A POLARIZAÇÃO É ENTRE DOIS CANDIDATOS QUE NÃO SÃO LÍDERES. POR QUE?
william waack
OS INFLUENCERS LULA E BOLSONARO
Para Waack, "Lula e Bolsonaro...
Henry Kissinger acabou de completar 99 anos e de publicar mais um livro: Leadership (Liderança). É quase um testamento de quem pessoalmente viu de tudo: de Hitler a Merkel, de Mao a Xi Jinping, de Kruchev a Putin, de Eisenhower a Biden.
Goste-se ou não de Kissinger, esse hiper-realista tem algo a dizer sobre qualidades de líderes políticos.
No livro ele nem cita o Brasil, mas que lugar ocupariam Bolsonaro e Lula, os dois líderes brasileiros do momento, na grande separação universal que Kissinger faz entre estadistas e profetas? Nem um, nem outro.
O estadista, diz o autor, teme a personalização da política, pois sabe como são frágeis as estruturas que dependem sobretudo do indivíduo. Lula e Bolsonaro são populistas por definição.
Na visão de Kissinger os dois brasileiros liderando a política teriam algo de profetas. Mas apenas num aspecto muito restrito: acham que, simplesmente por terem uma visão, isso lhes confere razão.
Estão a galáxias de distância daqueles que superaram as circunstâncias que herdaram e conduziram suas sociedades para as fronteiras do possível (profetas na História, para Kissinger, foram Robespierre, Lenin, Joana D’Arc e Gandhi).
A capacidade de atuação do líder político, afirma o autor, depende de entender o passado e projetar o futuro. Nesse sentido, Bolsonaro e Lula são vítimas de dois fenômenos modernos que Kissinger considera extraordinariamente prejudiciais à formação de líderes de grande alcance.
..são populistas por definição".
O primeiro é a perda generalizada do que se chama alfabetização profunda, isto é, a capacidade de aprimorar o senso analítico sobretudo pela leitura profunda. É famosa a aversão de Bolsonaro e Lula por textos longos.
Esse fenômeno está associado a outro, considerado ainda mais prejudicial à formação de líderes: as tecnologias digitais. Trata-se da passagem da cultura da palavra impressa para a cultura da imagem, e sua preponderância nas redes sociais.
Para a formação de líderes a era digital traz quatro tipos de vieses prejudiciais: o imediatismo, a intensidade, a polarização e a conformidade.
É o resultado de uma atmosfera na qual lideranças são suplantadas por uma combinação de emoções pessoais e de massas inflamadas por imagens.
O Brasil é parte relevante do fenômeno, incentivado pelas redes sociais, da divisão da sociedade em tribos – do qual Bolsonaro e Lula são expressão fidedigna, embora venham de outros tempos.
A polarização e o conformismo dependem um do outro e se reforçam: as pessoas passam a pertencer a uma tribo que, por sua vez, policia o que as pessoas pensam.
Está passando para a política, conclui o velho cínico Kissinger, aquilo que as plataformas digitais já estabeleceram. Usuários são divididos entre influencers e seguidores. Não há mais líderes. (por William Waack, n'O Estado de S. Paulo)
Postado por celsolungaretti
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