Crise no Equador: veja linha do tempo e o que se sabe sobre a onda de violência no país

10 de janeiro de 2024 127

Uma crise de segurança pública no Equador se agravou no domingo (7), após a fuga da prisão de José Adolfo Macías Salazar, conhecido como Fito e líder dos Choneros. Ele comanda a principal quadrilha criminosa do país ligada ao narcotráfico.

Desde a fuga de Fito, policiais foram sequestrados, mais presos fugiram e ataques com explosivos e carros-bomba foram registrados em diversas cidades equatorianas. Em razão do terror promovido pelos criminosos, na segunda-feira (8) o governo equatoriano decretou estado de exceção por 60 dias. 

Nesta terça-feira (9), uma emissora de TV foi invadida e atacada durante transmissão ao vivo. Em razão disso, o presidente do Equador, Daniel Noboa, declarou “conflito armado interno” no país. A medida busca fortalecer o enfrentamento aos traficantes e “neutralizar” as organizações criminosas.

O desenrolar da crise

Ecuadorean Armed Forces / Ecuadorean Armed Forces

Fito foge da prisão e desencadeia onda de violência.Ecuadorean Armed Forces / Ecuadorean Armed Forces

Domingo, 7/1

Governo confirma que o narcotraficante José Adolfo Macías Salazar, conhecido como Fito e líder dos Choneros, a maior gangue do país, havia fugido da cadeia.

Segunda-feira, 8/1

Pelo menos seis presídios registram rebeliões, com retenção de agentes penitenciários por detentos e queima de colchões. 

Na Prisão Regional, onde estava Fito, detentos escrevem "Papa Fito" no pátio do complexo prisional. Em um campo esportivo do mesmo complexo, pintam "Con Fito sembramos paz" ("com Fito semeamos paz", em português).

Na cidade de Machala, três policiais são sequestrados. Um quarto sequestro ocorre na capital do país, Quito. Este último agente é levado por três criminosos que conduzem um "veículo com insulfilme e sem placa", informa a polícia local. 

Ainda em Quito, um veículo explode e um dispositivo é detonado perto de uma ponte de pedestres. O prefeito da cidade, Pabel Muñoz, pede ao Executivo a "militarização" de instalações estratégicas ante a "crise de segurança sem precedentes".

Há explosões também em Esmeraldas, uma cidade próxima da fronteira com a Colômbia, uma das províncias equatorianas controladas por máfias. 

Um artefato explosivo é lançado perto de uma estação policial e dois veículos são queimados em outros locais, sem deixar vítimas.

O presidente Daniel Noboa decreta estado de exceção no país. O decreto permite a ação das Forças Armadas no sistema prisional equatoriano e instala um toque de recolher entre 23h e 5h. O estado de exceção de Noboa vale por 60 dias.

Terça-feira, 9/1

Autoridades relatam a fuga de outro líder do tráfico: Fabricio Colón Pico, um dos líderes de Los Lobos. Ele havia sido preso na sexta-feira pelo crime de sequestro e suposta responsabilidade em um plano para assassinar a procuradora-geral.

A violência continua pelas cidades equatorianas. Homens encapuzados, armados com fuzis e granadas, invadem uma transmissão ao vivo do canal de TV público TC em Guayaquil. O bando deixa uma dinamite na recepção e faz os profissionais da emissora reféns, informam autoridades locais. 

Disparos são ouvidos no estúdio principal e funcionários da emissora usam um grupo de WhatsApp para pedir ajuda: "Socorro, eles querem nos matar", diz mensagem. 

— Estamos no ar para dizer que não se brinca com a máfia — diz um dos criminosos durante transmissão ao vivo.

Policia Nacional do Equador / Reprodução

Policiais efetuaram a prisão dos criminosos que invadiram a TV e retiraram seus disfarces.Policia Nacional do Equador / Reprodução

Depois de cerca de duas horas, a situação é controlada. Treze pessoas que invadiram os estúdios são capturadas.

Relatos apontam que criminosos invadiram também uma universidade em Guayaquil, que suspendeu as aulas.

Noboa decreta “conflito armado interno”, declarando facções criminosas como organizações terroristas. “Ordenei às Forças Armadas que realizem operações militares para neutralizar esses grupos”, escreveu na rede social X (antigo Twitter).

Noboa lista 22 facções criminosas como terroristas, que estariam ligadas aos ataques, e autoriza as Forças Armadas do Equador a agir para combater os grupos. 

A medida autoriza, entre outras coisas:

  • A intervenção do Exército e da Polícia Nacional no país contra facções criminosas
  • Identifica como organizações terroristas 22 facções criminosas e "atores beligerantes não estatais"
  • Determina às Forças Armadas a execução de operações militares para "neutralizar" os grupos criminosos, "respeitando os direitos humanos"

Entenda o que está por trás da onda de violência

Contexto histórico

O Equador fica situado entre os maiores produtores de cocaína do mundo, Colômbia e Peru. Há anos, o país tem exercido o papel de ponto de exportação de ilícitos para a América do Norte e a Europa. A violência do narcotráfico escalou a partir de 2018, inicialmente, restrita aos presídios, onde diferentes gangues disputavam o mercado de drogas.

O governo perdeu o controle do sistema carcerário e facções internacionais viram no caos uma oportunidade. Esses grupos de outros países passaram a unir forças com quadrilhas dos presídios e das ruas, desencadeando uma onda de violência.

Desde 2021, os confrontos entre presidiários deixaram mais de 460 mortos. Além disso, os homicídios nas ruas entre 2018 e 2023 cresceram quase 800%, passando de seis para 46 por 100 mil habitantes.

Em 2023, criminosos assassinaram a tiros o candidato presidencial Fernando Villavicencio após um comício. Ele lutava fortemente contra a corrupção. O ano de 2023 terminou com mais de 7,8 mil homicídios e 220 toneladas de drogas apreendidas, novos recordes no país de 17 milhões de habitantes. 

Mudança de governo

Presidencia Ecuador / Presidencia Ecuador

Daniel Noboa, 36 anos, é o presidente mais jovem do Equador e chegou ao poder com a promessa de atacar os grupos de traficantes.Presidencia Ecuador / Presidencia Ecuador

Esta é a primeira crise que o presidente, Daniel Noboa, enfrenta após assumir o poder em novembro. Noboa, 36 anos, é o presidente mais jovem do Equador e chegou ao poder com a promessa de atacar com firmeza os grupos de traficantes, ligados a cartéis colombianos e mexicanos.

Na semana passada, ele anunciou que construirá dois presídios de segurança máxima nas províncias de Pastaza (no Leste) e Santa Elena (no Sudoeste), ao estilo das construídas pelo presidente salvadorenho, Nayib Bukele, em sua guerra contra as gangues.

O governo não divulgou até agora um balanço de ataques pelo país, mas segundo a imprensa local eles ocorrem em diversas cidades. Também ainda não há informações oficiais sobre a autoria dos ataques nem sobre a motivação dos grupos.

Fonte: GZH, ESTADÃO CONTEÚDO E AFP