RETROSPECTIVA DE 2017

3 de janeiro de 2018 796

Por certo que vários serão os textos que, nesses derradeiros dias do ano, levarão o título acima. É normal que se faça uma retrospectiva do ano que vai se findando, uma análise daquilo que atingiu nossas expectativas, do que ficou aquém e do que superou. É parte dos rituais humanos colocar pontos, vírgulas e reticências em suas histórias e mesmo quando se tem consciência de que uma data não muda nada se não fizermos mudanças efetivas, é difícil não nos sujeitarmos a essa tarefa.

            Há exatamente um ano eu estava fazendo a mesma coisa, por sinal. Contabilizadas as perdas e os danos, conclui que 2016 tinha saldo positivo, o que, nem de longe significava que as pedras não estiveram presentes. À época, inclusive, eu concitava os meus leitores a fazerem seus próprios balanços, eis que não raras vezes o resultado nos surpreende quando colocamos no papel a lista de tudo que nos passou durante o período de doze meses.

            Como se fosse um mero piscar de olhos, cá estamos todos novamente. Ao menos, aqueles de nós para os quais 2017 não foi o último ato. Aliás, essa a grande questão que de fato é perda efetiva, já que irreparável. Nesse sentido, tive algumas perdas dolorosas, tanto de entes familiares quanto de animais de estimação. Acompanhei, também, de vários conhecidos, as mesmas dores, perdas previsíveis e outras inimagináveis, seja pela forma ou pelo momento em que se deram.

            Retirada a circunstância da morte, evento que nos foge por completo ao controle, resta recalcularmos a rota e renovarmos os planos para o novo ano que se inicia. Ainda que não seja nada cabalístico, essa pausa de fim de ano é importante, porque serve para reencontrarmos entes queridos, para fazermos um passeio, uma festa, passarmos mais tempo em família, lermos um bom livro ou apenas descansarmos um pouco. Seja como for, todos precisamos de momentos para chamarmos de nossos, um tempo que não pertença ao nosso trabalho e as nossas corriqueiras preocupações.

            Acredito que a maioria de nós viva a ilusão da eternidade, de que sempre haverá um tempo para fazemos aquilo que não demos conta de fazer, para sermos mais gentis com quem amamos, para tocarmos os projetos engavetados, só que tudo isso é mera ilusão. Do tempo só nos é dado manejar o hoje e nada mais. Desse modo, ou fazemos algo agora, seja pelos outros por nós mesmos, ou ficamos esperando por datas, por marcos que nada mais são do que meros números e convenções.

            O ano de 2017, para mim, foi especialmente significativo nesse sentido. Acredito que estou mais consciente de que preciso mais de ações do que de intenções; que preciso verbalizar o que o tempo um dia irá calar, que preciso esbanjar sentimentos que um dia podem me faltar ou cujos destinatários não possam mais receber. Nesse sentido, fiz bem mais do que havia feito, tirando planos engavetados, vencendo parte da inércia que me fazia sua refém. Muito, no entanto, ainda há a ser feito e esse o desafio que me proponho para 2018.

            Infelizmente algumas ausências não poderão ser supridas e no lugar delas restará somente a saudade, mas buscarei celebrar as chegadas, os reencontros, os recomeços. Enquanto estamos vivos temos a bola em campo, temos a chance de fazer diferente, de darmos mais de nós.

            Penso, ainda, que é importante que não nos fixemos nos resultados, naquilo que pensamos ser o melhor para nós. Primeiro porque altas expectativas podem trazer quedas vertiginosas e segundo porque podemos estar errados sobre os caminhos que escolhemos. A vida, nesse sentido, é mestre em redirecionar planos.

            Gostaria que todos os desejos de feliz ano novo pudessem se realizar, mas todos nós já vivemos tempo suficiente para sabermos que não é exatamente assim que as coisas ocorrem. Desejo, portanto, que o ano vindouro possa permitir que nosso tempo nesse mundo se estenda para além dele e que dentro de nossas limitações, possamos fazer a diferença positiva na vida dos outros e na nossa mesma.

            Desejo que tenhamos saúde, que nossas crenças nos deem o conforto para as horas difíceis que porventura nos alcancem, que não nos falte paciência para vencermos nossas falsas urgências, que nossos pés não hesitem diante dos necessários passos e que nossos corações tenham dobrada a capacidade de amar.

            Desejo, por fim, que tenhamos a coragem de sermos bons, justos e honestos e que, daqui mais um ano, possamos estar juntos em mais uma leitura. Agradeço, profundamente, a cada um de vocês, leitores, pela generosidade de me acompanharem por mais esse tempo, mesmo quando as palavras me faltaram em qualidade, mesmo quando ousei externar minhas dores e perdas. Saber que estiveram aí, do outro lado do papel, foi um dos meus pontos altos de 2017. Que venha 2018. Estaremos, todos, a postos...

 

 

 

  CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA -     Advogada,professora universitária, membro da Academia Linense de Letras e escritora.  São Paulo-