A VINDA DO ANTICRISTO OUTRORA BOMBAVA NAS TELAS. HOJE, COM TRUMP, PUTIN, BOZO E OUTROS CELERADOS, VIROU CARNE DE VACA

19 de abril de 2024 124

 

Para quem ainda considera necessária a existência de história inteligente num filme de terror, A profecia, de 1976, é um prato cheio.

Roteirista pau pra toda obra de Hollywood, David Seltzer acertou em cheio ao retomar o tema do nascimento do anticristo, depois de O bebê de Rosemary, do genial Roman Polanski, ter bombado no mundo inteiro oito anos  antes.

Bom profissional, Seltzer não fez uma mera variação do filme anterior, focado na gestação e parto do filho do demo, que ainda é um nenêzinho no momento do the end

Ele optou por iniciar sua narrativa quando o capetinha toma o lugar do filho do embaixador estadunidense na Itália (Gregory Peck), que teria falecido logo após o parto. 

O embaixador é convencido a fingir que se trata do rebento original, para poupar sua esposa (Lee Remick) de uma terrível decepção.

Obviamente, há também uma conspiração por trás dessa troca de nenês. 

E o duelo entre as forças empenhadas em evitar o desmascaramento da tramoia e as pessoas que podem fazê-la ruir chega a superar, em suspense, o filmaço de Polanski. 

O que não deve causar surpresa, afinal o diretor Richard Donner tinha currículo até melhor no campo do mero entretenimento (Superman: o filmeO feitiço de Áquila, a franquia Máquina mortífera, etc.). 

Já o seu colega polonês sempre buscou equilibrar espetáculo e arte. Em O bebê de Rosemary, p. ex., a mensagem subjacente era a de que Deus estava morto, uma afirmação muito repetida naquele ano iconoclasta da contracultura. 

Daí a fúria que o filme despertou nos carolas dos EUA, principalmente. Eles vibraram quando Charles Manson e seus debiloides sanguinários massacraram sete pessoas na mansão de Polanski, inclusive a esposa do diretor, Sharon Tate. Diziam que era castigo divino...    

De resto, Gregory Peck confere a A profecia uma intensidade trágica raramente vista no cinema comercial. Atuação magistral!

Não é à toa que Atticus Finch, por ele interpretado no clássico O sol é para todos (d. Robert Mulligan, 1962), vem desde então constando de todas as listas dos personagens mais influentes de todos os tempos. Com outro ator dificilmente isto ocorreria.

(por Celso Lungaretti)

 

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Fonte: Celso Lungaretti
A VISÃO DEMOCRÁTICA (POR CELSO LUNGARETTI )