O JULGAMENTO LEGAL DO LULA AINDA NEM COMEÇOU, MAS O MORAL VOCÊ PODE CONHECER DESDE JÁ.

23 de janeiro de 2018 972
OS CRIMES COMPROVADOS DE LULA QUE
SÓ O ELEITOR TEM CONDIÇÕES DE JULGAR
Às vésperas da decisão do TRF4 sobre o caso Lula, é obrigatório repetir o que escrevi no dia 13 de julho do ano passado: "Prefiro que Luiz Inácio Lula da Silva seja julgado pelos eleitores, no pleito presidencial de 2018, do que impedido de concorrer por uma decisão judicial.
 
A menos, óbvio, que as investigações sobre o ex-presidente cheguem a um batom na cueca, caso em que merece ser condenado e preso".
 
Acrescento o que faltou dizer em 2017: as únicas pessoas autorizadas a decidir se há ou não um batom na cueca, do ponto de vista jurídico, são os integrantes do TRF4. Não são os amigos e/ou correligionários de Lula nem seus inimigos e/ou adversários.
 
Ou o Brasil aceita de uma vez por todas a prevalência das instituições —no caso, o sistema judicial— sobre interesses pessoais e eleitorais ou jamais chegaremos a ser um país civilizado.
 
Explico agora porque prefiro o julgamento das urnas: está perfeitamente comprovado que Lula cometeu um crime do ponto de vista do comportamento político, ético e administrativo, seja ou não dono do tal triplex. 
 
Não é apenas a minha opinião: foi o que disse à Folha, no domingo, 21, Cesar Benjamin, que conhece o PT e seu líder por dentro, por ter coordenado a campanha de Lula à Presidência em 1989 e por ter sido um dos fundadores do PT (saiu, desiludido, em 1995): 
"Como cidadão, sei que ele [Lula] deve ser condenado politicamente, pois, ao escancarar as portas do Estado para a corrupção e aceitar a função de lobista de grandes empresas, não manteve a dignidade que se espera de um presidente da República e um líder popular".
É isso, simples assim.
 
Há mais, usando de novo o texto publicado em julho passado:
 
1 - Está comprovado que a Petrobras foi o epicentro de um gigantesco esquema de corrupção, durante o governo Lula (e também com Dilma Rousseff).
 
As provas, nesse capítulo, são caudalosas, inclusive e principalmente a confissão de ex-diretores e devolução de dinheiro. Ninguém devolve dinheiro auferido legalmente.
 
Se Lula participou do esquema de corrupção, não sei. Mas chefe que deixa roubar é sempre politicamente culpado.
 
Que Lula sabia da corrupção, prova o fato, confessado por ele próprio, de que cobrou Renato Duque, um dos diretores envolvidos, sobre o esquema montado na empresa estatal.
2 - Que o PT se lambuzou com a corrupção é também fora de dúvida. A expressão lambuzou-se não é do juiz Sergio Moro, mas de Jaques Wagner, um dos principais cardeais petistas.
 
Lula, como principal liderança do partido, pode até ser inocente de tudo, mas, mesmo que o seja, demonstrou não controlar o apetite voraz de seus companheiros.
 
Ou é conivente ou omisso, crimes políticos imperdoáveis.
 
3 - Que há uma escandalosa promiscuidade entre Lula, a Odebrecht e a OAS, entre outras construtoras, também ninguém discute.
 
Lula se transformou em caixeiro viajante a serviço da Odebrecht, uma empresa que confessa ter adotado práticas impróprias.
 
Só Lula não sabia dessas práticas? O ex-presidente, no cargo ou depois de deixá-lo, nunca escondeu que vendia empresas, produtos e serviços brasileiros em outros países, entre eles principalmente a Odebrecht.
 
Ou, posto de outro modo, a corrupção transformou-se, com Lula, em produto de exportação, de que dá prova, por exemplo, o fato de que todos os presidentes peruanos deste século receberam propinas da Odebrecht. Um deles está até na cadeia.
 
Não é só a Odebrecht: é escandalosa a familiaridade com que Lula se referia, no depoimento a Moro, ao Leo, que vem a ser Leo Pinheiro, presidente da OAS, que se deu ao trabalho de sair do seu escritório para servir como corretor para vender (ou doar) um apartamento a Lula.
 
Essa gestão também está comprovada e, mesmo que não haja ilegalidade, é moralmente inaceitável quando todo o mundo sabe que empresas como a OAS (e a Odebrecht) dependem de negócios com o poder público.
 
O elenco de detalhes desabonadores para o ex-presidente poderia estender-se, mas já basta para voltar ao início deste texto: o ideal seria que o eleitorado decidisse se são suficientes para não votar em Lula ou se a maioria não se incomoda com eles. 
 
Demonstraria se o caso Lava-Jato foi suficientemente pedagógico para o eleitorado brasileiro ou se ele prefere continuar sendo mal educado para usar o rótulo (correto) que Washington Olivetto pespegou no Brasil, na sua entrevista deste domingo (21) à Folha.
 
