Cabeça-dura

Novo estudo científico demonstra como as mudanças de opinião estão relacionadas com processos complicados do nosso cérebro: "A química da teimosia" (Veja, 24/6). Se bem entendi, o que chamamos de "preconceito" é uma idéia cristalizada no cérebro que impede uma nova idéia, de sentido contrário, prevalecer. Cria-se um muro entre duas concepções contraditórias. Um terraplanista, com base nos relatos bíblicos e na aparência empírica, não aceita a descoberta científica da esfericidade do nosso planeta, como um crente, pelo ensinamento religioso, acha que nossa alma ou espírito, separado da matéria, sobrevive à morte corporal, continuando a viver eternamente num outro mundo completamente desconhecido.
Depois que um conceito se solidifica na nossa cabeça, é muito difícil mudar de opinião. É isso porque ninguém pensa sozinho. O ser humano é coletivo por natureza. É a necessidade da sobrevivência que nos faz aderir a costumes e ideologias de uma comunidade. O lado negativo dessa realidade é o surgimento de racismos e preconceitos, achando que nosso grupo social é melhor do que outro. E isso vai da política ao futebol, dando origem a vários tipos de fanatismo, que chegam a afetar a própria racionalidade humana. Podemos chamar de "cabeças-duras" a integrantes de comunidades cujos cérebros restam impermeáveis a mudanças, visto que não existem verdades absolutas e imutáveis.
Salvatore D' Onofrio
Dr. pela USP e Professor Titular pela UNESP
Autor do Dicionário de Cultura Básica (Publit)
Literatura Ocidental e Forma e Sentido do Texto Literário (Ática)
Pensar é preciso e Pesquisando (Editorama)
www.salvatoredonofrio.com.br
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