DOS PRESSUPOSTOS DE UM GOLPE VITORIOSO, NENHUM ESTÁ PRESENTE – 2

28 de setembro de 2022 351

(continuação deste post)

Para ocorrer um golpe militar e a deposição de um presidente eleito, há que se ter, hoje, pelo menos seis elementos básicos, quais sejam:

— apoio decidido dos donos do PIB brasileiro e internacional;

— apoio popular, mesmo que fruto de uma manipulação da eterna insatisfação coletiva como forma de conter as agruras a que é submetido seu povo pela elite política, agrária e religiosa;

— apoio da chamada intelligentsia brasileira (formadores de opinião da intelectualidade, como academias, artistas, escritores, mídia jornalística da televisão e rádio);

— predominância informativa dos internautas de direita da mídia eletrônica, hoje representando um novo poder midiático;

— apoio institucional majoritário dos membros dos poderes legislativo e judiciário;

— apoio político internacional.

Nenhum destes pressupostos estão hoje presentes.

Convenhamos que em 1918, diante da avassaladora transmissão midiática dos atos judiciais de Curitiba e outros menos votados (que tornaram públicas as tradicionais maracutaias com o dinheiro dito público no Brasil) e com a maciça adesão de desavisados embandeirados de verde-amarelo nas grandes manifestações, o golpe se deu pelo voto.

Temos hoje um governo recheado de militares em posto-chaves, mas impotentes para manterem o arbítrio pela força (ou seja, fechando o Congresso, amordaçando o judiciário, restabelecendo a censura e impondo as lorotas de que acabou a corrupção e de que o ruim é bom.


É que, sob o voto popular, ficam vivas as salvaguardas institucionais do estado democrático de direito burguês. Isto tolhe o arbítrio na sua tentativa de manipulação das consciências.

Então... o golpe flopou!

De resto ficaram evidenciados os males do capital em fim de feira, quais sejam:

— desemprego estrutural renitente;

— inflação que corrói salários já sangrados pela dinâmica do capital no seu estágio de contradição inconciliável entre forma e conteúdo;

— concentração de renda excludente e cada vez mais verticalizada;

— bate-cabeça dos poderes instituídos;

— manipulação do orçamento público, em parte tornado secreto;

— insatisfação popular crescente;

— aumento da criminalidade, com proliferação de milícias e do crime organizado, diante da importância do Estado em prender, julgar e condenar criminosos produzidos em série;

— quebradeira empresarial, com cada vez mais falências;

— lojas frechadas que não reabrem;

— aumento da informalidade do trabalho como forma de sobrevivência;

— redução de direitos trabalhistas e previdenciários;

— proliferação das favelas, face à incapacidade de aquisição de uma casa com infraestrutura urbana digna ou mesmo de alugar imóveis aceitáveis;

— poluição urbana e aquecimento atmosférico;

— serviço de transporte urbano caro e ruim que remete os trabalhadores ao sofrimento de veículos superlotados;

— recorde mundial de óbitos pela covid, na relação mortes/habitante;

— devastação ambiental da Amazônia;

— aumento do analfabetismo;

— escalada da subnutrição (com a nossa reinclusão no mapa da fome).

Ufa!!! Diante desse quadro:

— não há governante que consiga a reeleição;

— não há elite que segure a onda apenas com bandeiras e dísticos verde-amarelos; e

— não há força militar que se aventure a dar um golpe de Estado.

Os problemas nos remetem para 2023, quando todas estas mazelas sociais continuarão presentes, e num mundo assolado pela recessão econômica, com redução do crescimento do PIB e pela escalada inflacionária presente até em países outrora tidos como economicamente equilibrados.

Golpe??? Nem a pau, Juvenal!!! (por Dalton Rosado) 

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Fonte: CELSO LUNGARETTI
A VISÃO DEMOCRÁTICA (POR CELSO LUNGARETTI )