MUNDO DISCUTE COMO EVITAR RECESSÃO, BRASIL TRATA DE BADERNA AUTORITÁRIA

28 de fevereiro de 2020 311

É difícil chamar a atenção do respeitável público para a economia internacional quando o governo incita manifestações de rua contra o Congresso, para dizer o menos. 
 
No entanto, senhoras e senhores, a coisa está feia até onde a vista alcança, que não é muito longe, embora o desânimo já seja visível aqui dentro.
 
Pode ser pior. Esse tombaço da Bolsa é espuma se considerado o problema real no horizonte próximo: redução ainda maior de exportações industriais, baixa de preços de produtos que fazem o grosso da exportação brasileira, medo puro e simples do rolo que pode dar lá fora.
 
Quem olhar para os números do mercado financeiro americano vai perceber facilmente que, no mínimo, os donos do dinheiro de lá e do mundo esperam que o banco central dos EUA reduza as taxas de juros —no mercado, as taxas já mergulharam para mínimas históricas.
 
Essa baixa também é também mero sinal de medo genérico, da finança fugindo para seu refúgio habitual. Mas há expectativa razoável de desaceleração no ainda centro econômico do mundo.
 
Noutras partes importantes do planeta, a coisa vai de fraca a pior. No final do ano passado, a economia europeia cresceu no menor ritmo desde 2013, quando estava em recessão. Então veio a ameaça ou o medo do novo coronavírus.
 
O alarme é tão alto que o governo habitualmente muquirana e fundamentalista fiscal religioso da Alemanha pensa em gastar mais. 
Feitos um para o outro: o golden shower e o foda-se
Para tanto, vai precisar mudar a Constituição a fim de, pelo menos, suspender o teto de déficit primário, o que não vai ser fácil (um limite de déficit miserável, de 0,35% do PIB).
 
O plano do governo, que apareceu vagamente nos jornais europeus, é assumir dívida de cidades de modo a permitir que prefeitos gastem mais em rodovias, escolas e hospitais.
 
O fanatismo de certos políticos alemães contra o gasto público é forte, em particular no partido conservador da chanceler Angela Merkel, que governa em coalizão com os apenas um tico menos conservadores da social-democracia.
 
Vão abrir as comportas da política fiscal
 
Vamos nos tornar um país endividado
 
Suspender o limite do endividamento quando dá vontade é como suspender direitos fundamentais
 
Pois é: é o que dizem parlamentares alemães.
 
A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde (que não nasceu ontem, é pragmática, conhece os rolos da vida e, enfim, é francesa), diz o contrário.
Mais uma comprovação de que a História se repete como farsa
 
“Medidas fiscais [gasto extra] a fim de dar apoio à economia são certamente muito bem-vindas, nas atuais circunstâncias”, disse aos jornais. Pois é: uma presidente de banco central dizendo o contrário de deputados.
 
Quais circunstâncias? Risco de recessão. Juros baixos. Na prática, o governo alemão pode pegar dinheiro emprestado de graça (a taxa anual de juros de empréstimos de dez anos é de MENOS 0,47%. 
 
Sim, negativa. Quem empresta ao governo recebe menos de volta). Não é apenas Lagarde que diz tal coisa.
 
O ex-economista-chefe do FMI (2008-2105) e reputadíssimo economista Olivier Blanchard, mas não apenas, tem praticamente feito campanha a favor de aumento de dívida e investimento públicos no caso de países com crédito, custo baixo de financiamento e com economia estagnada.
 
Em suma, o centro do mundo e o mundo rico estão discutindo como evitar um novo atoleiro global, que nem sabem se é certo. 
 
Por aqui, estamos fazendo concurso de mergulho na lama, um tumulto no lodo que pode enfraquecer uma economia que mal conseguia sair da cama. (por Vinicius Torres Freire)
 
A VISÃO DEMOCRÁTICA (POR CELSO LUNGARETTI )