União pela direita
A primeira grande chacoalhada no quadro eleitoral, com promessa de alteração na correlação de forças entre os candidatos, virá com a decisão, já praticamente tomada pelos partidos do Centrão, de apoiar o candidato tucano Geraldo Alckmin. Hoje mal posicionado nas pesquisas, ele se torna competitivo ao dobrar seu tempo de televisão, passando a dispor de 5 minutos e 49 segundos, ou 40% do horário total. A convergência da centro-direita finalmente se realiza, agregando os partidos que fizeram o impeachment, exceto, por ora, o MDB. O cenário de um segundo turno entre o candidato do PT e o do PSDB, pouco provável há algumas semanas, entra no campo das possibilidades.
Já o candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro levou um tombo ao fracassar em duas negociações partidárias, uma com o PR, outra com o PRTB, partido a que é filiado o general Augusto Heleno, que convidou para ser seu vice. Como não lhe restam alternativas de coligação, exceto com partidos tão insignificantes como seu PSL, Bolsonaro disporá de apenas 8 segundos de tempo de TV. Antes, ele havia colhido a recusa do senador Magno Malta, do PR. Os tropeços explicitam sua incapacidade de conduzir negociações políticas (habilidade essencial a um presidente, especialmente num país com alta fragmentação partidária como o Brasil) e também a toxidade de sua candidatura. Os partidos, empenhadíssimos em eleger deputados para cumprir a cláusula de barreira e garantir recursos do fundo eleitoral, receiam embarcar numa candidatura como a dele, movida a personalismo, sem estrutura, sem máquina e talvez limitada a um nicho ideológico restrito.
Foi a inabilidade de Bolsonaro que propiciou a reviravolta do Centrão, rebatizado de blocão. DEM, PP, PRB e SD estavam divididos entre apoiar Ciro ou Alckmin, quase resignados ao racha, mas tudo mudou com a adesão do PR, após o fracasso das negociações com Bolsonaro. Os 45 segundos de tempo de TV do PR aumentaram o cacife do bloco. E embora a tendência maior no Centrão fosse pelo apoio a Ciro, ele deu o pretexto para a mudança de posição a favor do tucano. Xingou o promotor que o indiciou por ter chamado um vereador paulista de “capitãozinho do mato”. Era uma promotora. O incidente reforçou o argumento de que, com seu temperamento explosivo, ele poderia acabar se incinerando no auge da campanha.
Mas o que se deve enxergar mesmo no movimento do Centrão é a unidade da centro-direita. O temperamento de Ciro é por todos conhecidos. O que incomodava os do Centrão era a diferença ideológica. O fisiologismo é que os empurrava em direção ao pedetista, porque viam nele maior potencial de vitória. Em busca de pretextos, providenciaram também o encontro entre o economista Claudio Adilson, consultor do DEM, e o economista de Ciro, Mauro Benevides Filho. Adilson saiu declarando a incompatibilidade ideológica do bloco com o candidato. Jogo de cena para uma escolha ditada por razões e interesses superiores. Trata-se, em verdade, da união dos partidos que, juntamente com o MDB, lideraram o impeachment e apearam o PT do poder.
As evidências de que o candidato do PT tem grandes chances de chegar ao segundo turno apressaram a unidade pela direita. Se Alckmin conseguir crescer com as vantagens que o bloco lhe dará, a velha polarização PT-PSDB poderá ser reeditada. O tucano disporá de 5 minutos e 49 segundos de televisão, tempo bem maior que o do PT, que sozinho terá apenas 1 minutos e 27 segundos, seguido pelo MDB, com 1 minuto e 26 segundos.
Num eventual retorno da polarização PSDB-PT, será irônico que o tucano tenha como vice, como exige o blocão, o empresário Josué Alencar, filho do vice de Lula em seus dois governos, José Alencar.
Para Lula, a boa notícia foi a decisão da ministra do TSE Rosa Weber - ao rejeitar pedido do MBL - de que não se pode discutir inelegibilidade antes que seja pedido o registro de uma candidatura. E isso vai ao encontro da tática do PT.
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A POLITICA COMO ELA é (POR : TEREZA CRUVINEL)
Tereza Cruvinel atua no jornalismo político desde 1980, com passagem por diferentes veículos. Entre 1986 e 2007, assinou a coluna “Panorama Político”, no Jornal O Globo, e foi comentarista da Globonews. Implantou a Empresa Brasil de Comunicação - EBC - e seu principal canal público, a TV Brasil, presidindo-a no período de 2007 a 2011. Encerrou o mandato e retornou ao colunismo político no Correio Braziliense (2012-2014). Atualmente, é comentarista da RedeTV e agora colunista associada ao Brasil 247; E colaboradora do site www.quenoticias.com.br