O ESVAZIAMENTO DA AUTORIDADE DO STF SÓ INTERESSA A QUEM INVESTE NO ARBÍTRIO E NA TRUCULÊNCIA
Entre as cartas marcadas de um Estado Democrático de Direito e os horrores de um Estado Policial de Direita:
O braço de ferro entre o Supremo Tribunal Federal e o triângulo das Bermudas (hordas bolsonaristas, tenentes togados e o charlatão do anticomunismo profissional com seus miquinhos amestrados) vai decidir se continuaremos sob uma democracia de fachada, na qual o poder econômico reina soberano, ou marcharemos para algo ainda pior, a imposição a ferro e fogo de um retrocesso histórico inaudito.
Como a atual ofensiva dos aloprados ultradireitistas tem como pretexto o combate à corrupção, vale a pena lançarmos um olhar para o passado, tentando entender como passamos tanto tempo alimentando o monstro que agora tenta nos destruir.
Quando, na década passada, contingentes da nossa esquerda tomaram partido por uma facção de ganguesteres do capitalismo, de preferência à outra que com ela travava uma disputa mafiosa pelo florescente mercado de telecomunicações, fui um dos poucos articulistas a alertar que tal imbróglio não nos dizia respeito e nele não havia ninguém com quem devêssemos nos alinhar..
De inocente útil bastava o delegado Protógenes Queiroz, que tirou as batatas do fogo enquanto um ex-superior dele, alinhado com uma das quadrilhas litigantes, evitava queimar as mãos. Detonou sua carreira policial, mas ganhou inesperado prêmio de consolação: uma cadeira na Câmara Federal... pela legenda do PCdoB!
A tal populismo rasteiro se prestava um partido que ousou pegar em armas contra a ditadura militar! E não estava sozinho: o Psol também estendeu o tapete vermelho para o ingênuo delegado Brancaleone, sendo preterido daquela vez.
Foi quando recoloquei em circulação uma conclusão definitiva do Paulo Francis sobre o udenismo e o golpismo de meados do século 20: "O combate à corrupção é uma bandeira da direita" (mais tarde, cunhei eu também um bordão nessa linha, "a corrupção é intrínseca ao capitalismo").
Eis minha argumentação de quase 10 anos atrás (abril/2009):
"...as intermináveis denúncias de corrupção acabam minando as esperanças do cidadão comum na transformação da realidade por meio da ação política. Se tudo não passa de um lodaçal, as pessoas de bem devem mesmo é cuidar de sua vida...
De quebra, fornecem pretextos para quarteladas, sempre que os meios de controle democráticos das massas não estão funcionando a contento.
Então, Paulo Francis dizia e eu assino embaixo: denúncias de corrupção política são bandeira da direita, que acaba sendo sempre sua beneficiária final, a despeito dos ganhos momentâneos que proporcionem à esquerda.
Esta deveria, isto sim, demonstrar que o capitalismo em si causa prejuízos imensamente maiores para o cidadão comum do que os desvios de recursos dos cofres públicos; e que a moralização da política não se dará com medidas policiais, mas sim com uma transformação maior da sociedade.
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...em vez de pegar carona nos temas que a imprensa burguesa prefere magnificar, cabe à esquerda definir sua própria pauta e explicá-la aos cidadãos.
E por que a corrupção não pode ser erradicada sob o capitalismo? Porque este coloca como prioridade máxima da existência humana o enriquecimento individual, a vitória na luta de todos contra todos por um lugar ao sol, ainda que pisando no pescoço da mãe para alcançar tal intento, como diria o Brizola. Se esta é a lógica do sistema, sempre haverá quem busque atalhos para alcançar o objetivo à margem das regras que o próprio sistema estabelece mas manda às favas quando bem lhe convém. Então, a alternância de cruzadas moralizadoras com períodos em que a corrupção deslancha dá a tônica do capitalismo.
Dentre os que somam forças contra o STF, os mais desesperados são, neste momento, os tenentes togados. Eles alçaram-se a alturas insuspeitadas durante a caça às bruxas (quer dizer, a caça aos corruptos) e tudo fazem para não voltar à estatura anterior, agora que sua utilidade caducou. Daí suas canhestras tentativas passadas, em parceria com Rodrigo Janot e Joesley Batista, de derrubar Michel Temer, bem como o esforço atual para solapar a autoridade do Supremo.
Só que, com sua ambição desmedida, podem produzir muito estrago antes da derrocada definitiva. Todo cuidado é pouco, pois, talvez até sem que o percebam, o ponto de chegada dos seus esforços é... o estado policial que seus excessos já deixaram antever (e não necessariamente sob o controle deles)! Quanto aos bolsonaristas de raiz e aos olavetes, já devem ter percebido que seus desvarios boçais e ignaros serão limitados pelo poder econômico (ao qual não convém que o Brasil se torne um país-espantalho, pois isto prejudica os negócios, sobretudo com o exterior) e pela quase nenhuma disposição, por parte dos militares, de embarcarem numa roubada igual à de 1964.
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