O RIGOR CHOCANTE DA SENTENÇA CONTRA O HUMORISTA LÉO LINS É IMAGEM FIEL DO RETROCESSO CIVILIZATÓRIO EM CURSO
Não fosse o autoritarismo extremado da sua condenação a oito anos e três meses de prisão, apenas e tão somente por causa de suas declarações reunidas num vídeo, eu não teria sequer tomado conhecimento da existência de Léo Lins.
Li que o vídeo, gravado em 2022, mostra o humorista tirando sarro de negros, idosos, obesos, aidéticos, homossexuais, indígenas, nordestinos, evangélicos, judeus e pessoas com deficiência. Ou seja, ele conseguiu irritar os mais poderosos lobbies empenhados em calar o próximo, como se estivéssemos ainda submetidos à nada santa Inquisição.
Sou septuagenário, deficiente físico (parcialmente surdo por causa das torturas nos anos de chumbo), tecnicamente obeso, simpatizo com negros, nordestinos e indígenas, não discrimino absolutamente ninguém pelo sexo consentido que pratica e tenho muito respeito pela contribuição dos judeus (sionistas excluídos) à civilização.
Decerto consideraria de mau gosto o blablablá do Leo Lins, se o escutasse. Correndo o risco de ser considerado pedante, informo que meu tipo de humor é bem diferente, na linha dos Irmãos Marx, das deliciosas comédias italianas dos anos 60 e 70, dos quadrinhos do Henfi, do Quino e do Jules Feiffer, etc.
E, claro, percebo claramente que o tal Léo Lins deve agradar à direita grosseira e incomodar os chamados identitários. Mas, mesmo assim, sou obrigado a defendê-lo, pois é a única atitude compatível com as minhas opções de uma vida inteira.
Sou, antes e acima de tudo, visceralmente contrário a todas as formas de autoritarismo. E uma juíza impor sentença tão draconiana a algo que os cidadãos equilibrados nem sequer consideram crime é inimaginável. Serve apenas para comprovar que passamos por uma fase de retrocesso civilizatório aberrante.
Repito uma divagação pouco conhecida de Engels, sobre a derrota dos gladiadores de Spartacus que se ergueram contra o Império Romano. Ele constatou que desde os primórdios a humanidade vinha em trajetória ascendente quanto à construção de uma civilização, mas chegou a um impasse com Roma.
O único passo adiante possível naquele momento era o fim da escravidão, liberando formidáveis forças produtivas. E quem implicitamente acenou com tal possibilidade foram os gladiadores rebelados. Sua derrocada eliminou a única força histórica que naquele momento poderia conduzir a civilização a um estágio superior. Sem isto, o mundo sucumbiu por mil anos às trevas da barbárie.
Da mesma forma, o capitalismo foi pelo menos parcialmente pujante até que rompeu a barreira da necessidade, ou seja, até ter-se capacitado para proporcionar uma existência digna a cada habitante do planeta. E só poderia ter seguido adiante se empreendesse a construção de uma economia voltada para o atendimento das necessidades humanas e não para a realização do lucro.
Chegou a tal encruzilhada nos anos 60 e fez a opção negativa, represando os ventos de mudança e passando a desperdiçar os ganhos obtidos graças aos avanços científicos e tecnológicos não em objetivos nobres, mas sim no aprimoramento da dominação da maioria por uma ínfima, parasitária e predatória minoria..
Então, apesar de alguns avanços marcantes ainda terem se registrado no final do século passado, tais ganhos foram absorvidos pelas forças da desigualdade e da entropia, não levando ao redirecionamento dos nossos esforços no sentido da priorização do bem comum.
Cada vez mais disfuncional, a economia capitalista vai empurrando sua crise para a frente com a barriga, mas já se percebe claramente a proximidade do colapso definitivo. E nesse interim, a lavagem cerebral dos meios de comunicação de massa atinge eficiência plena no seu desígnio de colocar todos os povos, todos os grupos e todas as pessoas em confrontos brutais uns contra os outros.
O punitivismo rancoroso por parte dos identitários, que cancelam e caem de pau em todos que não seguem a cartilha simplória do politicamente correto, nada mais é do que o outro lado da moeda em relação à bestialidade dos ultradireitistas.
Os dois lados perderam totalmente a cabeça, deletaram os últimos resquícios de senso comum e normalizam desde os massacres dantescos de Israel em Gaza até as sentenças alucinadas como essa contra o humorista.
Tenho dito que a luta principal da nossa época é a da civilização contra a barbárie. Acrescento que não podemos desconsiderar, como uma de suas componentes destacadas, a batalha do bom senso contra os extremismos que só servem para dividir cada vez mais aqueles que só unindo-se conseguirão, talvez, evitar a extinção da espécie humana, que por enquanto é a possibilidade bem mais plausível.
A escolha é entre sobrevivermos juntos ou morrermos abraçados. (por Celso Lungaretti)
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