Sabujice de Tarcísio a Bolsonaro lembra a de Alckmin a Lula

7 de abril de 2025 420

Durante anos, quando filiado ao PSDB, Geraldo Alckmin, como opositor ao lulopetismo, não economizava impropérios contra Lula. Em 2017, antes das eleições do ano seguinte, declarou: “Depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder. Quer voltar à cena do crime”.

Já nas eleições de 2022, ao melhor estilo “esqueçam o que eu disse”, o apelidado “picolé de chuchu” tornou-se companheiro de chapa do chefão petista, elegendo-se vice-presidente. Hoje, Alckmin é só elogios ao antigo desafeto. 

Além de cumprir agendas indecorosas em substituição ao seu chefe, como a presença na posse do presidente iraniano em 2024, sentando-se ao lado dos maiores terroristas do planeta, o ex-tucano derrete-se por Lula:

Vira-casaca

Lula, Lula, o maior líder popular deste país, viva Lula, viva os trabalhadores”, declamou, inflamado, sem a menor vergonha na cara, durante um evento em 2022, vestindo um boné do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

Já Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, não pode ser definido ou rotulado politicamente como opositor de ninguém. Ex-ministro de Dilma Rousseff e um afeto de Lula, jamais poderá ser declarado ou considerado um antipetista. 

Bolsonarista de ocasião, como a maioria que ainda cerca o patriarca do clã das rachadinhas e das mansões milionárias, Tarcísio tampouco pode ser incluído no núcleo duro do bolsonarismo fiel, ainda que dele não possam reclamar. 

Nem lá nem cá

Equilibrando-se entre a cruz e a espada, um dia o governador paulista sobe em carro de som e pede anistia para os vândalos de 8 de janeiro, mero pretexto para livrar o líder de tudo isso da cadeia, e no outro, faz juras de amor às urnas eletrônicas.

Ok, o cinismo é do jogo político. O cálculo eleitoral deve prevalecer sobre a emoção. Mas, na boa, até para isso é necessário um certo limite, um certo decoro. Não dá para se ajoelhar e lamber as botas de Bolsonaro sem o mínimo pudor. 

Na manifestação bolsonarista de domingo, 6, Tarcísio deu uma de Alckmin: “Eu vi quantas vezes o Bolsonaro chorou. Eu me lembro dele e da família no hospital. Eu vi o presidente preocupado com as pessoas na pandemia”. Como é que é, governador?

Recordar é viver

E continuou: “E, por isso, ele arrumou rapidamente alternativas”. Peraí. Eu preciso lembrar ao senhor as falas e manifestações grotescas de Jair Bolsonaro, a quem, à época, eu chamava de “devoto da cloroquina” e “maníaco do tratamento precoce?” 

Se sim, vamos lá: “Está superdimensionado o poder destruidor desse vírus. Talvez esteja sendo potencializado até por questões econômicas”. “Eu não sou coveiro”. “E daí, lamento. Quer que eu faça o que? Sou Messias, mas não faço milagre.”

“Se tomar vacina e virar jacaré não tenho nada a ver com isso. “Não adianta fugir disso, fugir da realidade. Tem que deixar de ser um país de maricas”. “Vacina obrigatória só aqui no Faísca (cachorro)”. “Tem alguns idiotas que até hoje ficam em casa.”

Está quase no fim

“Essa é uma realidade, o vírus tá aí. Vamos ter que enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, porra. Não como um moleque. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós iremos morrer um dia”. Não acabou; tem mais:

“Pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria acometido, quando muito, de uma gripezinha ou resfriadinho”. “O cara que entra na pilha da vacina, só a vacina, é um idiota útil.”

“Covid apenas encurtou a vida delas (idosos) por alguns dias ou algumas semanas”. “Não tá havendo morte de criança que justifique vacina para elas”. “Temos que enfrentar os nossos problemas. Chega de frescura e de mimi. Vão ficar chorando até quando?”

Que feio, governador

Chega, governador, ou o senhor quer mais? Preciso lembrá-lo da pregação contra as máscaras, as vacinas, o distanciamento social? Dos quatro ministros da saúde que foram trocados, das motociatas, das aglomerações, dos passeios de jet ski?

Quem sabe o senhor se esqueceu do então presidente zombando dos sufocados? Mais de 700 mil mortos depois e o país ainda tem de ouvir algo assim. Que vergonha, governador Tarcísio. O senhor me parecia melhor que isso.

Em tempo: recomendo ao senhor – e a todos! – a leitura deste artigo do Felipe Moura Brasil, publicado ontem em O Antagonista. Talvez lhe traga alguma luz. Parece-me que o senhor está precisando.

 

Fonte: Ricardo Kertzman