CRESCE A INDIGNAÇÃO DOS BRASILEIROS CONTRA OS QUE ESTÃO DESTRUINDO O PAÍS
dalton rosado
O BRASIL E A MAIORIDADE CIVIL
(Zé Ramalho, em Admirável Gado Novo)
É fato que vivemos um dos piores momentos da nossa história. Os números estão aí, incontestes.
Há uma crise pandêmica mal administrada, que ora nos coloca em primeiro lugar nas estatísticas de novas infecções e mortes no mundo inteiro, com recordes sendo superados dia após dia (só ontem, no aziago 31 de março, foram 3.950 as pessoas sepultadas).
Isto se deve a termos uma administração pública federal incrivelmente mal orientada, pois o atual governo se guia pelo que há de mais retrógrado em termos de pensamentos ultraconservadores. Como consequência, ela é:
— adepta de ultrapassadas posições nacionalistas, em choque permanente com o ministro da Economia de orientação liberal;
— tendente ao fundamentalismo religioso fanatizado ou farsesco;
— negacionista da agressão ambiental e das prevenções sanitárias;
— imprudente no encaminhamento das relações diplomáticas com os demais países;
— antiglobalista num mundo irreversivelmente globalizado;
— contaminada por ligações perigosas com a criminalidade, já que algumas de suas lideranças políticas mantém chocante promiscuidade com milicianos, tendo chegado até a condecorá-los e a escondê-los da polícia;
— contaminada por frequentes denúncias de corrupção, com assessores presos e parlamentares respondendo a processos;
— incapaz de evitar o crescimento da dívida pública, que quase já se equipara ao PIB anual brasileiro;
— incapaz de impedir a subida da inflação nos preços de alimentos;
— incapaz de evitar o aumento do desemprego, que já atinge 14,2% da população economicamente ativa;
— incapaz de reverter a queda do PIB (depois do irrisório 1,1% em 2019 veio o –4,1% em 2020);
— incapaz de conter a crescente debandada de membros da equipe governamental, à medida que percebem a inutilidade de seus esforços face à irracionalidade do governo como um todo;
— quase sempre fracassada em atingir os objetivos fixados para as privatizações de estatais inoperantes;
— subjugada, por decisão presidencial, ao putrefato fisiologismo político do chamado centrão.
Ufa! Não há nenhum setor que se possa avaliar como merecedor de elogios. Mas, como disse o saudoso Sergio Ricardo, também na favela pode nascer uma rosa.
Então, para amenizar o desencanto com nossa realidade macabra, eis que os comandantes militares das três Armas, ressabiadas com a recente história de fracasso administrativo de quando governou de modo absolutista e despótico no período 1964/1985, rechaçaram a tentativa de um dos seus membros de menor patente (por elas mesmas expurgado no século passado por insubordinação) de forçá-los a atuarem como guarda pretoriana dos seus devaneios golpistas.
Igualmente a elite política, diante da intenção do presidente Boçalnaro, o ignaro, de fazer passar uma mudança constitucional que lhe concedia poder de intervenção nas policiais militares dos Estados (ele supunha que tais efetivos apoiariam seu sonhado autogolpe), em maioria acachapante, apenas riu do primarismo de tal proposição.
E como não rir? Ela comprovou que a faixa presidencial está nos ombros de um indivíduo que denota profundo desconhecimento da correlação de forças políticas atuais, bem como demonstra ignorância quanto à subordinação e função das forças auxiliares de policiamento aos governadores de Estado, cujos deputados mantêm estritos vínculos de alinhamento político.
O Poder Judiciário também (e, principalmente, nas suas mais altas esferas jurisdicionais) tem reafirmado a sua obediência aos princípios constitucionais vigentes e demonstrado cabalmente o repúdio à intolerância de julgamentos ao arrepio da lei processual, bem como da tentativa de ressuscitar práticas típicas de regimes absolutistas e leis que, por um descuido qualquer não foram revogadas quando da remoção do entulho autoritário da última ditadura.
A opinião pública, que até ontem se embandeirava majoritariamente de verde-amerelo em favor do que suponha ser um Brasil disposto a combater a corrupção e a velha política elitista à qual setores da esquerda institucional se dobrara, hoje se revolta majoritariamente (ainda que haja bolsões de fanatizados energúmenos recalcitrantes que não querem enxergar o óbvio, e que vociferam pelas redes sociais mesmerizadas) contra as iniciativas desse governo que verdadeiramente já não governa, mas apenas acentua, com proposições e diretrizes amalucadas, o nosso infortúnio enquanto nação.
O mundo olha pra o Brasil estarrecido e se pergunta como, em tão breve espaço de tempo, nos tornamos párias sociais, se até alguns anos atrás éramos uma nação cordial, pobre, mas feliz, e na qual havia a maior miscigenação cordata dentre todos os povos.
Mas, a partir dessas demonstrações inequívocas de repulsa generalizada, o autogolpe acalentado pelo Boçalnaro desde o primeiro dia do seu (des)governo fez água. E isto se constitui numa cabal demonstração de maioridade histórica da vida político-social brasileira, animando-nos a dar passos ainda mais largos no sentido de uma ingerência popular consciente dos seus interesses sociais soberanos e de modo jurídico-constitucional cada vez mais horizontalizado.
As dores atuais estarão sendo as dores do parto de uma nova civilização, ou mesmo tendente a isto? O futuro responderá à esta inquietante indagação.
Sem baixarmos nossa guarda, permitamo-nos sonhar com dias bem melhores. Eles podem estar mais próximos do que supomos. (por Dalton Rosado)
Postado por celsolungaretti
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