O INFELIZ CRESCIMENTO DA DIREITA

16 de fevereiro de 2024 203

 

"O fascismo é uma forma de crise terrorista da dominação capitalista, uma tentativa de perpetuá-la por meio de métodos bárbaros e de uma ideologia delirante. No entanto, a crise social e ecológica que assola o sistema mundial capitalista tardio é muito mais profunda do que a crise económica global desencadeada em 1929. 

Tornou-se impossível resolver as contradições e a crise do capital mediante um novo modelo de acumulação que absorva massas de trabalho lucrativamente. Portanto, só pode haver um prolongamento da crise, não uma solução para ela." (Tomasz Konicz) 

Há um evidente e infeliz crescimento da direita que pode ser comprovado pela eleição, aqui e alhures, de candidatos com pautas retrógradas que há alguns anos seria digna de repulsa coletiva.  Cabe, portanto, uma análise de por que tais  estrovengas conseguirem respaldo popular. 

A direita liberal, reacionária às transformações sociais e conservadora nos costumes, quer um estado mínimo que sirva apenas para manter as instituições que sustentam sua dominação, perpetuando uma ordem política que mantém, sufocada pelos impostos, uma população já exaurida por uma relação social subtrativa do tempo-trabalho-valor dos trabalhadores abstratos, assalariados (os quais morrem nas filas do bem intencionado SUS, eternamente desprovidos de recursos para darem às mães grávidas e à sua família a assistência médica de que necessitam).  

Considera a homossexualidade como uma doença ou um pecado diante de Deus e nega ou expulsa seus filhos homoafetivos de casa como se fossem possuídos pelo demônio e indignos do convívio familiar. 

Mas aplaude e vota em quem hipocritamente diz ser defensor da família mas muda de esposa a cada ciclo de idade como forma de manter o viço da juventude de suas parcerias. 

A qual fuhrer será que eles estão saudando? Ao Bozo? 

[Enquanto isto, ele próprio, o dito Messias imbrochável, fenece longe das mães envelhecidas dos seus filhos, e sempre como fiel serviçal dos interesses mesquinhos da segregação socio-econômica).

Faz apologia das armas como contributo para a paz e condecora a ralé miliciana que explora o povo empobrecido, subjugando-o pelas armas. 

Exalta a honestidade com o dinheiro público, mas não deixa de apropriar-se indebitamente de joias valiosas recebidas de nações estrangeiras como cortesias diplomáticas, além de comprar imóveis caros com dinheiro vivo, aumentando o patrimônio pessoal sem declaração ao imposto de renda.  

Acha justo que o seu país pague juros diferenciados e caríssimos aos bancos e rentistas por sua dívida pública, mas quer retirar dos previdenciários e trabalhadores os direitos que a legislação lhes concede, sob o pretexto de manter saudáveis as contas públicas (Milei que o diga). 


Considera que o governo de Israel tem o direito de retaliar a agressão do Hamas exterminando a população civil palestina da faixa de Gaza e destruindo prédios residenciais e instalações, ou submetendo-a a um êxodo forçado mundo afora, numa nova diáspora, a exemplo daquelas de que os próprios judeus foram vítimas no passado ancestral e na 2ª Guerra Mundial.  

Não se peja de usar a mentira como instrumento de veiculação dos seus propósitos inconfessáveis, seja por fake news robotizadas ou pela deliberada deturpação da verdade, como quando atribuiu à esquerda (?) a frase somos mais populares que Jesus.

Em tal estridência, proferida por John Lennon numa entrevista de 1966, o somos se referia apenas aos Beatles. E agora, numa saída pela tangente para eximir-se de culpa pelo assassinato de Marielle Franco, Bolsonaro acaba de recorrer ao mesmo expediente. 

Ele atribuiu ao miliciano Domingos Brazão (denunciado como mandante daquele duplo homicídio) envolvimento com a esquerda petista, porque o dito cujo apoiou Dilma  numa eleição na qual tinha interesse eleitoral pessoal específico. E há quem engula a lorota: ouvi de um motorista por aplicativo a certeza de que fora o PT o culpado (!).  

Seria infindável a citação das fake news da direita via internet;  e, infelizmente, elas calam nas mentes mais ingênuas ou nas dos endinheirados que querem manter a todo custo os seus interesses mesquinhos.  

Que os capitalistas e seus representantes políticos ajam assim é compreensível porque todo o edifício sob o qual acumulam privadamente a riqueza socialmente produzida se baseia na mentira segundo a qual é justa tal acumulação a partir da extração de mais-valia, que nada mais é senão a criminosa apropriação indébita do tempo-trabalho mensurado pelo valor (representado pela mercadoria dinheiro).  

Mas, quem tenha um mínimo de senso de justiça e compreensão sobre a mecânica da escravização indireta do trabalho abstrato produtor de valor, não pode querer que haja uma forma política capaz de fazer justiça social a partir dos parâmetros da lógica autotélica do capital, dada a impossibilidade cientificamente comprovada de se fazer uma justa distribuição da riqueza abstrata pela subtração cumulativa pelo próprio capital de tudo que ele transforma em valor.

Historicamente a esquerda, que se diz combativa na luta contra a injustiça social e procura defender as categorias capitalistas trabalho e trabalhador, incensando-as como dignas de suas defesas, e não de suas superações, e que o faz a partir de formas políticas aparentemente contrárias aos dogmas e doutrinas da direita, mas conservando os princípios de produção social capitalista, termina sempre por se desgastar perante os mais humildades e oprimidos.  

Os segmentos socialmente explorados pelo trabalho abstrato identificam nos políticos de direita e de esquerda como responsáveis pelo provimento de um equilíbrio social que seria representado por uma vida digna do ponto de vista do consumo, e capaz de dar a estes uma habitação confortável ao lado de boas e seguras infraestrutura sanitária e rodoviária, alimentação, saúde, segurança, educação, vestuário e transporte, além do necessário lazer.   


Assim, por delegação política, não sabem que a forma política apenas obedece aos comandos de uma relação social capitalista, e que sob tais pressupostos é impossível de existir uma forma política capaz de lhes dar o provimento de suas legítimas aspirações. 

Por entenderem (erroneamente) que a solução dos problemas sociais passa pelo bom e honesto gerenciamento político dos impostos que pagam, promovem o movimento pendular eleitoral cíclico entre propostas políticas de candidatos à direita e à esquerda, sem compreenderem que o problema está na preservação daquilo que eles mais almejam: o emprego assalariado que os explora.

Há uma revolta latente entre muitos jovens, principalmente entre os da periferia pobre das cidades socialmente cindidas, por verem seus pais trabalhadores e toda a sua família carentes de todos os confortos sociais de que necessitam. 

Tal revolta se transforma numa agressividade e violência catártica, quando não deriva para a criminalidade do lucro fácil e perigoso do consumo e comércio das drogas, ou ainda, para a cantilena conformista religiosa pentecostal da promessa de uma maravilhosa vida celestial futura.

Não há um correto entendimento por parte da esquerda dessa questão, que apenas coloca nos ombros de uma pretensa governabilidade com sensibilidade humanista de seus partidos políticos a solução de problemas sociais que necessariamente passam pela negação de tudo que a própria esquerda politicamente correta tem defendido.

Já passou da hora de a esquerda rever os seus postulados infrutíferos, sob pena de assistirmos impotentes ao crescimento eleitoral da direita, mesmo que esta também se desgaste, mas em menor escala, a cada ciclo de administração política. (por Dalton Rosado) 

Fonte: Celso Lungaretti
A VISÃO DEMOCRÁTICA (POR CELSO LUNGARETTI )