O FANATISMO COLETIVO É GENOCIDA – 2

8 de novembro de 2022 440

(continuação deste post)

A propaganda radiofônica de Goebbels e os discursos de Hitler mesmerizaram os alemães...

Quando nos debruçamos sobre os atos praticados na Alemanha contra judeus indevidamente  criminalizados como culpados pela miséria naquele país após a 1ª Guerra Mundial, vemos quão perigosa pode ser a verdade coletiva manipulada pela comunicação de massa.

O mundo vive um momento parecido com o da véspera das guerras mundiais, mas agora com maior gravidade ainda.

Àquela época apenas havia uma disputa de hegemonia entre os países mais desenvolvidos e influentes em razão da segunda revolução industrial. Existiam espaços de sobrevida, como de fato se evidenciou após a morte de 3% da população mundial na 2ª Guerra: ajudada pelo Plano Marshall, logo se daria a reconstrução industrial e urbana europeia, japonesa e de outros países, menos atingidos pera barbárie belicista.

Hoje o cenário é outro. Não se trata apenas de uma mera disputa hegemônica entre países (que também existe agora sob a forma de blocos de países), mas de uma luta pela sobrevivência diante de um capitalismo que se autodestrói pelos seus próprios fundamentos. Um câncer que está a metastizar-se sem que se possa atribuir a sua ocorrência a comunistas comedores de criancinhas.

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..já o congênere brasileiro não chegou nem perto disto.
A concorrência de mercado, altar no qual se digladia o capital em busca de sua impossível reprodução na escala necessária, vai, cada vez mais, engendrando contradições autofágicas inconciliáveis. 

Estas, além de autodestrutivas da forma de sua própria essência e natureza (dada a inviabilização do crescimento continuado do valor, cuja massa global, definhando, prenuncia seu próprio colapso, expresso na perda de representatividade de valor das moedas), causam a destruição de todo o tecido social, abrindo as portas para a barbárie.

As consequências sociais, materiais e ecológicas são tenebrosas.

As pessoas, em sua grande maioria, sentem as dificuldades econômicas numa sociedade na qual tudo se mede pela mercadoria dinheiro, que escasseia como substância advinda do processo de produção de mercadorias e tenta sobreviver artificialmente com a emissão de moedas sem valor.

Paradoxalmente, o dinheiro, deus da modernidade, é um ilustre desconhecido pelos que o adoram, seja na sua essência constitutiva ou como causa dos danos sociais imanentes a sua forma e lógica funcional, porque em geral a sua negatividade não é ensinada nas escolas. As pessoas sofrem pela falta daquilo que elegem como vital, sem conhecer a sua destrutibilidade social e autodestrutibilidade intrínseca.

Como não sabem por que e como devem superar este modo de relação social que ganhou corpo e forma política nos últimos séculos, a direção do descontentamento social é dirigida para a forma política, por vezes militarista-ditatorial, mais comumente com a alternância cansativa de projetos políticos tidos como conservadores ou progressistas, mas que funcionam sob uma mesma base lógica subtrativa e criminosa: o capitalismo.

Logo após assumir a presidência, Boçalnaro, o ignaro disse, enfático: "Eu tenho menos poder do que supunha". Descobriu que a força do seu mandato, repleto de militares, é menos forte do que supunha, e que o poder político é não só relativo na sua soberania de vontade, como também, e principalmente, submisso e subserviente ao capital a que serve.

É claro que o governante político governa dentro de prévio balizamento, apenas se equilibrando no poder político estatal conforme consegue ou não gerenciar a escassez nestes tempos de déficit econômico estatal. 

Isto porque as regras de poder político são ditadas pela lógica funcional e impessoal do capital, que é, este sim, administrado pelos capitalistas, detentores que são do verdadeiro poder, o econômico, do qual se beneficiam socialmente (mas com data de vencimento), sob a lógica do dito cujo e a ela obedecendo como um escravo obedecia ao seu proprietário.

A frase dinheiro não aguenta abuso, tão repetida pelos empresários, denuncia tal submissão. O dinheiro dá ordens ao seu detentor empresarial.

Assim, o povo se digladia, fanatizado, entre projetos políticos que estão longe de ter capacidade de superação (e mesmo de querer promover a superação) de um modo de relação social que se tornou obsoleto, motivo pelo qual tem mais é de ser morto e sepultado.

Nada mais fanatizado do que uma parcela do eleitorado derrotado obstruir rodovias ou se postar à frente dos Comandos Militares do Exército, clamando por intervenção das Forças Armadas contra:

— ameaças comunistas inventadas no passado e nas quais ninguém continua crendo;

— corrupção (mas não a pior e mais descarada de todas, a atual do orçamento secreto);

— fraude eleitoral sem comprovação nenhuma; e 

— hipotéticas restrições de liberdades sob o governo recém-eleito e ainda não empossado de Lula, cujo leque de alianças abarcou desde a direita moderada até a esquerda institucional, passando pelas várias nuances do centro, daí a inconsistência de tal previsão.

Na ausência de um norte correto, que aponte para a superação da causa mundial da queda social de poder aquisitivo e da falência do Estado no cumprimento das demandas sociais de suas incumbências constitucionais, bem como da indicação de alternativas à grave degradação social e ambiental dos dias presentes, cresce a perigosa barbárie do fanatismo e da intolerância. 

Para a entropia em curso, contribui, ainda, a manipulação da fé por parte de charlatães que enriquecem às custas das contribuições dos fieis incautos, caldo de cultura de um fundamentalismo religioso totalmente retrógrado e temerário.

Não tenho dúvidas de que os militares não embarcarão nesta canoa furada de assumir um governo previamente falido, bem como não têm interesse em provocar uma tensão social capaz de conduzir o Brasil a uma guerra civil de consequências imprevisíveis.

 

O problema está momentaneamente adiado, até porque o desemprego estrutural e a queda renitente do PIB brasileiro não é uma marolinha: se continuarmos apelando para o uso administrativo de receitas velhas para a solução de problemas novos (ou antigos que agora se agudizam), esta corda esticada tende a arrebentar nos próximos anos. (por Dalton Rosado)

Letra e música do Dalton, interpretação da Graça Santos.

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Fonte: CELSO LUNGARETTI
A VISÃO DEMOCRÁTICA (POR CELSO LUNGARETTI )