É vasto o inventário de contribuições ao jornalismo deixado por Alberto Dines, que perdemos ontem: consolidou a reforma gráfica e editorial do JB, deu lições de resistência na ditadura, conjugou ética com estética, observou e absorveu as transformações tecnológicas, atuou como professor, criando uma disciplina nova, fora seus mergulhos profundos na História, em diversos livros. Mas ele foi único ao abrir a trincheira da crítica ao jornalismo, da reflexão sobre as exigências do ofício, numa paisagem mistificadora da profissão . 

O Observatório da Imprensa, na Internet e depois na televisão, foi experiência pioneira no que os americanos chamam de “media criticism”, um espaço preocupado com o aprimoramento da atividade, e também com a formação de cidadãos mais exigentes em relação à qualidade da informação que recebem para melhor viverem a democracia. Afinal, ela também é um direito, tão importante quanto os demais. A participação de outros agentes sociais, além de jornalistas, fez do Observatório arena solitária desta prática, que para alguns é anátema. Mas Dines o fazia com seu peculiar dom para entrevistar e conduzir o debate: com firmeza sem perder a suavidade, evitando que a discussão resvalasse para a beligerância pobre e vazia, como acontece hoje nas redes sociais. 

Profissional do impresso, no JB Dines combinou exigências éticas e estéticas, consolidando a reforma gráfica e cometendo necessárias ousadias editoriais, como nas edições sobre atos institucionais e sobre o assassinato de Allende durante a ditadura. Atento às mudanças que a tecnologia e a globalização impuseram à mídia, enfrentou a selva da Internet, onde implantou o Observatório, e depois a da televisão. 

Foi na TV Brasil, como presidente da EBC, que desfrutei por quatro anos de seu convívio ameno, de sua experiência, do fluir natural de sua inteligência em qualquer conversa. O Observatório já era veiculado desde 1998 pela TVE do Rio, que seria incorporada pela nova TV Pública. Logo que fui nomeada, ele me entrevistou no programa, juntamente com Carlos Marchi, sem qualquer reverência pelo cargo, questionando todos os aspectos do projeto. Aquele era um programa que obrigatoriamente seria mantido na grade da nova emissora, decidimos logo. Ele continuou a produzi-lo com absoluta independência, testemunhando contra as acusações de que a TV seria “chapa branca” e controlada. Fez belas edições e o documentário que lhe deu muita alegria, sobre os 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. Anualmente, vencíamos uma briga com a burocracia para renovar seu contrato. Infelizmente, depois do impeachment houve a intervenção na EBC, que a vem desfigurando, e o programa saiu do ar. 

O acervo de 17 anos do programa é valioso para os estudiosos de mídia e comunicação. A vida de Dines foi valiosa para o jornalismo e para a democracia. Fica o legado. 

UM BOM NEGÓCIO 

Escrevi há poucos dias que o MDB resolvera abraçar a candidatura de Meirelles como um bom negócio. A de Temer seria um peso político e um dano financeiro. Sorveria boa parte dos mais de R$ 200 milhões que o partido receberá do fundo eleitoral. Já Meirelles bancará a própria campanha. A verba do MDB será drenada para a eleição de uma grande bancada parlamentar, de cujo apoio o futuro presidente precisará para governar. É o tal ganhar perdendo. Haverá briga na convenção, como sempre. Meirelles pagará caro pelo sonho, não podendo bater no peito e dizer que arrumou a casa, fez a economia crescer e os empregos voltarem. Mas sonho é sonho. 

ENQUANTO ISSO 

Os que enxergam dedo americano na Lava Jato registrem. Discretamente, o vice-secretário de Estado dos EUA, John J. Sullivan, reuniu-se ontem em Brasília com o chanceler interino Marcos Galvão. Lançaram o Foro Permanente de Segurança Brasil-EUA, para cooperação em narcotráfico, tráfico de armas, delitos cibernéticos, lavagem de dinheiro e crimes financeiros, terrorismo e cooperação institucional.

A POLITICA COMO ELA é (POR : TEREZA CRUVINEL)

Tereza Cruvinel atua no jornalismo político desde 1980, com passagem por diferentes veículos. Entre 1986 e 2007, assinou a coluna “Panorama Político”, no Jornal O Globo, e foi comentarista da Globonews. Implantou a Empresa Brasil de Comunicação - EBC - e seu principal canal público, a TV Brasil, presidindo-a no período de 2007 a 2011. Encerrou o mandato e retornou ao colunismo político no Correio Braziliense (2012-2014). Atualmente, é comentarista da RedeTV e agora colunista associada ao Brasil 247; E colaboradora do site www.quenoticias.com.br