HÁ MUITO MAIS A BUSCARMOS DO QUE UMA MERA VITÓRIA ELEITORAL

26 de março de 2022 589

As últimas pesquisas de intenção de voto, que apontaram alguma  recuperação do Bozo na corrida presidencial, trouxeram duas constatações importantes, apesar de as  amostragens realmente decisivas ainda estarem distantes, pois é só depois das férias escolares do meio do ano que a grande maioria dos eleitores brasileiros vai escolher em quem votará.

As constatações são as seguintes:

  1. nas famílias cuja renda é menor do que dois salários-mínimos mensais, Lula goleia o genocida;
  2.  naquelas em que é maior, ambos praticamente empatam, o que sinaliza a possibilidade de o Bozo virar o jogo na reta de chegada.

Obviamente, dá-me uma tristeza imensa a comprovação de que ainda existem tantos brasileiros propensos a votar num presidente que inspira fortes suspeitas de insanidade mental e que realiza o pior, mais catastrófico e mais desalmado governo do Brasil República. 

Cadê o brasileiro cordial? Foi trocado pelo brasileiro egoísta e amoral?

Vale reiterar, mais uma vez, o alerta que venho fazendo há mais de duas décadas: enquanto o capitalismo perdurar por aqui, o verdadeiro poder pertencerá sempre à parcela do Brasil cujas forças produtivas estão mais desenvolvidas, não  ao Brasil da Bahia para cima, como outro articulista denominou. Marx cansou de bater nesta tecla (em termos genéricos), só que pouquíssimos marxistas brasileiros demonstram tê-lo lido. 

Trocando em miúdos: a porção do país economicamente mais pujante acaba invariavelmente impondo sua vontade à menos pujante, seja nas urnas, seja mediante viradas de mesa como as de 1964 e 2016. 

Então, as ilusões eleitoreiras corporificadas na candidatura do Lula não só têm chance de virarem pó no frigir dos ovos, como, mesmo no caso de vitória nas urnas, nos conduzirão a mais um governo populista/reformista que o poder econômico derrubará quando bem entender. 
Insisto: ainda dá tempo para apostarmos nossas fichas numa candidatura que inspire reais esperanças de mudança, em lugar de uma que tem enorme rejeição e que até agora não mostrou como reergueria a economia brasileira, a maior aflição do nosso povo miserável e sofrido 

[Não pode fazê-lo simplesmente porque a tarefa se tornou impossível sob o capitalismo agônico e o PT está tão domesticado que nem a palavra revolução ousa mais incluir nos seus discursos e textos, daí restringir suas propostas de governo à repetição do que já deu errado outrora, porque insuficiente face à magnitude dos males que estão postos.]

Para um marxista, a importância das eleições burguesas sempre foi tática e não estratégica. Servem para acumularmos forças, não para darmos um fim à exploração do homem pelo homem, instaurando a justiça social e a liberdade plena. 

Voltando ao esquecido bê-a-bá marxista, uma derrota eleitoral em outubro poderá ser também o começo de uma nova fase da luta que realmente precisamos vencer: aquela para construirmos um país sem a escandalosa desigualdade e o caricato autoritarismo atual.

Se, contudo, continuarmos martelando nas mentes dos explorados a ilusão sebastianista de que Lula e somente ele fará desta terra arrasada um país de verdade, uma eventual derrota vai parecer o fim de tudo e trará consequências apocalípticas, pois a deterioração das condições de vida do nosso povo é tamanha que já estamos a um passo da explosão social. 


O ideal seria um candidato de esquerda que apresentasse um verdadeiro programa de esquerda e não tivesse tantas vulnerabilidades para o inimigo explorar, de forma que pudéssemos priorizar de novo as discussões sobre como se mudar este país, ao invés de nos mantermos presos na armadilha da polarização e do ódio. Alguém que pudesse apresentar-se ao eleitorado como bem maior, não como mal menor. 

E deixando bem claro que a luta dos que querem resgatar a dignidade deste país e deste povo vai muito além de uma mera eleição presidencial, contrariando o que o PT vem pregando desde que se tornou a força hegemônica da esquerda (não só nos deixando passar por uma redemocratização extremamente tíbia e vacilante, como permitindo que a situação descambasse até chegarmos à devastação insana do Bozo). 

Ainda dá tempo para trocarmos a mesmice de um candidato que tudo faz para crermos que a esquerda é ele (porque não ousa confrontar a dominação burguesa), por algum nome não tão queimado e que expresse o posicionamento correto: ou a esquerda consegue ser maior do que quem quer que seja seu candidato da vez ou estará empacada num caudilhismo anacrônico e estéril, que a torna cúmplice da perpetuação do status quo.  (por Celso Lungaretti)  

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Fonte: CELSO LUNGARETTI
A VISÃO DEMOCRÁTICA (POR CELSO LUNGARETTI )