Lula promete reciprocidade diante de possíveis taxações americanas

Em meio a um cenário de crescente tensão comercial internacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira (5) que o Brasil não hesitará em aplicar o princípio da reciprocidade caso os Estados Unidos imponham novas tarifas aos produtos brasileiros. A declaração vem em um momento crítico das relações comerciais globais, marcado pela nova onda protecionista do presidente Donald Trump.
Números do comércio bilateral
O relacionamento comercial entre Brasil e Estados Unidos atingiu marcas significativas em 2024:
-
Volume total de comércio: US$ 80,9 bilhões (aumento de 8,2% em relação a 2023)
-
Exportações brasileiras: US$ 40,33 bilhões (recorde histórico)
-
Indústria brasileira: US$ 31,6 bilhões em vendas aos EUA (crescimento de 5,8%)
-
São Paulo lidera as exportações (33,6% do total, US$ 13,5 bilhões)
Nova onda protecionista de Trump
Donald Trump iniciou 2025 com medidas protecionistas agressivas:
-
Tarifas de 25% sobre produtos do Canadá e México
-
Sobretaxa de 10% para importações chinesas
-
Ameaças de expansão das medidas para outros parceiros comerciais
Posição brasileira
O presidente Lula destacou pontos importantes:
-
O Brasil está amparado pelas regras da OMC, que permitem taxação de até 35%
-
Preferência por redução mútua de tarifas
-
Defesa da diplomacia e diálogo internacional
-
Abertura de 303 novos mercados para produtos brasileiros em 2024
-
Impactos e perspectivas
Especialistas apontam que, embora o Brasil mantenha déficit comercial com os EUA - o que teoricamente o colocaria fora do alvo inicial de Trump - o país pode sofrer impactos indiretos:
-
Desestabilização das cadeias globais de suprimentos
-
Possível redirecionamento de produtos de países afetados para o mercado brasileiro
-
Pressão sobre preços internacionais de commodities
-
Contexto histórico
As medidas protecionistas de Trump não são novidade. Durante seu primeiro mandato (2017-2021), ele já havia implementado diversas barreiras comerciais, incluindo:
-
Guerra comercial com a China
-
Renegociação do NAFTA
-
Tarifas sobre aço e alumínio
-
Questões paralelas
A tensão comercial se soma a outros pontos de atrito nas relações Brasil-EUA:
-
Questão das deportações de brasileiros
-
Perspectivas futuras
Analistas econômicos sugerem que o Brasil pode enfrentar desafios significativos:
-
Necessidade de diversificação de mercados
-
Possível impacto na balança comercial
-
Oportunidades em nichos específicos onde outros países perdem competitividade
-
O momento exige cautela e habilidade diplomática do Brasil para navegar este cenário complexo, mantendo tanto sua soberania comercial quanto suas importantes relações com os Estados Unidos.
-
Divergências sobre política ambiental
-
Posicionamentos distintos em questões geopolíticas
"O que precisamos é de paz e serenidade nas relações comerciais", afirmou Lula, resumindo o desejo brasileiro de manter o diálogo aberto enquanto se prepara para possíveis cenários adversos.
Bravatas
Na entrevista às rádios Itatiaia, Mundo Melhor e BandNewsFM BH, de Minas Gerais, Lula também alertou que não se deve ter preocupação com as “bravatas” do presidente Donald Trump, já que “ninguém pode viver de bravata a vida inteira”. “É importante que a gente comece a selecionar as coisas sérias para que a gente possa discutir”, afirmou.
“Tem um tipo de político que vive de bravata. O presidente Trump fez a campanha dele assim. Agora, ele tomou posse e já anunciou [que pretende] ocupar a Groenlândia, anexar o Canadá, mudar o nome de Golfo do México para Golfo da América. E já anunciou reocupar o Canal do Panamá”, acrescentou Lula.
Deportações
O Brasil concordou com a realização de voos de repatriação, desde 2018, para abreviar o tempo de permanência de seus nacionais em centros de detenção norte-americanos, por imigração irregular e já sem possibilidade de recurso. Ao tomar posse em janeiro deste ano, Donald Trump prometeu intensificar as deportações de cidadãos estrangeiros que estejam irregulares nos Estados Unidos.
“Nós tivemos contato com o caso mais grave, que foi o avião que teve problema, na sua pressurização. Esse avião parou em Manaus, e aí as pessoas estavam acorrentadas para descer do avião. E eles queriam levar as pessoas acorrentadas para Minas Gerais”, contou Lula.
“Enquanto eles estão dentro do avião no território americano, eles são cidadãos que pertencem à política e à lei dos Estados Unidos, mas, quando eles chegam no território nacional, que o avião abre a porta, eles estão submetidos à legislação brasileira e disso nós vamos cuidar”, afirmou o presidente.