Pesquisa da UFG comprova penetração de agroquímico para além da casca da maçã

A pesquisa desenvolveu uma metodologia para monitorar a distribuição e penetração do agroquímico. Inicialmente, a fruta foi mergulhada em solução aquosa com imazalil e, em dias específicos, durante uma semana, foram realizadas análises com a maçã armazenada. Foto: Pixabay
A aplicação de fungicidas em hortifruti para aumentar a vida útil dos produtos é prática rotineira de produtores e comerciantes. O que pouca gente sabe é que, com o tempo, esses agroquímicos podem penetrar nas estruturas internas de frutas e verduras. Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Goiás (UFG), em parceria com a Louisiana State University, comprovou que o fungicida imazalil, um dos mais utilizados em hortifruti nas prateleiras, penetra para além da casca da maçã em apenas sete dias.
O fungicida é utilizado em frutas cítricas, pós-colheita, para inibir o desenvolvimento de fungos, postergando o apodrecimento do produto. Segundo os resultados do estudo, após sete dias de aplicação, o imazalil penetra até 6 milímetros da maçã. “Utilizamos uma maçã fuji orgânica e comprovamos que a penetração do agroquímico é considerável. Chegou a penetrar um pouco antes da metade da fruta. E isso em sete dias, ou seja, em pouco tempo”, afirma o pesquisador Igor Pereira.
De acordo com o orientador da tese, professor do Instituto de Química da UFG, Boniek Gontijo, as especificações contidas no rótulo do produto afirmam que o fungicida fotodegrada com o tempo, ou seja, após a aplicação, sua molécula é degradada pela luz, portanto, não haveria risco de permanecer nos hortifrutis. No entanto, a pesquisa comprovou que a molécula não degrada e, mais, penetra no interior da fruta com o tempo. “Inclusive realizamos um teste de exposição do fungicida à luz ultravioleta e ele não degradou”.
Abordagem inovadora

A pesquisa desenvolveu uma metodologia para monitorar a distribuição e penetração do agroquímico. Inicialmente, a fruta foi mergulhada em solução aquosa com imazalil e, em dias específicos, durante uma semana, foram realizadas análises com a maçã armazenada. “Observamos que a penetração é proporcional ao tempo em que o fungicida fica exposto na fruta. É gradativo e proporcional. Após 30 minutos o composto estava limitado à casca. Um dia depois ele já havia penetrado 1 milímetro. No quarto dia, 3 milímetros”, explica o pesquisador Igor Pereira.
No sétimo dia, o agroquímico já havia penetrado 20 % da maçã. Os outros 80% ficaram limitados à casca. “Não sabia quando começava a internalização da molécula. A minha grande surpresa foi perceber que, um dia após a aplicação, o agroquímico já havia penetrado na fruta”, afirma Igor Pereira. Já o professor Boniek Gontijo chama a atenção para a abordagem inovadora da pesquisa, que, além de comprovar a penetração, monitorou a profundidade do alcance do fungicida na fruta. “A maior parte das técnicas e métodos não se prendem à distribuição espacial”, explica. O estudo, realizado com uma parceria entre o Laboratório de Cromatografia e Espectrometria de Massas (LaCEM) da UFG e o grupo do professor Kermit Murray, da Louisiana State University, foi publicado pela revista Analytical Chemistry.
Orientações de consumo
Conforme explica professor Boniek, geralmente o fungicida imazalil, com toxidade moderada, é aplicado em alta concentração. “Normalmente, aplica-se mil microgramas por quilograma da fruta, o que está muito acima do limite permitido para a saúde humana”. Segundo ele, após a aplicação, a concentração tende a diminuir. “Seja porque penetrou na fruta, seja porque evaporou, por exemplo”. Mas uma forma de minimizar o dano à saúde é lavar o produto com água e sabão antes de guardar na geladeira.
“É importante utilizar água e sabão para remover o composto da casca o quanto antes. Não adianta só lavar com água”, afirma o professor. Assim como ele observa, as pessoas têm o costume de comprar e armazenar na geladeira para consumir posteriormente. “Fazendo a lavagem assim que chegar em casa, você consegue retirar parte desse fungicida que ainda está na casca, evitando que migre para parte interna da fruta”, explica. (UFG)
Leia mais sobre Ciência, Tecnologia e Inovação em BRASIL CTI.