A chapa Temer-Meirelles

28 de março de 2018 677

Os movimentos eleitorais soam falsos, como uma camada de cinza volátil sobre as brasas que, com um pouco mais de vento, podem lançar  labaredas.  Esclarecido o destino do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que deixa o cargo no dia 6 de abril e filia-se ao MDB, o que se podemos esperar concretamente disso, quando julho chegar, é o lançamento da chapa Temer-Meirelles.  Aceitando filiar-se sem garantia de que será o candidato do partido, Meirelles aceitou esquentar o lugar para Temer.  Depois vira candidato a vice.  E como Lula também se tornou inelegível ontem, com a recusa de seus recursos pelo TRF-4, independentemente do que decidirá o STF sobre seu pedido de habeas corpus para não ser preso, teremos nos próximos meses dois candidatos que serão figurantes temporários. 

Para se impor como candidato, Meirelles teria de chegar a julho com índices gordos nas pesquisas, empolgando o eleitorado só com a saliva, pois carisma lhe falta, alardeando que venceu a recessão e colocou as contas públicas em ordem.  O primeiro argumento não comove porque o emprego, que é bom mesmo, ainda não apareceu. A reforma trabalhista, promovendo a troca de empregos formais por contratos temporários e intermitentes, está inibindo o consumo, e logo, a recuperação, bandeira de Meirelles. O segundo, o saneamento das contas públicas, é algo abstrato demais para a grande massa de eleitores, além de não ser exatamente verdadeiro. O novo ministro, seja Eduardo Guardia ou Mansueto de Almeida, terá de correr atrás de R$ 100 bilhões para cumprir a regra de ouro orçamentária este ano.  Então, as chances de Meirelles pegar onda são muito remotas. 

Virando candidato, e mesmo dispondo da máquina federal, Temer esbarrará no óbvio, o paredão de sua impopularidade.  Parece incrível mas ele concorrerá apenas para usar o palanque eletrônico tentando espanar a biografia, tisnada por acusações graves a que terá de responder mais tarde na Justiça.  Nessa hora, poderá usar dizer que foi perseguido pelos que não queriam sua candidatura à reeleição. Deixando agora Meirelles brincar de candidato, Temer garantiu-se um vice, o que não seria fácil, pelo medo do contágio que sua impopularidade desperta nos políticos.

 Este bom arranjo para os dois é péssimo para o futuro que começa em primeiro de janeiro de 2019, quando tomará posse o novo presidente.  Com os 30 partidos que temos, nenhum sequer se aproximará da maioria na Câmara. O novo governo, como sempre, terá de formar uma coalizão e o velho MDB, mais uma vez, será a melhor opção. E novamente, sem ter disputado para valer a Presidência, com um programa próprio, morderá boa parte do poder conferido pelo povo.

BRASIL, UM BRASEIRO

 O que aconteceu no Sul devia estar preocupando o andar de cima. Foi com Lula mas seria igualmente grave se fosse com outro.  Policiais de braços cruzados enquanto grupos exaltados de extrema-direita atiravam pedras e ovos, quebravam  ônibus,  bloqueando o caminho da caravana. Só ontem, no Paraná, um juiz entrou em cena para garantir o direito de ir e vir.  Desta vez, não houve revide porque o próprio Lula conteve os seus. Mas quando tombar o primeiro morto de um lado, haverá troco. Estamos a um passo dos confrontos de rua. 

À negligência das autoridades somou-se a senadora o desatino da Ana Amélia, do PP, que louvou e estimulou os agressores a “tacar ovo e descer o relho nesta gente que vem aqui trazendo um condenado”.  A bancada do PT decide hoje se levará representação contra ela ao Conselho de Ética do Senado, por incitação à violência.   Em tudo isso houve também um recado intimidador ao STF. Foi como se dissessem: “Se o deixarem solto, nós o pegaremos”

A POLITICA COMO ELA é (POR : TEREZA CRUVINEL)

Tereza Cruvinel atua no jornalismo político desde 1980, com passagem por diferentes veículos. Entre 1986 e 2007, assinou a coluna “Panorama Político”, no Jornal O Globo, e foi comentarista da Globonews. Implantou a Empresa Brasil de Comunicação - EBC - e seu principal canal público, a TV Brasil, presidindo-a no período de 2007 a 2011. Encerrou o mandato e retornou ao colunismo político no Correio Braziliense (2012-2014). Atualmente, é comentarista da RedeTV e agora colunista associada ao Brasil 247; E colaboradora do site www.quenoticias.com.br