CEM DIAS DE LULA 3, CEM DIAS DE VAZIO.

Nesta segunda-feira, 10/04, completaram-se 100 dias de governo Lula 3. Na realidade, caso anteriormente não tivéssemos tido um presidente canastrão e bandido igual Bolsonaro, seria impossível dizer com segurança existir no Brasil um novo governo, tamanha a mediocridade dos novos residentes de Brasília.
Novos de forma relativa, bem entendido, pois é a quinta vez que o Palácio do Planalto é ocupado por um petista, terceira pelo próprio Luiz Inácio. Daí inclusive a falta de novidade, pois não é um governo inédito, mas continuação dos 13 anos anteriores. De fato, o lulopetismo insiste em fazer o que não deu certo, com uma política de conciliação de classes, cooptação partidária e limitadas medidas assistenciais.
Muito pior agora, pois o lulopetismo é um zumbi, tendo morrido em Junho de 2013 e enterrado no Impeachment de 2016. O que vemos hoje é apenas um espectro fantasmagórico de uma alma penada que se recusa a desencarnar. A vitória de Lula nas últimas eleições se deu mais em função de seu adversário - e mesmo assim foi garantida na bacia das almas, com limitadíssima margem. Foi uma eleição do veto, com um lado e outro votando não em programas, inexistentes, mas para barrar quem não gostaria de ver sentado na cadeira de presidente. Ao fim, a rejeição ao Bozo foi maior e o atual presidente venceu por ter menos antipatia popular.
Aliás, o programa petista e o bolsonarista se equivalem no essencial, pois são basicamente os mesmos de FHC e Temer, o neoliberalismo periférico, exportador de commodities e importador de bens industrializados. Nos últimos vinte e três anos o país viveu profundo processo de primarização econômica, com o setor agropecuário e mineral assumindo a dianteira da produção de valor. Lembremos aqui da lição de Marx, a produção de valor ocorre de dois modos, ou na indústria ou mediante a exploração da renda da terra, esta última assumindo aspecto de extrativismo, ao sugar riquezas do solo e da natureza em geral.
O agro é pop
No Brasil, esta lógica extrativista atingiu seu clímax com Jair Bolsonaro e deve continuar se generalizando no futuro até nos transformarmos de vez em um grande deserto esburacado e enlameado. A recente viagem de Lula à China dá conta da força do setor extrativista: mais de 200 sanguessugas irão acompanhar o presidente a Pequim, quase todos representantes do agronegócio.
Lula 3 assumiu em situação muito mais crítica e rebaixada em relação há vinte anos, inclusive com o passivo gigantesco de seu próprio passado de erros. Pego em meio a uma crise capitalista que se desenha catastrófica, com crescentes tensões mundiais entre potências militares, o novo governo possui muito menos margem de manobra e será cozido de forma muito mais acelerada pela ingovernabilidade derivada dos terremotos da economia de mercado em franca decadência. No entanto, diante do contexto adverso, o presidente e seus asseclas insistem em agir como se tudo ainda fosse igual, afundando-se em debates escolásticos para salvar o insalvável.
Assim, o mais ignóbil dos ministros, Fernando Haddad, passou estes cem dias discutindo um novo Teto de Gastos com a seriedade típica com a qual os filósofos medievais estudavam o sexo dos anjos. Ao fim, sua engenhoca, digna de um professor Pardal, servirá apenas para desgastar ainda mais o lulopetismo junto às massas, as quais se afundam na fome, na miséria, na violência e no desemprego, alheias ao tecnicismo do tedioso professor.
De resto, a proposta de Haddad configura claro estelionato eleitoral, pois durante anos o discurso lulopetista era de abolir o teto de gastos e não de substitui-lo por outro. No entanto, a Lula é mais cômodo repetir o servilismo aos capitalistas, os mesmos responsáveis por prende-lo na cadeia e também por tira-lo de lá.
Nem os filósofos medievais perdiam tanto tempo com debates ociosos.
Outra prova do servilismo, e novo estelionato, é a continuação da deforma do Ensino Médio, medida autoritariamente imposta por Temer e cuja sustação fora prometida pelos lulistas. Agora, o discurso mudou e o próprio presidente garante a continuidade de sua implementação. A rigor, estranho seria se ele cumprisse a promessa, pois a reforma já vinha sendo urdida por Dilma e encontrava-se nas gavetas do MEC à época da posse do Drácula, apenas esperando uma mão de ferro para vir à luz do dia. Continuarão os alunos a terem aulas de RPG, Brigadeiro Caseiro e O que Rola por Aí, pois é esta a visão educacional para a juventude também compartilhada por Lula e sua gangue.
O novo governo move-se por pura inércia, sem norte claro, apenas impulsionado pelo movimento da massa falida chamada Brasil. À deriva, não se deu conta que o chão começa a faltar debaixo de seus pés e não é mais possível agradar a deus e ao diabo. Dito de outro modo, não aprenderam nada sobre a realidade histórica atual. Enquanto almas penadas, repetem em looping o que já viveram.
Em cem dias temos ideia de toda a falta de rumo de Lula 3. Aguardemos os próximos cem, pois ao que tudo indica, tudo só tende a piorar, para o governo e para nós. (por David Emanuel Coelho)
MAIS LIDAS
Gaeco investiga esquema que movimentou R$ 316 milhões na Novacap
Dólar ronda R$ 5,60 após dados de emprego dos EUA; Ibovespa sobe
