Alexandre de Moraes abre investigação sobre insider trading no tarifaço de Trump

22 de julho de 2025 54

STF apura suspeitas de uso de informações privilegiadas em movimentações cambiais antes de sanções dos EUA contra o Brasil

Supremo Tribunal Federal (STF), por determinação do ministro Alexandre de Moraes, abriu nesta segunda-feira, 21 de julho de 2025, uma investigação para apurar suspeitas de insider trading relacionadas ao anúncio de tarifas comerciais impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil. A decisão atende a um pedido da Advocacia-Geral da União (AGU), que identificou movimentações atípicas no mercado cambial brasileiro antes e depois do anúncio das sanções, que incluem uma taxação de 50% sobre as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto.

A prática de insider trading, que consiste no uso de informações privilegiadas para obter lucros no mercado financeiro, é considerada crime no Brasil, com penas que podem chegar a cinco anos de reclusão e multas expressivas.

A investigação foi iniciada no âmbito do inquérito que apura a atuação do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos, onde ele reside desde março de 2025, após alegar perseguição política. O parlamentar, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, é investigado por supostamente tentar influenciar o governo norte-americano a adotar medidas de retaliação contra autoridades brasileiras, incluindo o próprio STF, com o objetivo de obstruir a Justiça e barrar a ação penal sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022.

Contexto da investigação

O pedido da AGU, protocolado no sábado, 19 de julho, foi motivado por uma reportagem do Jornal Nacional, exibida na sexta-feira, 18, que revelou transações cambiais significativas, estimadas entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões, realizadas horas antes e depois do anúncio de Trump em 9 de julho. Segundo a AGU, essas movimentações sugerem que agentes do mercado financeiro podem ter tido acesso prévio e indevido a informações sobre as tarifas, o que configuraria insider trading.

O investidor Spencer Hakimian, da Tolou Capital Management, destacou em entrevista à TV Globo que, às 13h30 do dia 9, houve um salto abrupto na cotação do dólar, atribuído a uma compra expressiva, resultando em lucros de até 50% em poucas horas. No despacho de Moraes, a petição da AGU foi transformada em uma investigação autônoma, que tramitará em sigilo, separada do inquérito contra Eduardo Bolsonaro. A medida busca esclarecer se as transações foram realizadas com base em informações privilegiadas e se há conexão com as ações do deputado nos EUA.

A AGU também solicitou que a Procuradoria-Geral da República (PGR) seja comunicada e que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) adote providências administrativas e civis para apurar possíveis irregularidades no mercado financeiro.

O inquérito contra Eduardo Bolsonaro

Eduardo Bolsonaro é alvo de um inquérito no STF que investiga sua atuação nos Estados Unidos, onde ele teria buscado articular sanções contra o Brasil como forma de pressionar o Judiciário brasileiro. A PGR aponta que o deputado, em coordenação com seu pai, Jair Bolsonaro, tentou obstruir a Justiça e desestabilizar a economia brasileira.

O inquérito, relatado por Moraes, já resultou em medidas cautelares contra Jair Bolsonaro, que, na sexta-feira, 18, foi obrigado a usar tornozeleira eletrônica e cumprir restrições de circulação noturna, após a PGR alegar risco de fuga. O ex-presidente é réu em uma ação penal sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022, com julgamento previsto para setembro de 2025.

A AGU argumenta que as tarifas impostas por Trump, anunciadas como retaliação ao tratamento do Brasil ao ex-presidente Bolsonaro, podem estar ligadas a uma estratégia mais ampla de coação contra o STF. O órgão destacou que as movimentações financeiras suspeitas reforçam a possibilidade de que as ações de Eduardo Bolsonaro não se limitam à obstrução de Justiça, mas também envolvem "ganhos financeiros ilícitos".