 
Celso Lungaretti
LULA É HOJE UM PERSONAGEM NOCIVO PARA
IMPRESCINDÍVEL REVOLUÇÃO BRASILEIRA
O artigo do veterano e ótimo jornalista Clóvis Rossi é uma espécie de julgamento moral do Lula, à luz dos valores republicanos e do Estado democrático de Direito, que têm sido incensados pelo PT desde que abandonou de vez a luta contra a exploração do homem pelo homem e, consequentemente, pela substituição da democracia burguesa por uma democracia que pertença a todos e a todos expresse, ao invés de um mero arcabouço institucional da imposição dos interesses da classe dominante aos dominados.
 
Meu ângulo de análise é outro, o de um revolucionário que está se lixando para osvalores republicanos e o Estado democrático de Direito. Então, não me aterei a detalhes policiais do caso, mas, tão somente, ao papel histórico do Lula.
 
Nordestino pobre que, embora tenha vindo para São Paulo aos sete anos de idade, absorveu as influências do coronelismo (tanto que sempre se deu bem com os ACM's e Sarneys da vida), mesclando-as depois com as do nascente sindicalismo de resultados do final da ditadura.
 
O certo é que sua projeção como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP) se deu graças a greves sobre as quais sempre pairou a suspeita de que fossem combinadas com as grandes montadoras: querendo livrar-se do congelamento de preços que a ditadura lhes impunha, interessava-lhes que houvesse tais paralisações, dando-lhes pretexto para cobrar mais pelos veículos como forma de compensar os aumentos de salários por elas concedidos. Os ministros da Fazenda da ditadura acabavam cedendo às suas pressões e abrindo uma exceção para elas. 
 
 
Durante tais greves, muitos militantes de esquerda tentavam entrar no território de Lula e sua patota sindicalista, sendo firmemente rechaçados. 
 
Depois, contudo, com a volta de Leonel Brizola ao Brasil, Lula percebeu que, se o deixasse sair na frente na organização de um partido de esquerda, acabaria se tornando um mero satélite na sua órbita. Mas, como estruturar um partido nacional se ele e seus seguidores só eram influentes em São Paulo? 
 
Assim, embora viesse até então mantendo zelosamente os esquerdistas de fora  do ABC afastados das assembleias no estádio de Vila Euclides, foi obrigado a negociar com os ditos cujos para ganhar a abrangência que lhe permitisse travar uma disputa equilibrada, pela hegemonia da esquerda, com o PTB (acabou sendo PDT) de Brizola. 
 
As forças que se uniram para formar o Partido dos Trabalhadores foram os sindicalistas do ABC, os partidos e grupos de esquerda que haviam sobrevivido ao terrorismo de Estado da ditadura e a chamada esquerda católica.
Ou seja, circunstancialmente Lula foi obrigado a somar forças com a esquerda, mas nunca morreu de amores por ela. Solapou sua influência na década de 1980 estimulando o inchaço do PT (a permissão do ingresso em massa de ambiciosos de todo tipo, interessados num bolso mais cheio e não numa sociedade mais justa), apoiando o expurgo de tendências como a Convergência Socialista e, enfim, alinhando-se sempre com as posições que conduziam à desideologização do partido.
 
A seu mando, Zé Dirceu fechou com os poderosos da economia o acordo pelo qual estes não se oporiam à eleição e posse de Lula como presidente da República, comprometendo-se o novo governo, em contrapartida, a não tomar decisões macroeconômicas desfavoráveis aos donos do Brasil. Cada vez que eu o escutava repetir que os banqueiros nunca haviam lucrado tanto quanto com ele no poder, quase vomitava!
 
Então, o verdadeiro significado dos governos petistas foi o engessamento da luta contra o capitalismo, com os explorados sendo levados a crer que, de migalha em migalha, acabariam enchendo o papo. Mas, quando a economia entrou em crise e não havia mais migalhas a distribuir, as galinhas se viram sob uma das piores recessões brasileiras de todos os tempos e cruzaram as asas enquanto Dilma Rousseff era enxotada do poder. 
 
O que poderemos esperar de Lula, caso os poderosos lhe permitam concorrer à eleição presidencial e, vencendo, ser empossado? 
 
Existe alguém que acredite numa conversão miraculosa aos ideais revolucionários? 
 
Ou ele protagonizará mais uma (de antemão fracassada) tentativa de provar que a conciliação de classes e o reformismo ainda podem fazer a felicidade do povo brasileiro, embora tal crença nos faça marcar passo desde 1986?
 
Neste sentido, eu também prefiro que Lula seja rechaçado pelo eleitorado e não afastado da eleição pela Justiça burguesa. Pois, hoje, ele não passa do obstáculo para que os explorados tomem seu destino na mão e passem a construir uma sociedade bem diferente dessa atual, que se mostra cada vez mais desigual e bárbara. 
  
O certo é que, aconteça o que acontecer no julgamento legal do Lula, seu papel histórico já está encerrado. Deveria ter pendurado as chuteiras há muito tempo.
 
Torço para que sua aposentadoria não se dê sob a humilhação e o constrangimento das grades, pois é algo que nenhum ancião merece, quando não tiver cometido crimes hediondos nem se constituir numa ameaça para a sociedade. Mas, para a necessária e imprescindível revolução brasileira, ele hoje não passa de um personagem nocivo.
 
(o texto é definitivo, a edição será completada mais tarde)
 
A VISÃO DEMOCRÁTICA (POR CELSO LUNGARETTI )