OS ENCANTOS DO CENTRO

3 de janeiro de 2018 733

Morei no centro de Jundiaí de 1963 a 1988 e, dependendo do tempo em que se reside em uma casa, o entorno dela também mora em nós. Lugares em que, naquela época, eu me encontrava com mais frequência: Catedral NSD, Mosteiro São Bento, Praças Governador Pedro de Toledo e Marechal Floriano Peixoto, Grêmio CP, Gabinete de Leitura Ruy Barbosa, Cine Marabá e Ipiranga, ruas: Barão, Rosário, Rangel Pestana, Mal. Deodoro da Fonseca... O centro, portanto, é para mim carregado de encontros e descobertas, cuja memória me abraça. E foi, também, nesse espaço que pude observar que cada um acrescenta um tom diferente ao cotidiano.
Passei uns dias no centro, no Museu Histórico e Cultural de Jundiaí – Solar do Barão, no início deste mês, devido à Exposição de Artes, Criatividade e Artesanato da Casa da Fonte, projeto socioeducacional, que tem como mantenedora a Companhia Saneamento de Jundiaí – CSJ. Gosto muito dessa experiência de trazer os alunos e os artesãos da Casa da Fonte, que residem no Jardim Novo Horizonte e redondeza, para a praça central. É um bairro que também me habita com força e ternura. Essa vivência sinaliza que o logradouro público é da população como um todo e fortalece a dignidade daqueles que residem na distância. E para os que chegam até a exposição, de mais perto ou mais longe, cumpre-se a possibilidade de conhecer novos valores. Ficar lá, naqueles momentos, me achega à equipe do Museu – queridíssima minha -, me diz da história de nosso município e me torna próxima de gente com a qual me deparo esporadicamente. Isso sem dizer dos novos conhecidos. Nesses instantes de vizinhança, não se joga conversa fora, mas se acrescenta informações e práticas que dão certo.
Noto que alguns indivíduos populares permanecem pelo calçadão, não consentindo que alterem o seu jeito de ser. A moça que retorna todos os anos, com vontade de música, senta em um degrau e dedilha um pequeno teclado colorido que comprou na loja de brinquedos. São elas e eles mesmos, com suas vitórias e tragédias. Não importa a plateia. Faz-me bem alcançá-los para lhes dizer, seja apenas com o olhar, sobre carinho e admiração.
Concluo que diversos lugares, além do centro, me habitam... Alguns com uma intensidade maior de inspiração, outros com pequenas centelhas de luz. Essas paragens todas me compõem na perspectiva da esperança.
 
 

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -

 Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.