Com a falta de pique que me acomete quando estou gripado e não consigo ter boas noites de sono, apresento aqui, de forma bem sucinta, algumas informações relevantes para entendermos os últimos acontecimentos e o quadro atual:
— CALCANHAR DE AQUILES. O jornalista Luiz Weber, que é também especialista em direito constitucional, atribui a desistência de Joaquim Barbosa ao fato de que, aposentado do Supremo, ele passou a ser um dos principais pareceristas do mercado de munição jurídica.
Cada um desses pareceres sai por, no mínimo, R$ 300 mil. E, claro, quem tem essa grana preta para lhe pagar são grandes empresas pilhadas em situações melindrosas.
Não há nada de ilegal nisso, mas Barbosa certamente percebeu como ficaria mal na foto caso os adversários começassem a lhe atirar na cara que tem utilizado todo seu saber jurídico para livrar a cara de canalhas. Não condiria com uma imagem eleitoral depaladino da justiça.
— TUDO ISTO E O CÉU TAMBÉM. Artigo de hoje (9/5) do Josias de Souza veio ao encontro das minhas conclusões de quase um mês atrás (vide aqui). Há evidentes excessos retóricos, pois, afinal, ninguém em sã consciência acredita que o Lula atual fosse capaz de "organizar uma revolução" ou de "pegar em armas contra um Estado que o persegue" (nem o do passado, aliás).
Mas, o Josias está certo em afirmar que, atirando em duas direções antagônicas, ele e o PT não acertarão em alvo nenhum. Ou mantêm a narrativa do inocente que estaria sendo vítima de um monumental complô, conformando-se com sua longa permanência atrás das grades; ou baixam a bola para tirar Lula da prisão no indulto natalino.
— TROTSKY TAMBÉM QUEBROU A CARA... Faz-me lembrar um dos piores fiascos da trajetória do grande Leon Trotsky. Assumido o poder em 1917, os bolcheviques se deram conta de que não tinham condições para continuarem lutando contra a Tríplice Aliança (Império Alemão, Impérios Centrais e Austro-Hungria), pois o exército se esfarelara. Então, resolveram firmar uma paz em separado com o inimigo, evitando assim uma invasão da qual não conseguiriam se defender.
Mas Trotsky, conduzindo as negociações pelo lado russo, utilizou todo seu brilho intelectual para enrolar o outro lado e ganhar tempo, na esperança que o conflito terminasse logo, pois já se encaminhava para a vitória da Inglaterra, França e EUA.
Funcionou durante algum tempo mas depois a Rússia, recebendo um ultimato assustador, teve de fazer às pressas concessões ainda piores do que as antes exigidas. O próprio Lênin se posicionou pela assinatura do que seria o Tratado de Brest-Litovski, embora afirmando que se tratava de uma paz vergonhosa.
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— ...MAS O PT ADORA COPIAR O QUE NÃO DEU CERTO. Alunos relapsos de História, os petistas estão cometendo o mesmíssimo erro: tentam impor aos outros aquela que seria a melhor das soluções possíveis para si, ou seja, querem a libertação do Lula mas não abrem mão das suas acusações contra o Judiciário.
E, claro, falta-lhes cacife para ganharem tal parada, assim como à combalida Rússia faltava cacife para abandonar a guerra sem ceder os territórios exigidos pelo inimigo como compensação.
— O NOVO, ONDE ESTÁ O NOVO? Uma boa panorâmica das perspectivas para a próxima eleição presidencial é dada por Hélio Schwartsman na sua coluna desta 5ª feira (10). Segundo ele, "vão se acumulando sinais de que as forças da inércia são poderosas", pois a desistência de Barbosa, após a do Luciano Huck, "mostra que o sistema não é muito amigável para neófitos".
Sobram, então, "velhos conhecidos como Marina, Ciro, Alckmin", além de Bolsonaro, que "tenta vestir-se de novo, mas (...) cumpre seu sétimo mandato de deputado federal".
Se o PT não indicar logo o substituto de Lula, Marina ou Ciro se beneficiarão. Os tucanos têm de manter Alckmin vivo até o início da campanha na TV, quando o peso da estrutura partidária se fará sentir. Se Bolsonaro chegar ao 2º turno, seu adversário "estará com a faca e o queijo na mão", pois "extremistas tendem a ser rejeitados".