O “CRIME” DE SÉRGIO MORO: TER A DIGNIDADE QUE OUTROS NÃO TIVERAM

23 de junho de 2020 382

Sem dúvida o juiz brasileiro que mais se dedicou ao combate à corrupção  em todos os tempos foi Sérgio Moro, então juiz titular da 10ª Vara Federal de Curitiba, concentrando, por prevenção de juízo,a maioria dos processos criminais provenientes da chamada Operação Lava Jato, desencadeada pela Polícia e Ministério Público federais.

Com seu incansável  trabalho contra a corrupção ,levado a efeito  no período governado pelo PT/MDB, de 2003 a 2018,certamente   esse juiz se constituiu, mesmo que indiretamente, no maior “cabo eleitoral” da campanha presidencial  do “capitão” Jair Bolsonaro, que se  autodeclarava o opositor Nº 1  do PT/MDB, e  que acabou vencendo o pleito  eleitoral de outubro de 2018,com boa margem de vantagem. É por isso que em grande parte Bolsonaro deve a sua eleição a Sérgio Moro.

Apostando na boa imagem do Juiz Moro perante a opinião pública ,“independente” do PT,nada mais natural que acabasse surgindo um convite para que Moro integrasse o Governo de Bolsonaro, assumindo o cargo de Ministro da Justiça e Segurança Pública,o que se consumou,visto que esse seria um nome  que só teria a “somar”,com grande prestígio popular do homem que teve a coragem de condenar e mandar para as grades o “deus” da esquerda ,o ex-Presidente Lula da Silva, que mais tarde, dentro daqueles “esquemões” que correm no  STF, acabou sendo solto pelos juízes “apadrinhados” do seu partido, o PT, e outros  que aderiram.

Olhando nos pormenores a atual composição do Supremo,a gente fica até em dúvida se o Ministro “de merda”, segundo o jurista Saulo Ramos, prestes a se aposentar, seria o “decano” do STF, ou o decano seria a “cara” própria desse tribunal.

Embora se compreenda perfeitamente a ambição natural do Juiz Moro de finalizar a  sua magnífica carreira na magistratura como Ministro do STF - e duvido que não seja a meta de qualquer outro juiz- deveria ele estar consciente que nesse ambiente ele jamais se sentiria muito à vontade, confortável, visto as evidentes  objeções que antecipadamente já surgiram ao seu nome nesse “covil”, onde ele passaria a ser um “peixe-fora-d’água”,  e seria forçado a fazer “política”, não mais “justiça”, como ele estava acostumado.

Mas a gestão de Moro no Ministério acabou sendo sabotada e boicotada. Os projetos contra a corrupção que teve a iniciativa acabaram virando em leis “pró-corrupção”. E o Presidente Bolsonaro, tentando “salvar” o seu Governo, cedeu totalmente à sua oposição política no Congresso, formada pelos políticos “lacaios” da esquerda e do “centrão”,”atropelando” todo o trabalho moralizador de Moro.

Essa desculpa “esfarrapada” que Moro teria “traído” o Governo, ou o Presidente Bolsonaro,é pura conversa para boi dormir. Bolsonaro forçou o pedido de demissão de Moro,não respeitando a promessa de dar-lhe autonomia no combate à corrupção. A “gota d’água” deu-se com a demissão do Diretor da Polícia Federral,que Moro considerava o homem “chave” na sua proposta de combate ao crime na política.

Portanto, na “guerra” entre Moro e a corrupção ,esta representada pela esquerda e pelo “centrão”, Bolsonaro ,no caso como “juiz”,decidiu pela vitória da corrupção,traindo não só Sérgio Moro,como também os seus “babacas” (inclusive “jo”) 57 milhões de eleitores.

Portanto não foi Moro quem traiu Bolsonaro, como assegura  tanto a mídia da esquerda/centrão ,quanto  a  mídia “bolsonarista” (de fidelidade canina). Foi Bolsonaro quem traiu Moro, depois de usá-lo para fins eleitorais,e  depois jogá-lo fora , como  absorvente  feminino usado. Portanto, o “pedido de demissão” de Moro ,na verdade uma demissão,foi planejado,conduzido ,nos mínimos detalhes, destinado à uma pessoa de caráter, algo cada vez mais raro na política.                                                                                                                          

 Mas o que tem sido  realmente lamentável e insuportável é  o  tratamento absolutamente desrespeitoso e tendencioso dado por certa mídia e políticos que “comeram e viraram o cocho” de Sérgio Moro.        

Sérgio Alves de Oliveira

Advogado e Sociólogo

O CONTRAPONTO

Sérgio Alves de Oliveira