É pitoresco o papel representado pelo Reinaldo Azevedo nos embates politico-ideológicos brasileiros.
Passou os três governos petistas mais um terço combatendo acirradamente o PT e a esquerda, pouco se diferenciando do Diogo Mainardi e dos outros urubus da gaiola da veja. Cunhou o pejorativo petralha.
Fez campanha entusiástica pelo impeachment da Dilma, portando-se como o guru (que ele supunha ser) dos agrupamentos direitistas que promoviam aquelas manifestações dominicais por todo o país.
Objetivo atingido, percebeu que, à maneira do dr. Frankenstein, fabricara um monstro: a nova direita se desgarrou dos controles civilizados e passou a rezar pela cartilha tosca de Steven Bannon e pelo besteirol tosquíssimo do Olavo de Carvalho.
![]() |
Olavistas apelaram até à homofobia contra RA |
Em termos intelectuais, triturou o segundo charlatão numa polêmica, expondo-o como um mero picareta que abraçava a$ causa$ que servissem ao seu objetivo primordial de depenar otários. Mas, previsivelmente, os otários, começando pelos filhos do Bolsonaro, continuaram acreditando piamente no farsante. Quanta falta faz um mínimo de educação formal bem assimilada!
Só restou ao Azevedo recuar para a posição de defensor intransigente do estado de direita (ôps, quer dizer, de Direito...) e do respeito à Constituição, passando uma borracha sobre os excessos retóricos da fase anterior.
Paradoxalmente, durante o governo Temer encontramo-nos na mesma posição, combatendo o golpe articulado pela força-tarefa da Lava Jato com as Organizações Globo, tendo Joesley Batista como abre-alas e Rodrigo Janot como inconsequente inútil.
Ambos percebemos de imediato que a destruição do centro, naquele momento, favoreceria a extrema-direita, que vinha acumulando forças desde as manifestações pró-impeachment.
Frustrada a primeira tentativa golpista (a segunda foi irrelevante, pois o momento propício já havia passado), naquele mesmo mês de agosto de 2017 as hordas ultradireitistas mostrariam suas garras na paralisação dos caminhoneiros.
Incrivelmente, os populistas ditos de esquerda passariam mais de um ano ignorando tal perigo, a ponto de o Lula brincar de candidatura fantasma em 2018 ao invés de acionar o alerta vermelho contra a escalada de Bolsonaro!
![]() |
"trazer de volta a combatividade perdida" |
De resto, o que cada um de nós pretendia/pretende, afinal?
O objetivo maior de Reinaldo Azevedo, depois que a Direita de Neandertal lhe desferiu um formidável chute no traseiro, vem sendo o de reerguer o centro, abreviando ou esvaziando a temporada do Circo do Bozo. Neste sentido, tem até feito denúncias baseadas no material fornecido pelo Intercept Brasil, uma parceria que antes de 2016 ninguém acreditaria ser possível.
Já para mim o imperativo é a reconstrução da esquerda, com a afirmação de uma nova geração de militantes que traga de volta a combatividade perdida e recoloque nosso trem nos trilhos.
A conciliação de classe se tornará cada vez mais inócua, contraproducente e perniciosa à medida que se aprofunde a crise estrutural do capitalismo, então temos de entronizar a organização dos explorados para travarem as lutas sociais como objetivo estratégico nº 1 e desencanar da obsessão eleitoreira por posições no Executivo e no Legislativo, pois o inimigo já mostrou que o poder econômico é quem realmente manda e virará a mesa como e quando bem entender (foi o que fez em 2016).
A perspectiva de uma tênue recuperação econômica em 2020, trombeteada pela charanga do mercador de ilusões Paulo Guedes, pouco alterará o quadro da penúria que nos fustiga ao longo da atual década.
![]() |
Guedes e a reversão das expectativas |
Mas, claro, não passará de um pequeno alento para quem já estava nas últimas; nem de longe um milagre brasileiro em seus melhores dias (ou seja, antes da debacle de 1973).
.
.
DE VOLTA A LÊNIN: O QUE FAZER?
"Siset, tu não vês a estaca/ a que nós estamos atados?/ Se não nos livrarmos
dela,/ não poderemos caminhar!/// (...) Se eu a puxar com força
aqui/ e tu a puxares com força aí,/ decerto tomba,
tomba, tomba/ e poderemos nos libertar"
.
De hoje (22) até domingo, o PT faz um congresso nacional para discutir candidaturas municipais. Não consigo imaginar irrelevância maior nos dias atuais. O impeachment da Dilma, a prisão do Lula e a entrega do poder à extrema-direita nada lhe ensinaram. O apetite por boquinhas continua insaciável.Quanto a Lula, a única fala aproveitável desde sua libertação foi esta:
"Eu estou vendo os ataques aos LGBTs, aos negros, aos índios. Eu estou vendo o crescimento da violência bárbara contra as mulheres brasileiras. Estou vendo os salários desaparecendo, a aposentadoria ficar cada vez mais distante do trabalhador. E estou vendo que nós estamos com dificuldade de reagir. Vou dedicar cada minuto da vida para libertar o país dessa quadrilha de milicianos que tomou conta do poder".
![]() |
Lula: nem autocrítica do PT, nem impeachment do Bozo. |
Afinal, é um segredo de polichinelo que, no cronograma de Lula, o momento de nos libertamos da quadrilha de milicianos jamais será outro que não a eleição presidencial de 2022, na qual ele espera conquistar seu 3º mandato (este, sim, o objetivo ao qual dedica cada minuto de sua vida, e isto há muito tempo...). Everybody knows, como diria o grande Leonard Cohen...
Da minha parte, continuarei enfatizando que o semi-parlamentarismo atual, com a pauta de reformas exigidas pelo grande capital sendo tocada a seis mãos por Guedes, Maia e Alcolumbre, torna o Bolsonaro não só descartável para o sistema, como um estorvo para os negócios. Conforme Lluís Llach ensinou, puxando um pouco aqui, outro tanto ali, decerto tombará, de tão apodrecido que já está.
Mais do que nunca, é hora de a esquerda seguir o exemplo da juventude que foi às ruas clamar pela civilização e rechaçar a barbárie, cerrando fileiras em torno da bandeira do impeachment do presidente miliciano, a partir de algum das dezenas de motivos legais que ele tem fornecido neste sentido (vários deles bem mais graves do que as pedaladas fiscais da Dilma!).
![]() |
Esperar até 2022? A explosão social viria antes! |
É bem capaz de cair para os donos do PIB a ficha de que se tratará, talvez, da última oportunidade de evitarem, pela via institucional, a explosão social que se avoluma no nosso continente.
E, afinal, o que eles perderiam? Com Mourão ou Maia, conservariam tudo que realmente lhes interessa, só descartando aquilo que torna atualmente o Brasil um pária entre as nações civilizadas.
2022 está longe demais. A hora é agora!
"Todo mundo sabe que a guerra acabou,/ todo mundo sabe, os bons perderam./
Todo mundo sabe que a luta foi armada:/ os pobres continuam pobres e
os ricos ficam ricos./// Todo mundo sabe que o barco está furado./
todo mundo sabe que o capitão mentiu..."
(por Celso Lungaretti)
"Todo mundo sabe que a guerra acabou,/ todo mundo sabe, os bons perderam./
Todo mundo sabe que a luta foi armada:/ os pobres continuam pobres e
os ricos ficam ricos./// Todo mundo sabe que o barco está furado./
todo mundo sabe que o capitão mentiu..."