Quem é o candidato mais rico do Brasil preso em Madri por estelionato
Candidato à prefeitura de Marília, no interior de São Paulo, em 2024, João Henrique Pinheiro declarou, na época da campanha, um patrimônio de R$ 2,8 bilhões ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O homem que ficou conhecido por ser o candidato mais rico do Brasil nas últimas eleições municipais está preso em Madri, na Espanha, desde 27 de maio, após ter sido incluído na lista vermelha da Interpol a pedido da Bolívia em um processo sobre um suposto caso de estelionato.
Sem experiência prévia na política, Pinheiro terminou o pleito na quinta colocação, com apenas 3% dos votos. Na campanha, ele chegou a fazer uma “carreata de ostentação” com direito a Porsche, Ferrari e helicóptero ocupando uma das principais avenidas da cidade de 240 mil habitantes no interior de São Paulo.
Reprodução/Instagram
Carreata de candidato mais rico do Brasil
O valor que ele declarou à justiça eleitoral representava quase o dobro do orçamento da cidade de Marília, estimado em R$ 1,6 bilhão no ano passado.
Segundo o site do TSE, a maior parte da fortuna de João vem gestão de uma empresa de açúcar, que frequentemente patrocinava sorteios e realizava doações em eventos na cidade. Além do negócio, o candidato também obtém rendimentos de ações em um empreendimento de criação de bovinos.
Segundo o site do TSE, a maior parte da fortuna de João vem gestão de uma empresa de açúcar, que frequentemente patrocinava sorteios e realizava doações em eventos na cidade. Além do negócio, o candidato também obtém rendimentos de ações em um empreendimento de criação de bovinos.
Aguarda extradição
Neste momento, o governo boliviano aguarda a extradição pelo governo espanhol. Na última terça-feira (2/9), Pinheiro teve um pedido de habeas corpus negado pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A defesa do empresário pedia a revogação da prisão preventiva, alegando excesso de prazo para a conclusão do processo de extradição pelo Estado boliviano, “causando constrangimento ilegal e coação a um brasileiro nato”.
Pinheiro também alega, por meio da defesa, que a Lei de Extradição Passiva entre Espanha e Bolívia prevê um prazo improrrogável de 45 dias para conclusão do procedimento. Esgotando esse prazo, ainda segundo a defesa, o detido deveria ser “colocado imediatamente em liberdade, o que não ocorreu”.
“Estamos com processo no Ministério da Justiça, agora também tentando esse instrumento no STF, utilizando de precedente semelhante na Suprema Corte, onde esta teria competência para solicitar informações e medidas a autoridades estrangeiras, semelhante julgado em demanda sobre Marco Civil, onde o STF solicitou informações às big techs”, afirmou o advogado do empresário, Luiz Eduardo Gaio.
Ao negar o pedido, Barroso argumentou que o STF não tem competência para processar e julgar habeas corpus contra “ato imputado ao Poder Judiciário espanhol”.
Fraude na Bolívia
De acordo com o jornal boliviano El País, João Henrique Pinheiro, que é empresário do ramo de açúcar, é acusado de fraude envolvendo a implementação de um complexo industrial de cana na cidade boliviana de Bermejo.
O empresário teria se apresentado como fornecedor de máquinas especializadas para a construção do engenho e convencido investidores a assinar um contrato de US$ 684 mil pelo maquinário, que nunca foi entregue.
Cerca de 80 famílias teriam sido impactadas e o prejuízo teria ultrapassado a casa de US$ 1 milhão, considerando também os gastos em infraestrutura para a construção do novo engenho.
Ainda segundo o periódico, uma comissão do projeto chegou a viajar ao Brasil e confirmar que os equipamentos que Pinheiro exibia não lhe pertenciam.
De acordo com o advogado de Pinheiro, o caso se refere a um “desacerto comercial”, que teria sido objeto de pedido de arquivamento pela promotoria boliviana ainda no final de 2022, mas reaberto em 2023.
“Sem intimação por nova carta rogatória, sem direito à nova defesa, tentativa de intimação do João em endereço na Bolívia, que nunca morou. Após não conseguir, expediu prisão preventiva em inquérito na Bolívia, devido a não terem encontrado o João”, afirmou o Luiz Eduardo Gaio.
Ainda de acordo com o defensor, quando Pinheiro foi detido na Espanha, os autos na Bolívia estavam em sede de inquérito. “Sequer denunciado o João havia sido, mas, após a detenção na Espanha e notificação da Bolívia, um outro promotor protocolou uma denúncia.”
Outra acusação
Em novembro do ano passado, o Metrópoles mostrou que um empresário do ramo açucareiro dos Estados Unidos acusou João Pinheiro de descumprir um contrato no valor de US$ 6,8 milhões (R$ 37,2 milhões) e de não entregar uma carga de 20 mil toneladas de açúcar.
O empresário Andrew Choi registrou o boletim de ocorrência on-line por estelionato. À época, a Polícia Civil informou que a ocorrência foi encaminhada à Central de Polícia Judiciária de Marília, no interior de São Paulo.
Já João Pinheiro alegou que a carga não foi entregue porque não foi paga em totalidade. “Existem os laudos do produto que não foram entregues pra ele [Andrew Choi]. Ele vendo esse laudo e pagando o restante do produto, ele recebe a carga”, disse o então candidato.