VIVÊNCIAS COM VIAGENS CLANDESTINAS

8 de janeiro de 2018 711

Nas vivências com viagens clandestinas, penso que o sonho da chegada se sobreponha aos medos.
Inúmeras vezes, atravesso uma rodovia na qual distingo, em determinado ponto e horário, passageiros com bagagens diferenciadas. Muitas deles têm, aos pés, trouxas enormes. Não consigo observar melhor por ficar atenta na direção. Faço isso apenas quando me encontro no banco do passageiro. Contaram-me que por lá circulam ônibus que não saem de rodoviária alguma e vão muito além do perímetro urbano, chegando a regiões do Nordeste.  Sei de algumas pessoas que viajaram com eles. São desconfortáveis e se respira muito pó pelos caminhos de dois, três dias... O percurso é por vias sinuosas, com chão de terra e chance menor de fiscalização. Mas as paisagens, ah, as paisagens! E a conjugação do verbo rever e reencontrar-se alivia os obstáculos do caminho.
Não creio que seja essa a melhor maneira de se deslocar para a proximidade ou para a distância, contudo compreendo como o coração desse povo humilde, com sentimentos tão fortes, pede o abraço e o colo de quem ficou na lonjura. E como retornam felizes pelo acolhimento que recebem e, também, por testemunharem que não se esqueceram de suas raízes. Entregam-se a uma colocação que li em algum lugar: “Demonstre hoje. Não deixe nada para amanhã. Somos instantes e num instante não somos nada”. Difícil aguardar o valor necessário para o transporte legalizado.
Uma moça, há anos, contou-me que nesse rumo proposto para os empobrecidos, havia a troca do ônibus para a jardineira a três horas da cidade em que nasceu. Foi nessa mudança que sua mala sumiu. E reclamar onde? Ao perceber, se entristeceu, contudo foi tão bom pedir a bênção à mãinha e ao painho, que não via há 24 anos, que as dificuldades compensaram. Uma emoção semelhante à dos Reis Magos, creio eu.
De certa forma, vivemos de viagens, paisagens, encontros, desencontros e reencontros...
Desejo, portanto, aos meus leitores e aos leitores do “Jundiaí Agora”, um ano de 2018 pleno de saídas e chegadas como a dos Reis que, em Belém, se avistaram com o Menino, Maria e José.

 

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -

 Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.