Dois pesos e duas medidas no STF?

Diante da quebra do sigilo da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, o ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol chamou a atenção no X para a diferença de critérios dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Como mostramos, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) fez alterações significativas em sua narrativa sobre eventos centrais da trama golpista durante o depoimento prestado em 21 de novembro de 2024, perante o ministro Alexandre de Moraes.
Na audiência, Moraes disse que começaria “de forma bem direta, o que caracteriza o meu estilo”.
“Essa audiência foi convocada como mais uma tentativa de permitir ao colaborador que preste as informações verdadeiras. Já há o pedido da Polícia Federal, já há o parecer favorável da Procuradoria-Geral da República pela imediata decretação da prisão, do retorno do colaborador à prisão. Então, aqui, é importante, e exatamente por isso, a fim de possibilitar uma reflexão maior do colaborador com seus advogados para que esclareça omissões, contradições na sua colaboração, sob pena não só da decretação de prisão, como também da cessação e consequente rescisão da colaboração. E eventual rescisão englobará inclusive a continuidade das investigações e responsabilização do pai do investigado, de sua esposa e de sua filha maior.”
Segundo Moraes, aquela seria a “última chance” para Cid expor a verdade.
“Quero os fatos, por isso que eu marquei essa audiência. Eu diria que é a última chance do colaborador dizer a verdade sobre tudo.”
Com a Lava Jato foi diferente
Como lembrou Deltan Dallagnol, pouco mais de um ano antes do depoimento de Mauro Cid, o ministro Gilmar Mendes, do STF, acusou a Lava Jato de praticar “tortura” e defendeu uma investigação sobre os métodos usados pela força-tarefa.
Teria que ter inquérito para saber o que se passou. As pessoas só eram soltas, liberadas, depois de confessarem e fazerem acordo. Isso é uma vergonha e nós não podemos ter esse tipo de ônus. Coisa de pervertidos. Claramente se tratava de prática de tortura usando o poder do Estado.”
Na ocasião, o decano do STF disse que ficou convencido de que a força-tarefa de Curitiba forçou delações premiadas após ler o livro escrito pelo empresário Emilio Odebrecht.
“São páginas que envergonham a Justiça. O que se fez em Curitiba, nessa chamada República de Curitiba, com a Lava Jato, nós temos que fazer um escrutínio muito severo, porque se trata de algo extremamente grave.”