GREVE DA EDUCAÇÃO PODE SELAR DESTINO DO GOVERNO LULA 3
Não acredito que Lula e os lulistas mereçam conselhos, até porque conselho se dá a quem é amigo e deseja minimamente ouvir o que se tem a dizer, características muito distantes da turma hoje ocupante do Palácio do Planalto. Contudo, farei um alerta na esperança de ter algum impacto.
A greve da educação federal no Brasil já completa 44 dias, 74 se formos contar a greve parcial dos técnicos nas universidades, desencadeada antes da recente onda. Praticamente todas as universidades e institutos federais do país estão parados, parcial ou totalmente. Nesse período todo, a proposta do governo Lula não foi muito além de oferecer uma recomposição salarial que sequer cobre a inflação futura, quanto menos a passada. É pedido 33% de reajuste para os técnicos e 21% para docentes, no entendimento que as perdas salariais dos técnicos é muito maior, passando de metade do salário. Mas o governo apresentou proposta de irrisórios 13%, a ser divido nos próximos três anos, muito longe do ideal, pois a inflação dos próximos anos é prevista para alcançar 11%.
Pior!, o governo Lula, com Haddad e Tebet à frente, apostam em uma estratégia de divisão e cansaço da categoria. Estão fechando acordos com setores do funcionalismo considerados de maior peso, enquanto mantém a educação isolada com o ônus de uma greve longa e cansativa. No Colégio Pedro II, onde trabalho, já tivemos casos de docentes ameaçados por pais de alunos descontentes com a greve, além da criação de grupos de responsáveis para ir às portas dos campi serem filmados pela Globo gritando contra a greve. Não é preciso dizer que tais grupos congregam a nata do bolsonarismo, algo já esperado, mas também muitos lulistas.
A etapa final da estratégia do governo é forçar a saída prematura dos docentes da greve, deixando os técnicos sozinhos, já com o intuito de terceirizar as funções desses servidores. Para isso, Lula e Haddad pretendem apresentar uma proposta de reajuste atraente para os docentes e revisar alguns pontos da carreira desses. Os professores, que em sua maioria sequer queriam entrar em greve, podem ficar tentados a aceitar o pedido e encerrarem sua mobilização.
Contudo, a solução nesse sentido seria trágica para a educação, pois reforçaria a divisão entre técnicos e docentes, não necessariamente solucionaria o problemas dos últimos, pois ainda ficaríamos com perdas imensas, e esmagaria os técnicos. No caso do Colégio Pedro II, e de outras instituições federais, a situação é mais complexa porque o sindicato é unificado, então é impossível terminar a greve sem ter atendido às duas categorias. Ou seja, ficaríamos ainda mais tempo na greve, com um ambiente conturbado e com um desgaste gigantesco, interna e externamente.
Porém - e aqui vai o alerta - o governo precisa se atentar que a educação é o setor que mais apoiou a eleição de Lula em 2022. Esmagar essa categoria é um contrassenso, ainda mais sabendo-se que setores do funcionalismo profundamente bolsonaristas receberam recomposições vultuosas, como é o caso da PRF, da PF e dos policiais penais, com reajustes que bateram os 60% no caso dos últimos. O governo envia a mensagem que os inimigos precisam ser premiados, mas os aliados devem ser tratados a pontapés!
A popularidade de Lula caí a cada dia, fruto de sua política econômica atrelada aos interesses dos capitalistas. Ele vai sendo tragado pela crise capitalista e, caso opte por penalizar a educação, terá menos um grupo de apoiadores. A derrota da greve da educação poderá selar o destino de Lula 3, com um fim trágico para esse. (por David Coelho)
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