Reunião sobre reforma previdenciária: Lula e Bolsonaro não cairão nesta trampa

6 de dezembro de 2017 902

Segundo o jornal O Globo, a proposta foi apresentada pelo ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra. O governo chamaria os dois primeiros colocados nas pesquisas sobre a eleição presidencial, Lula e Bolsonaro, para uma conversa sobre a reforma previdenciária.  Isso é diferente do encontro que FHC teve com os presidenciáveis em 2002, inclusive Lula, que era o favorito nas pesquisas naquela época, para discutir o acordo em negociação com o FMI. Tratava-se de sinalizar externamente que o sucessor, fosse quem fosse,  honraria os compromissos externos do Brasil.  Logo depois Lula lançou a Carta ao Povo Brasileiro. Agora, trata-se de uma trampa.  Tenta-se colocar em posição contraditória dois candidatos que já disseram a mesma coisa sobre a reforma: “é um crime”. Ou de apresentá-los como candidatos descomprometidos com o equilíbrio das contas públicas,  tomando-se como base o discurso governista de que a reforma tem este objetivo, apesar das tantas contestações já apresentadas por especialistas ao deficit da Previdência.

Lula e Bolsonaro diriam o óbvio ao interlocutor, que seria o ministro Eliseu Padilha:  tal como está colocada esta reforma, sou contra.  O governo sabe disso.  Se insistir, será com segundas intenções, e nenhum deles cairá nesta esparrela.  Para Lula,  uma reunião com Eliseu Padilha para tratar da reforma previdenciária passaria um sinal confuso para seu eleitorado, ainda que ele declarasse na saída que  explicitou sua oposição e que a bancada do PT votará fechada contra a proposta. Então para quê foi conversar? Perguntariam seus seguidores.  Bolsonaro talvez ficasse honrado com o convite, enxergando nele um reconhecimento de suas possibilidades de vitória.   Mas teria muito mais a perder do que a ganhar com o convescote.

Lula fez uma reforma previdenciária importante em 2003, que acabou com o maior dos privilégios do setor público, a aposentadoria com salário integral.  Ela continua existindo só para os que já haviam ingressado no quadro de estatutários antes da mudança. Os que entraram depois estão sujeitos ao mesmo teto que vigora para o regime geral, o do INSS,  para quem trabalha na iniciativa privada (hoje pouco mais de R$ 5 mil).    Temer fala que sua reforma visa acabar com privilégios mas foi Lula que acabou com a maior disparidade que havia entre os dois sistemas, garantindo o direito adquirido de quem havia sido contratado segundo as regras anteriores.  O que a reforma de Temer faz é dificultar a aposentadoria do pessoal do INSS mesmo, onde está a massa dos mais pobres, aumentando a idade mínima e o tempo de contribuição para se aposentar pelo teto.   

“É uma falta de humanidade, um crime para com os mais humildes”, declarou Bolsonaro em sua recente viagem aos Estados Unidos. Não se viu nenhuma declaração dele em sentido contrário depois disso. Então,  não há sentido na conversa do governo nem com Lula nem com ele.  Mas é possível que Temer dê sinal verde para as tentativas.  A recusa exporia negativamente Lula e Bolsonaro, mas apenas junto ao mercado e às forças neoliberais. Relativamente ao mercado, Lula já deu seu recado ontem: “vai ter que me engolir. O mercado vai precisar mais de mim do que eu dele”.

A POLITICA COMO ELA é (POR : TEREZA CRUVINEL)

Tereza Cruvinel atua no jornalismo político desde 1980, com passagem por diferentes veículos. Entre 1986 e 2007, assinou a coluna “Panorama Político”, no Jornal O Globo, e foi comentarista da Globonews. Implantou a Empresa Brasil de Comunicação - EBC - e seu principal canal público, a TV Brasil, presidindo-a no período de 2007 a 2011. Encerrou o mandato e retornou ao colunismo político no Correio Braziliense (2012-2014). Atualmente, é comentarista da RedeTV e agora colunista associada ao Brasil 247; E colaboradora do site www.quenoticias.com.br