Malária se alastra em Porto Velho, aumenta em 21% entre 2017 e 2018 e complica ainda mais atendimento na saúde

18 de janeiro de 2019 533

PORTO VELHO – O município despontou nos últimos anos como um importante polo de desenvolvimento de Rondônia, com o maior rebanho bovino do estado, duas grandes usinas hidrelétricas exportando energia para todo o Brasil, ampliação exponencial da área agricultável, mas também acumula números negativos. Como na área de saúde, por exemplo.

A região de Porto Velho registrou aumento de 21,8%, nos casos de malária, entre 2017 e 2018. Os dados foram disponibilizados pelo Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica, do Ministério da Saúde. De janeiro a dezembro, de 2017, Porto Velho registrou 2.704 casos autóctones de malária, quando a transmissão ocorre no local, sem que a pessoa tenha se deslocado para outras regiões. E no mesmo período de 2018, foram registrados 3.295 casos.

De acordo com o boletim, as áreas especiais que concentram a maior incidência de casos notificados são os assentamentos, com aumento de 64%, localidades indígenas também com aumento de 64%, garimpos com 40%, e zona rural que registrou um crescimento de 11% nos índices de notificação. A situação mais grave foi apresentada pelo município de Ariquemes que, no ano passado, registrou 615 casos de malária, contra 112, em 2017, e 94 em 2016. De acordo com o Departamento de Vigilância em Saúde de Ariquemes, contribuíram para esse crescimento os casos de malária que foram registrados no sistema prisional, no ano passado. Em apenas 5 meses, de fevereiro a junho, foram confirmados 390 casos de malária na casa de detenção do município.

MAIORES PERCENTUAIS EM RO

Ariquemes: 122%

Guajará-Mirim: 24%

Nova Mamoré: 78%.

Porto Velho: 30%

Vilhena: 124%.

Os dados também apontam que, em 2018, Porto Velho teve participação em 43% dos casos de malária, registrados em Rondônia, já o município de Candeias do Jamari, 22%. E apenas 10 dos municípios correspondem a 98% dos registros da doença, em 2018. O tipo mais frequente, no estado, é a malária Vívax, que logo no primeiro dia de febre pode contaminar o mosquito. Historicamente, os meses que registram a maior quantidade de casos autóctones, em Rondônia, são agosto, setembro e outubro. Para se ter uma ideia, em setembro de 2017, foram registrados 798 casos autóctones e no mesmo mês em 2018, 991 casos, quase 200 a mais.

Redução

Mas os dados do Ministério da Saúde também mostram que houve redução nos índices de malária, em algumas localidades. Entre os municípios rondonienses, destacam-se as cidades de Machadinho do Oeste, e Alto Paraíso. Só em Machadinho, a redução foi de 52%, no ano passado. Em 2017, o município teve 702 casos autóctones, contra 335 registrados em 2018. Já o município de Alto Paraíso registrou, em 2017, 204 casos de malária, contra 198, no ano passado.

Para o diretor geral do Centro de Pesquisa em Medicina Tropical – Cepem/Sesau-RO, doutor Mauro Tada, nos casos em que houve redução, vários fatores estão associados. “No município de Machadinho, por exemplo, nós tivemos praticamente a eliminação de malária humana, urbana, em decorrência de drenagem, que a prefeitura fez. Então, você elimina os criadouros e por essa razão você elimina também os locais de focos”, explicou.

Para o diretor geral do Cepem, é preciso continuidade nas ações de controle da malária, em cada município. Por outro lado, são necessários mais investimentos em saúde pública, e em políticas voltadas ao fortalecimento das pesquisas, desenvolvidas na região. A população precisa de respostas mais precisas e “no caso das endemias, trabalha-se em pesquisas que possam chegar a uma resposta mais rápido. Quando a gente faz esses testes, produz esses insumos, quem ganha é a saúde. E é isso que nós temos que mostrar aos gestores públicos”, destacou Mauro Tada.

A Fiocruz em Rondônia

A Fundação Oswaldo Cruz, através de iniciativas estratégicas como medida para o fortalecimento da Rede Nacional de Ciência e Tecnologia em Saúde, iniciou em 2009 a instalação de um escritório técnico em Rondônia. Para isso, foi estabelecida uma Cooperação Técnico-Científica com o Instituto de Pesquisas em Patologias Tropicais de Rondônia (Ipepatro), uma associação civil de direito privado, sem fins lucrativos, que esteve ligada ao Ministério da Saúde, por meio de convênios para o desenvolvimento de pesquisas em Rondônia. Atualmente, a Fiocruz Rondônia lidera o projeto estruturante do Pólo Integrado de Saúde, unidade onde deverão atuar em seus laboratórios instituições ligadas ao desenvolvimento da ciência, na Amazônia, como o Ipepatro, Centro de Pesquisa em Medicina Tropical (Cepem), Universidade Federal de Rondônia (Unir), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Embrapa e demais instituições ligadas a saúde.

Com vários laboratórios e linhas de pesquisa em diferentes áreas, a Fiocruz Rondônia busca difundir e induzir soluções científicas e tecnológicas em patologias tropicais. Especificamente, em relação aos estudos sobre malária, já consolidados, as pesquisas, principalmente, na área de entomologia em parceria com o Ipepatro têm avançado no conhecimento sobre o mosquito transmissor da malária e seu habitat possibilitando o desenvolvimento de estratégias para o controle da endemia. Além disso, em seus laboratórios, a busca de extratos de plantas medicinais que possam produzir medicamentos mais eficazes e sem efeitos colaterais tem sido mais um dos objetivos da Fiocruz-RO.