Como a Igreja Católica tenta abafar um caso de crimes sexuais no interior de SP que chegou ao Vaticano

O DCM recebeu a seguinte denúncia de fonte que prefere se manter anônima por questões de segurança:
Nada é mais impactante e aterrorizante aos olhos humanos que os crimes hediondos, em especial os crimes de violência sexual contra crianças e adolescentes.
Um homem se valeu da posição de sacerdote de comunidades carentes de uma cidade do interior paulista (Araras), onde agiu como um lobo sorrateiro com suas presas mais indefesas.
Posteriormente, por conta de operações de abafamento da Diocese de Limeira, o violentador foi transferido para outra cidade (Americana), ao mesmo tempo em que fora promovido para Reitor da Basílica de Santo Antônio de Pádua.
Uma verdadeira teia de malfeitores criou-se para beneficiar-se direta e indiretamente de casos como este garantidos pelo SENTIMENTO DE IMPUNIDADE dominante nos corredores episcopais da Diocese de Limeira.
O bispo Dom Vilson Dias de Oliveira beneficiava-se diretamente dos esquemas que envolviam sua então Diocese, cobrando propinas dos padres com desvio de conduta para manter-se silencioso e cego diante dos fatos que chegavam até ele noticiados por testemunhas e também familiares de vítimas, inclusive depreciando-as em defesa dos seus padres, garantindo a impunidade desses algozes.
Ele renunciou às suas funções episcopais diocesanas e responde a processo canônico que pode culminar com sua expulsão e excomunhão pelo Papa Francisco.
Padre Pedro Leandro Ricardo está temporariamente afastado das funções clericais, após o início das investigações criminais baseadas no depoimento de diversas vítimas, resultando na denúncia crime pelo Ministério Público.
Nesse momento, o processo encontra-se em apreciação pelo juiz Dr. Rafael Pavan de Moraes Filgueira, titular da Vara Criminal da Comarca de Araras, São Paulo, podendo acolher a denúncia ou rejeitá-la.
O momento atual é de elevada apreensão, dado que a Igreja Católica tenta por fim ao processo por uma questão de “danos à sua imagem”, não se importando com a reparação dos danos físicos e psicológicos sofridos pelas vítimas.
Tudo começou no início de 2019, quando um grupo de fiéis católicos procurou a advogada Talitha Camargo em busca de ajuda contra o acobertamento dos crimes sexuais pela Diocese de Limeira que envolviam o padre Pedro Leandro Ricardo, então pároco em Araras.
Diante dos relatos apresentados, Camargo decidiu enviar à Santa Sé uma denúncia que resultou da nomeação de dois delegados canônicos para investigarem os fatos sob sigilo pontifício.
Nomeados pelo Núncio Apostólico no Brasil (uma espécie de embaixador do Vaticano), o monge beneditino dom Hugo Cavalcante e o bispo dom Inácio Müller (que atualmente é responsável pela Arquidiocese de Campinas, São Paulo) ficaram incumbidos das investigações dos fatos levados à Santa Sé contudo, mesmo após a realização das diligências e conclusão do processo investigatório, até o momento desconhece-se o conteúdo e a conclusão a que chegaram.
Com o afastamento de dom Vilson de Oliveira, o Papa Francisco nomeou o Arcebispo de Aparecida dom Orlando Brandes para assumir a Diocese. O arcebispo, por sua vez, realizou um complemento das investigações e o encaminhou também à Santa Sé em dezembro do ano passado.
Pela falta de comunicação da Nunciatura Apostólica Brasileira, Camargo, que é uma das representantes das vítimas, se dirigiu até a Embaixada do Vaticano e fez um protocolo junto à Secretaria do Núncio Brasileiro requerendo a data de envio do procedimento realizado pelos delegados canônicos, além disso, o Papa, em dezembro de 2019 levantou o sigilo pontifício quanto aos crimes de violações sexuais garantindo publicidade às investigações, apesar de tudo, nada lhe fora respondido.

