ceará (Simagran), Carlos Rubens Alencar, dos 3 mil metros cúbicos contratados pelos chineses, foram embarcados apenas 800 metros cúbicos.

No Espírito Santo, no entanto, ainda não há suspensão de exportações, afirma o vice-presidente do Sindirochas, Eutemar Venturim. “Podem ter ocorrido reduções pontuais, em uma ou outra empresa. Mas ainda não estamos sentindo esse impacto”.

No entanto, já é perceptível, segundo ele, que há reflexos da doença na economia como um todo. “Aumento do dólar, queda nos preços do petróleo. Na prática, num mundo globalizado, o que acontece na China tem impacto direto em todos os países”.

Ele afirma ainda que, algumas fábricas que forneciam o quartzo sintético para o Brasil, que estavam fechadas desde o Ano Novo Chinês, já retornaram ao trabalho na última semana. “Eles certamente conseguirão repor o estoque, especialmente as empresas das áreas menos afetadas. Mas, onde há bloqueios e surto, lá sim, ainda está tudo parado”, afirma.

 

“Meu serviço ainda não foi afetado porque trabalho ao ar livre. Então, o risco é muito pequeno. Mas há muitos locais fechados, como cinemas, locais com maior aglomeração de pessoas, eventos foram cancelados. Muitos supermercados já estão fechados, até porque as prateleiras estão vazias”, relatou o capixaba, afirmando que fez um estoque de alimentos para um mês.

Há ainda, segundo ele, um certo preconceito com chineses nas ruas das cidades. “Os italianos estão muito apavorados, assustados. Evitam os chineses, quando os encontram”, revela.

Há 15 anos na Itália, capixaba fala da mudança na rotina

Há 15 anos morando na Itália, o capixaba Robson Schumaker afirma que há sim receio por conta do aumento de casos de Covid-19, mas em Verona, onde ele reside com a esposa e o filho, ainda não se observa o mesmo receio que há na Lombardia, por exemplo, região onde os casos de coronavírus são mais numerosos e a situação é mais preocupante.