Cidades pequenas não conseguem ser inteligentes

11 de abril de 2018 479

Atualmente, metade da população mundial vive em áreas urbanas, uma proporção que se espera que venha a aumentar para 66%, em 2050. Nesse ano, as projeções das Nações Unidas apontam para que os centros urbanizados tenham mais 2,5 mil milhões de pessoas, o que faz com que se comecem a impor soluções sustentáveis e novos modelos de desenvolvimento urbano, que combatam problemas de mobilidade, segurança, desigualdades sociais ou até ambientais.

É neste contexto que surgem as smart cities (cidades inteligentes), que assentam na utilização de tecnologias de informação e comunicação para promover a qualidade de vida dos cidadãos e o desenvolvimento económico. Em Portugal, se o conceito já começa a fazer parte da agenda dos governantes - e a adoção de medidas "inteligentes", sobretudo na mobilidade, já proliferam nos grandes municípios -, há concelhos de menor dimensão que vivem numa luta pelo investimento privado e público, para conseguirem modernizar-se, atrair turistas e fixar população através da tecnologia e conhecimento.

Em Braga, no Fórum Internacional das Comunidades Inteligentes e Sustentáveis, que decorreu pelo quarto ano consecutivo, cruzaram-se realidades distintas, com os autarcas do Alto Minho e da região do Douro a apresentarem um conjunto de potencialidades dos seus territórios, ao mesmo tempo que desfiavam os constrangimentos à aplicação de medidas "inteligentes", à mesma velocidade que as urbes. "Infelizmente, custa-nos dez vezes mais chegar a comunidades inteligentes. Aquilo que é a tecnologia e nós damos por adquirido, principalmente quem vive em densidades populacionais maiores, nos nossos casos temos enormes dificuldades. Se eu sair um dia de manhã e regressar ao final do dia, passo por inúmeros sítios onde há dificuldade de ter rede de telemóvel. Temos obstáculos que noutros locais nem se colocam", atesta o autarca de Tabuaço, um município com cerca de seis mil habitantes.

Melgaço e até Caminha contam com mais gente, mas o problema de telecomunicações, desígnio fundamental para uma cidade inteligente, também é uma realidade em algumas povoações mais rurais. "Sem comunicações digitais, não temos condições de desenvolvimento do território. É preciso um esforço grande e que as operadoras se juntem, encontrem soluções que conjugadas são mais baratas", defende o autarca de Melgaço, Manoel Baptista.

Em Caminha, Miguel Alves adianta que os 150 habitantes de serra de Arga sem rede terão o problema resolvido dentro de um mês. "Ao mesmo tempo que tentamos ir para o topo, ainda estamos a resolver processos de base", reconhece.

Carlos Carvalho apela aos privados e ao Governo para que olhem para municípios menos povoados, "na perspetiva de investirem lá o que foi investido noutros lados". Senão, concretiza, "dificilmente vamos aproximar-nos de outras realidades". Neste sentido, Manoel Batista recorda uma proposta, inviável por falta de financiamento. "Há dois anos, uma empresa que queria instalar um conceito de smart city, de forma alargada, no município, exigiu um investimento de seis milhões de euros. Eu acredito que para um município como Braga, seis milhões de euros num orçamento não seja tão pesado e possa ser investido em dois anos para uma grande intervenção. Em Melgaço, estamos a falar de mais de um terço do orçamento, e isso não é possível sem que haja investimento público".

Ainda assim, os constrangimentos não têm sido razão para estes autarcas não começarem a trilhar um caminho de futuro. Na mobilidade, turismo e na gestão de serviços camarários já se notam as primeiras mudanças de paradigma. Se Caminha tem 150 pessoas sem rede wi-fi ou de telemóvel, por outro lado, está a concluir um investimento em rede de fibra ótica que chegará a 75% das casas do concelho. Em Arcos de Valdevez, esta tecnologia já está instalada nos parques empresariais.

Monção, por exemplo, vai apostar na economia circular e está focado na eficiência energética dos edifícios públicos, enquanto Vila Nova de Cerveira olha para a mobilidade sustentável, com a extensão da ecovia. O mesmo em Caminha, onde Miguel Alves espera, também, incluir um projeto de "bike sharing" (partilha de bicicletas). Por outro lado, tem o desígnio da educação de qualidade. "Temos de apostar nas pessoas inteligentes que vão tornar o território inteligente", defende".