A Igreja Católica no Brasil está diante de graves violações aos direitos humanos, assistindo o desrespeito à Convenção Americana de Direitos Humanos e à Convenção de Belém do Pará, ambas incorporadas ao ordenamento jurídico brasileiro.
Esse caso extrapola o âmbito do desequilíbrio entre as partes e versa sobre o completo despreparo do Núncio Brasileiro no que permeia o atendimento e recepção dos casos.
Também a própria Justiça comum, através do Ministério Público do Estado de São Paulo, no que se refere a competência de tratativa, poderio de observância da investigação, e tratamento humanitário; e ainda o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, tendo os três órgãos uma latente deficiência no cerne da observância de singularidade para causas relativas a graves violações de direitos humanos, à medida em que se acautela um sistema de investigação, balizamento, denúncia e julgamento totalmente desestruturado para atender casos de violência encoberta por tantos anos dentro de uma estrutura religiosa.
Em dezembro de 2019, o promotor Dr. Luiz Alberto Segalla Bevilácqua denunciou o padre Pedro Leandro Ricardo. Em sua denúncia, explicou como o religioso constrangeu uma criança e três adolescentes na cidade entre 2002 e 2005.
Ademais, o próprio afirmou ter deixado de pedir a decretação da prisão preventiva do padre porque as vítimas não têm contato com ele desde que foi transferido para Americana, o que, “pelo menos em tese, a ordem pública e a integridade física das vítimas estão garantidas”, segundo o MP.
“É dos autos que o denunciado, padre da Igreja Católica responsável pela paróquia São Francisco de Assis, exercia autoridade moral e inegável influência sobre os membros de sua comunidade religiosa [zona leste desta Comarca].
Nessa qualidade, atraía criança e adolescentes para a função de “coroinha”, bem assim para as tarefas cotidianas da igreja, com o propósito último de satisfazer sua lascívia. Assim é que, prevalecendo-se de sua ascendência sobre as vítimas [temor reverencial], o denunciado, em diversas oportunidades, e com sucessão de vítimas, mediante violência e grave ameaça, praticou crimes [atos libidinosos] contra a dignidade sexual”, informa a denúncia de Bevilácqua.
“Por fim, considerando tratar-se de graves violações aos direitos humanos das vítimas, que submetem-nas à intensas torturas psicológicas não se tratando apenas de casos isolados de agressão. Não há como se falar em prescrição“.
Segundo a defensora das vítimas, “o caso evidencia como de maneira sórdida os denunciados corromperam as vítimas em sua crença religiosa, na violação sexual em sua adolescência e de sua dignidade humana, passando-se por reiteradas vitimizações durante as investigações, inércia nas apurações e dano permanente ao seus projetos de vida”.
“As vítimas tiveram de ser ouvidas pelos mesmo fatos por diversas vezes no âmbito da investigação, como se a autoridade policial não conseguisse concluir de maneira proba a primeira oitiva”, complementa.
Elas se sentiram encorajadas a denunciar as agressões somente após seu acolhimento, feito diretamente no Vaticano, com a nomeação e envio de delegados clérigos pela Santa Sé para as cidades de Americana, Limeira e Araras, localizadas no interior do estado de São Paulo.
Também envolveu-se diretamente o ativista humanitário Giulio Ferrari dando publicidade aos atos libidinosos que teriam sido praticados pelo padre Pedro Ricardo, em um esforço para buscar e identificar mais pessoas que possam ter sofrido seus abusos.
Ferrari é brasileiro e vive atualmente no estado americano do Texas, sendo o idealizador do movimento denominado Chega de Abuso que expõe agressores sexuais através da internet.

Espera-se e deseja-se que a Igreja Católica considere a situação de vulnerabilidade das vítimas de violência sexual e moral. Devendo o Estado Brasileiro e o Estado do Vaticano punir práticas delitivas semelhantes, inclusive em casos cometidos fora das situações de violência, o que passou-se a nomear como corrupções da fé.
As corrupções da fé ocorrem de modo cíclico, reiterado, em proporções crescentes de geração de dano, chegando a lesar a saúde emocional da vítima, afetando sua autoestima e seu poder de decisão.
“Um problema grave que toca a todos, é que até o presente momento analisaram esse caso sem que se dominem arcabouços teóricos que permitam aos julgadores entender a complexidade, sutileza, poder de dano e as cruéis consequências da violência desse tipo, em âmbito doméstico e familiar; afinal um padre é sobretudo um pai, que conduz religiosidade entre seus próximos”, enfatiza Camargo.
As vítimas sofreram notórios danos materiais tendo gastos com medicação, consultas médicas, e acompanhamento psicológico, além de imateriais como seus projetos de vida, e perspectivas após o início das violações sexuais, morais e religiosas.
Tiveram de se afastar de sua fé com medo e receio de todo e qualquer dirigente espiritual. Tendo também afetado o livre desenvolvimento da personalidade com o prejuízo inequívoco de suas atividades laborais e seus projetos pessoais.
A dignidade da vida requer a possibilidade de concretização de metas e projetos. As vítimas foram corrompidas de tantas formas que as poucas conquistas que tiveram foram obscurecidas pela violência praticada.
“As corrupções foram tão intensas que relativizar a violência sexual, moral, institucional, com morosidade, a falta de tratativa minimamente humanitária seja por parte da igreja, seja por parte do Estado, leva a violação de diversos artigos em proteção dos direitos humanos”, conclui.
Aqui o último documento enviado ao Vaticano.
