Está no noticiário que até ministros do Supremo Tribunal Federal, como Edson Fachin, Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello, andam sendo pressionados e/ou hostilizados por cidadãos comuns.
Parece que a tentação de sentir-se espetacular na sociedade do espetáculo fala mais alto do que o receio de complicações legais. Um desses abilolados não só perseguiu e xingou Mendes nas ruas de Lisboa, como filmou tudo com seu celular e postou as imagens na internet, fazendo questão de deixar à vista aquela em que aparecia refletido num espelho, por meio da qual poderá ser identificado.
Isto vem ao encontro da minha interpretação do episódio dos tiros disparados contra a caravana do Lula: não passam de amadores metidos a bestas querendo aparecer.
Trata-se, claro, de um fenômeno preocupante e que tem de ser coibido, mas não equivale a nenhuma conspiração de profissionais para matar figurões, como, p. ex., a que redundou no assassinato do então presidente dos EUA John Kennedy em 1963. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
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...por este exibicionista. |
Percebe-se, contudo, a existência de uma exploração política exacerbada dos disparos contra a lataria de ônibus, pois há gente tentando de todas as maneiras influenciar a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre prisão imediata do Lula x necessidade de aguardar-se que mais uma instância judicial confirme sua condenação.
Mantenho a minha posição de que Lula deveria é cumprir sua pena em prisão domiciliar, por ser idoso e por haver sido sentenciado em razão de um crime do colarinho branco, cuja gravidade é imensamente menor que a dos crimes hediondos, por mais que certos jacobinos do Ministério Público defendam o contrário.
Fizeram da corrupção política um espantalho e querem sustentar de qualquer maneira tal ilusão, omitindo que muito mais danosa para os brasileiros sempre foi a aberrante desigualdade econômica e os escandalosos lucros dos grandes empresários em geral e dos banqueiros em particular.
Uma esquerda digna desse nome estaria é explicando há muito tempo esta verdade óbvia para o povo (números para comprová-la não faltam), ao invés de, covardemente, evitar contrariar os simplismos que a indústria cultural martela na cabeça das pessoas humildes.
De certa forma, os processos do mensalão e do petrolão a puniram por sua pusilanimidade.
O Paulo Francis afirmou e eu sempre reiterei que o combate à corrupção é uma bandeira da direita (um acréscimo de minha parte foi o de que a corrupção é intrínseca ao capitalismo e existirá enquanto os seres humanos forem compelidos a buscarem o enriquecimento como prioridade suprema de suas existências).
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"O combate à corrupção é uma bandeira da direita" |
Mas a esquerda, de forma oportunística, quis mais é surfar nessa onda, como quando apoiou a Operação Satiagraha, alinhando-se com uma das quadrilhas que travavam aquela disputa de gângsteres por um mercado florescente.
Isto a deixou sem credibilidade para opor-se aos evidentes excessos cometidos por policiais e procuradores nas posteriorescruzadas enxuga-gelo.
Enfim, os erros crassos cometidos lá atrás desembocaram no impeachment da Dilma e na iminente prisão do Lula.
Mas, a esquerda brasileira nunca dependeu desesperadamente da posse da Presidência da República, que, relativamente a seu papel primordial (fazer a revolução anticapitalista), não passa de um objetivo tático; e até as pedras da rua sabem que Lula não ficará muito tempo no xilindró, logo algum jeitinho se dará para livrá-lo das grades (o mais tardar no indulto natalino).
Então, muita calma nessa hora!
A correlação de forças nem de longe nos favorece neste instante. Os podres Poderes da República estão fragilizados, mas o verdadeiro inimigo (o poder econômico) tem como mobilizar facilmente todas as forças e recursos necessários para nos esmagar. E não há dúvida de que o fará, se as coisas chegarem a esse ponto.
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"O poder econômico tem como nos esmagar" |
Vai daí que, estimulando a radicalização, estaríamos apenas levantando a bola para o outro lado marcar pontos e talvez até nos destruir. Pode se partir para a guerra quando se dispõe de um exército de verdade, mas aquele que João Pedro Stedile possuiria não tem sido visto em campo de batalha nenhum...
Então, temos mais é de assumir que estamos uma fase de defensiva estratégica, durante a qual devemos repensar nossas estratégia e táticas, reagrupar nossas forças e ampliar em muito nossos contingentes organizados, antes de cogitamos voos maiores.
Não é hora de sequer flertarmos com a ideia de confrontos, muito menos de os propiciarmos com provocações insensatas e bravatas pueris.