Caso Gritzbach: Revelações sobre esquema de lavagem de dinheiro do PCC emergem após assassinato de delator

Em 8 de novembro de 2024, o Aeroporto Internacional de Guarulhos foi palco de um crime que chocou o país: o assassinato de Vinícius Lopes Gritzbach, delator do Primeiro Comando da Capital (PCC). Na última terça-feira, o Jornal Nacional da Rede Globo teve acesso exclusivo a gravações que elucidam parte das operações financeiras ilícitas da facção, incluindo a compra de imóveis de alto padrão.
Detalhes das gravações
Nas gravações obtidas, um colaborador detalha como integrantes do PCC utilizavam laranjas e empresas de fachada para adquirir propriedades de luxo, mascarando a origem ilícita dos recursos. Essas transações faziam parte de um esquema sofisticado de lavagem de dinheiro, permitindo que os líderes da organização desfrutassem de um estilo de vida opulento sem levantar suspeitas.
Lavagem de dinheiro através de fintechs
As apurações indicam que o PCC movimentou aproximadamente R$ 6 bilhões de forma ilegal por meio de duas fintechs: 2GO Bank e InvBank. Essas instituições financeiras digitais ofereciam serviços alternativos aos bancos tradicionais, permitindo que a facção ocultasse a origem ilícita dos recursos. O esquema envolvia a aquisição de imóveis de luxo e a utilização de "laranjas" para mascarar os verdadeiros beneficiários das transações. Em alguns casos, pessoas de baixa renda, como pedreiros e beneficiários de auxílios sociais, eram usadas para disfarçar as operações financeiras.
Agente da Polícia Civil de São Paulo Cyllas Salerno Elia Junior, criador e dono do 2GO Bank, uma das instituições financeiras citadas por Gritzbach — Foto: Reprodução/TV Globo
Prisão de policial civil envolvido
No desdobramento das investigações, a Polícia Federal e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) prenderam o policial civil Cyllas Salerno Elia Junior, proprietário do 2GO Bank. Elia já havia sido detido anteriormente por participação em esquemas de lavagem de dinheiro, mas continuava operando as atividades ilícitas. Além da prisão, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em sedes das fintechs e em endereços ligados a membros do PCC nas cidades de São Paulo, Santo André e São Bernardo do Campo.
Histórico do assassinato de Gritzbach
Vinícius Gritzbach, ex-corretor de imóveis, tornou-se colaborador das autoridades após anos de envolvimento com o PCC. Em março de 2024, firmou um acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo, fornecendo informações cruciais sobre esquemas de corrupção envolvendo policiais e operações financeiras da facção. O conteúdo de sua delação permanece sob sigilo, mas sabe-se que ele expôs nomes de policiais e detalhes sobre a lavagem de dinheiro praticada pelo grupo criminoso.
No dia de sua morte, Gritzbach retornava de uma viagem a Maceió quando foi emboscado no Terminal 2 do Aeroporto de Guarulhos. Homens armados dispararam múltiplas vezes, resultando na morte de Gritzbach e ferindo outras três pessoas. Investigações subsequentes apontaram que a motivação do crime estava diretamente ligada às revelações feitas por ele em sua delação. A diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegada Ivalda Aleixo, afirmou:
"A motivação foi a delação do Vinícius. Ele expôs todo um esquema de corrupção, envolvendo não apenas policiais, mas também líderes do PCC responsáveis pela lavagem de dinheiro."
Desdobramentos das investigações
As investigações avançaram rapidamente. Em janeiro de 2025, a Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo prendeu 15 policiais militares suspeitos de envolvimento no assassinato de Gritzbach. Entre os detidos estava o cabo Denis Antonio Martins, apontado como um dos executores do crime. Além disso, a Polícia Civil identificou Emílio Carlos Castilho como o principal mandante do assassinato, ligado diretamente às altas esferas do PCC.
O caso revelou falhas significativas nos programas de proteção a testemunhas no Brasil. Apesar de sua colaboração com as autoridades, Gritzbach não recebeu a proteção adequada, culminando em sua execução pública em um dos locais mais movimentados do país.
Implicações e reflexões
A morte de Vinícius Gritzbach e as informações emergentes sobre as operações financeiras do PCC lançam luz sobre a complexidade e a extensão das atividades criminosas da facção. Além disso, o caso destaca a necessidade urgente de reforçar os mecanismos de proteção para delatores e testemunhas, garantindo que aqueles que colaboram com a justiça não sejam silenciados por represálias violentas.
As gravações obtidas pelo Jornal Nacional servirão como evidência crucial nos processos judiciais em andamento, buscando desmantelar as estruturas financeiras do PCC e responsabilizar todos os envolvidos nos crimes revelados.