Rebelião em presídio de Goiás deixa nove detentos mortos e 14 feridos

RIO — Detentos do regime semiaberto de um presídio na Região Metropolitânia de Goiás iniciaram uma rebelião na tarde desta segunda-feira que deixou nove mortos. Os presos de uma ala da Colônia Agroindustrial, no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, invadiram alas de detentos rivais. De acordo com a Superintendência Executiva de Administração Penitenciária (Seap) de Goiás, além dos nove mortos, 14 internos ficaram feridos. Eles receberam atendimento médico e já retornaram para suas celas.
Durante a violência, 106 presos que cumpriam pena no regime fechado fugiram. Desses, até as 19h30 desta segunda-feira, 29 haviam sido recapturados pelas forças de segurança pública, mas ainda havia 77 foragidos. Outros 127 apenados também saíram da unidade durante a confusão, mas retornaram quando a situação foi controlada.
Na invasão, os detentos incendiaram colchões da unidade prisional, deixando corpos carbonizados. Acionado, o Corpo de Bombeiros conteve o fogo. O presídio foi retomado pelo Grupo de Operações Penitenciárias Especiais (Gope), com apoio do Batalhão de Choque da Polícia Militar, por volta das 16h. De acordo com a Seap, o Grupo de Radiopatrulha Aérea (GRAer) da PM também está no local desde o início da rebelião para dar apoio na contenção de fugas e na recaptura de foragidos.
A operação conta ainda com um helicóptero, que monitora os arredores da unidade para procurar eventuais fugitivos. Ao saber da rebelião, familiares dos presos foram para a porta do presídio na busca por informações sobre seus parentes.
Um relatório divulgado em 2016 pelo Tribunal de Justiça de Goiás alertava para "iminente risco de nova rebelião" na Colônia Agroindustrial. Segundo o documento — intitulado "Relatório de inspeção aos presídios de Goiás" — a unidade tem capacidade para 122 presos do regime semiaberto. Durante visita realizada em março de 2015, após um incêndio no local em 2014, o presídio abrigava 330 detentos. O documento relata que a penitenciária já chegou a abrigar 423 presos. Ainda segundo o relatório, a unidade dem 10 alojamentos individuais e seis coletivos. O documento indica que presos de diferentes facções criminosas eram separados em alas diferentes por questões de segurança. A avaliação, na época, foi de que a segurança do local era ruim — "são apreendidos com frequência aparelhos de celulares e drogas de todos os tipos", diz o documento.
No dia 28 de dezembro, um preso foi morto ao tentar fugir da Colônia Agroindustrial. Na ocasião, a Superintendência Executiva de Administração Penitenciária informou, por meio de nota, que Leonardo Rocha tentava escapar pelo telhado da unidade junto com outros dois detentos. Os agentes dispararam contra os presos depois que eles desobedeceram a ordens para desistir da fuga. Rocha foi atingido e morreu no local. Os outros dois presos conseguiram fugir.
CONFRONTOS EM OUTROS DOIS PRESÍDIOS DO ESTADO
Houve confrontos em outros dois presídios do estado de Goiás durante a virada do ano. Na unidade prisional de Santa Helena de Goiás, um agente de plantão foi rendido por volta de 0h15. Em seguida, houve tumulto em uma das alas, onde presos tentaram invadir outra ala com a intenção de executar vingança motivada por rixas anteriores. Nove deles ficaram feridos, receberam atendimento e retornaram para suas celas. Outros seis presos, que foram identificados como autores do motim, foram transferidos para o Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia para cumprir Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).
A Polícia Militar foi acionada, dando apoio na área externa da unidade e o Gope efetuou a liberação do refém. Foi aberto procedimento administrativo para apuração dos fatos.
Outro tumulto entre presos, na unidade prisional de Rio Verde, também durante a virada do ano, foi contida pela Polícia. De acordo com a Seap, houve intervenção por parte dos agentes de plantão e os responsáveis foram autuados na Delegacia de Polícia Civil do município.

O ministro da Justiça, Torquato Jardim, afirmou que o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), vinculado à pasta, não foi procurado pelo governo de Goiás para comunicar ou pedir auxílio nas duas rebeliões deflagradas nesta segunda-feira no estado, mas disse que está "alerta para outros eventuais episódios". Segundo ele, a ação foi conduzida pelo governo goiano.
Na avaliação de Torquato Jardim, os dois episódios estão restritos a disputas locais e não têm similaridade com a guerra de facções deflagrada no início de 2017 e que culminou em mais de cem mortes em estados como Amazonas, Rio Grande do Norte, Paraíba e Roraima.
CRISE PENITENCIÁRIA EM 2017
Há um ano, no dia 1º de janeiro de 2017, uma rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, deixou 56 presos mortos. Na época, outras penitenciárias do Norte e do Nordeste registraram atos de revolta entre os presos.
No Amazonas, presos da Unidade Prisional do Puraqueuqara (UPP) também se rebelaram, um dia depois dos detentos do Compaj. Quatro presos foram mortos nesse motim. No dia 4 de janeiro, foram registradas mortes de detentos na Paraíba. E, no dia 6, uma rebelião em Roraira deixou 33 mortos. Um novo ápice da crise penitenciária ocorreu no Rio Grande do Norte, quando 26 detentos foram mortos na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta, no dia 14 de janeiro. A rebelião durou 13 dias. Naquele mês, também foram registradas mortes de detentos em Maceió e São Paulo.