"O 3º MUNDO VAI EXPLODIR! QUEM 'TIVER DE SAPATO NUM SOBRA!" (O FILME-MANIFESTO DO CINEMA MARGINAL FAZ 55 ANOS)

27 de setembro de 2023 181

 

Houve uma vez um movimento cinematográfico brasileiro que ofereceu  alternativa ousada e extremamente provocativa ao marasmo do chamado cinemão, com suas cópias imperfeitas da estética manipulada e manipuladora das grandes produções dos EUA e Europa.

Foi o explosivo cinema marginal, cujo filme-manifesto, O bandido da luz vermelha, completa 55 anos neste final de 2023. Trata-se de um clássico da contracultura, que até hoje impressiona não só pelo vigor, como também, inclusive, por sua aposta na degradação da vida brasileira sob o capitalismo agônico. O que naquele tempo parecia pesadelo de uma imaginação distópica hoje se corporifica na cracolândia e na barbárie boçal do bolsonarismo, entre outros horrores.


Dirigido pelo estreante Rogério Sganzerla,  então com 22 anos, O bandido da luz vermelha foi um cult instantâneo, surpreendendo as sensibilidades colonizadas com uma proposta que era principalmente paulista, pobre em recursos mas rica em criatividade. 

E, acima de tudo, transgressora da linguagem cinematográfica tradicional, pois mais chegada ao universo dos cabarés e dos tipos decadentes da zona do meretrício do centro velho de São Paulo (enquanto o cinema novo, predominantemente carioca, tinha como referências principais os trabalhadores e favelados). 

O rigor histórico nos manda considerar Ozualdo Candeias como o verdadeiro pai do cinema marginal, com seu belíssimo A margem, de 1967. 

Este, contudo, sendo tão pessoal e diferente de tudo que se fazia no Brasil, acabou não tendo seguidores, enquanto o bandido de Sganzerla inspirou Júlio Bressane, Carlos Reichenbach, Andrea Tonacci, Neville D'Almeida, Emílio Fontana e muitos outros.

Quanto ao filme em si, foi uma genial transposição de um dos principais clássicos da nouvelle vague francesa, O demônio das onze horas (d. Jean-Luc Godard, 1965) para o ambiente esculhambado da boca-do-lixo, com narração brega ao estilo dos programas policiais radiofônicos (Gil Gomes & cia.) e participação de artistas marcantes da era do rádio, como o humorista Pagano Sobrinho e o cantor Roberto Luna. 

Paulo Villaça consegue sustentar bem seu personagem, o qual, claro, tinha bem mais a ver com o Ferdinand Griffon (Jean-Paul Belmondo) do filme francês do que com o João Acácio Pereira da Rocha, o bandido da luz vermelha brasileiro (tal apelido, vale lembrar, foi inspirado no red light bandit dos EUA, Caryl Chessman).

E a frase mais marcante, repetida ad nauseam fora das salas de exibição, era "o 3º mundo vai explodir, quem 'tiver de sapato num sobra". (por Celso Lungaretti)

O filme que impactou fortemente toda uma geração...

...e a boa análise de Max Valarezo no canal EntrePlanos do Youtube.

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Fonte: CELSO LUNGARETTI
A VISÃO DEMOCRÁTICA (POR CELSO LUNGARETTI )