Em um trecho do documento enviado ao STF, a AGU afirma: “À luz dos fatos noticiados, podemos inferir que eles se inserem em contexto no qual os fatos já em apuração neste inquérito estão além dos ilícitos penais já indicados pela PGR, relacionados à obstrução da Justiça, mas também com possíveis ganhos financeiros ilícitos, mediante os mesmos fatos que buscaram impor embaraço à aplicação da lei penal.”

Repercussão e contexto político

O anúncio das tarifas por Trump, em 9 de julho, foi justificado pelo presidente americano como uma resposta à “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro, a quem ele descreveu como “um líder altamente respeitado no mundo”. A medida gerou tensões diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva articulando respostas por meio da diplomacia.

Posts recentes no X, como os do perfil @ocafezinho, destacam que as ações de Moraes contra Jair e Eduardo Bolsonaro reforçam a narrativa de que ambos atentam contra a soberania nacional, enquanto outros, como @ZAMENZA , classificam a cobertura do caso como uma “escalada histórica” do Jornal Nacional.

Além disso, a decisão de Moraes ocorre em um momento de alta polarização política no Brasil. No domingo, 20 de julho, apoiadores de Jair Bolsonaro realizaram atos na Avenida Paulista, em São Paulo, e em outras cidades, pedindo anistia para os envolvidos no 8 de janeiro de 2023 e criticando o STF, em especial Alexandre de Moraes. Esses protestos, organizados por figuras como a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e a deputada Bia Kicis (PL-DF), também celebraram a revogação do visto de Moraes nos EUA, uma medida vista como parte da pressão internacional articulada por Eduardo Bolsonaro.

Implicações econômicas e judiciais

As tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras, que entrarão em vigor em 1º de agosto, têm potencial para causar uma crise econômica no Brasil, segundo análise do STF citada pela AGU. A investigação sobre insider trading pode ampliar o escopo do inquérito, trazendo à tona possíveis redes de influência que se beneficiaram financeiramente das sanções.

A CVM, responsável pela regulação do mercado financeiro, foi instada a investigar as transações, que podem resultar em sanções administrativas e civis, além das penais.O caso também levanta questões sobre a relação entre política e mercado financeiro no Brasil. A movimentação cambial atípica, conforme apontado por Hakimian, sugere que agentes do mercado podem ter agido com base em informações sensíveis, obtendo lucros expressivos em um curto período.

A apuração conduzida pela Polícia Federal, sob supervisão de Moraes, será crucial para identificar os responsáveis e determinar se há vínculo direto com as ações de Eduardo Bolsonaro nos EUA.

Próximos passos

A investigação tramitará em sigilo, o que limita a divulgação de detalhes sobre os próximos passos. No entanto, a decisão de Moraes sinaliza uma resposta firme às suspeitas de manipulação de mercado e às tentativas de interferência nas instituições brasileiras. A PGR e a CVM terão papéis centrais na apuração, enquanto o governo Lula busca mitigar os impactos das tarifas por meio de negociações diplomáticas.

O desfecho do caso pode ter implicações significativas para as relações Brasil-EUA e para o cenário político interno, especialmente com o julgamento de Jair Bolsonaro se aproximando.Enquanto isso, a sociedade acompanha com atenção os desdobramentos, com debates intensos nas redes sociais. Perfis como @brasil247 e @JotaInfo destacaram a rapidez da resposta de Moraes ao pedido da AGU, reforçando a gravidade das acusações. A investigação sobre insider trading, combinada com as medidas contra os Bolsonaro, mantém o STF no centro do embate político no Brasil, com reflexos que vão além das fronteiras nacionais.

Fonte: ALAN ALEX
PAINEL POLITICO (ALAN ALEX)

Alan Alex Benvindo de Carvalho, é jornalista brasileiro, atuou profissionalmente na Rádio Clube Cidade FM, Rede Rondovisão, Rede Record, TV Allamanda e SBT. Trabalhou como assessor de imprensa na SEDUC/RO foi reporte do Diário da Amazônia e Folha de Rondônia é atual editor do site www.painelpolitico.com. É escritor e roteirista de Programas de Rádio e Televisão. .