PMDB volta a ser MDB: alma de Ulysses protesta no além
Numa convenção extraordinária chamada para hoje pelo senador Romero Jucá, o PMDB voltará a se chamar MDB. Em algum lugar do outro mundo alguns líderes do partido que combateu a ditadura devem estar protestando contra esta heresia, entre eles Ulysses Guimarães, Franco Montoro e Teotônio Vilela. Diferentemente do MDB, que enfrentou a ditadura lutando pela restauração democrática e teve por isso muitos de seus líderes cassados, o PMDB de Jucá, Temer, Geddel e Eliseu Padilha enxovalhou a democracia que herdam com o golpe parlamentar de 2016.
Outro ponto da pauta da convenção de hoje também deve incomodar os verdadeiros emedebistas que já se foram. Terá início a discussão do novo programa do partido, que na prática é uma adaptação do documento “Ponte para o Futuro”, base programática com que Temer e sua turma buscaram apoio da elite econômica para a derrubada da presidente eleita Dilma Rousseff e a posse de seu vice. O documento “Ponte para o Futuro”, que defende a redução do Estado, as privatizações e a abertura entreguista ao capital estrangeiro, é a antítese do programa do velho MDB, que tinha forte viés nacionalista, defendia um Estado forte e com papel ativo no desenvolvimento nacional e a criação de políticas e direitos sociais que vieram a ser inscritos na Constituição de 1988. Economistas, políticos e pensadores como Severo Gomes, Luciano Coutinho, Celso Furtado, Carlos Lessa e Maria da Conceição Tavares eram os responsáveis pela atualização permanente do programa do MDB e sua tradução em propostas de políticas para o desenvolvimento nacional soberano e includente.
Para rebatizar o partido que já foi qualificado pela PGR como organização criminosa, Jucá argumenta que a letra P foi imposta pela ditadura mas não foi bem assim. A reforma partidária de 1979 extinguiu a Arena e o MDB e exigiu que as novas agremiações tivessem a palavra partido em seu nome. Para preservar sua identidade oposicionista, o partido optou pela colocação do P. O que o PMDB de Jucá busca agora é apropriar-se da aura e da memória do velho partido de oposição ao arbítrio para atenuar a mácula que carregará, para sempre, por ter sido o principal agente de um golpe contra a ordem democrática.
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A POLITICA COMO ELA é (POR : TEREZA CRUVINEL)
Tereza Cruvinel atua no jornalismo político desde 1980, com passagem por diferentes veículos. Entre 1986 e 2007, assinou a coluna “Panorama Político”, no Jornal O Globo, e foi comentarista da Globonews. Implantou a Empresa Brasil de Comunicação - EBC - e seu principal canal público, a TV Brasil, presidindo-a no período de 2007 a 2011. Encerrou o mandato e retornou ao colunismo político no Correio Braziliense (2012-2014). Atualmente, é comentarista da RedeTV e agora colunista associada ao Brasil 247; E colaboradora do site www.quenoticias.com.br