Beleza

A meu ver, a pergunta de Walcyr Carrasco "A beleza é proibida?" (Veja, 4/3) não foi corretamente formulada, em vista de que a beleza, como a inteligência ou a força física, é um bem natural que não depende da vontade individual e, portanto, não pode ser "proibida", mas apenas admirada. Cabe-nos valorizar essas qualidades, tirando o maior proveito possível, sem esquecer que a natureza humana, como a cósmica, é profundamente injusta. Uma mulher nasce mais bonita do que outra, assim como um homem mais inteligente ou uma flor mais cheirosa. Seu papel natural é seduzir o homem, para o fim da cópula e da procriação, visando a conservação da espécie. É por essa razão que a natureza conferiu ao ato sexual um prazer tão intenso. Evidentemente, deve haver reciprocidade amorosa entre homem e mulher e não limitar o relacionamento sexual apenas ao casamento ou ao desejo de ter filhos. Elogiar a beleza de uma mulher (ou de um homem) e manifestar atração física ou espiritual, sem chantagem ou violência, deveria ser considerado algo normal e não tentativa de estupro, como avaliam puritanos fanáticos. Vale o princípio fundamental de uma moral sadia: "Faça o que quiser, desde que não cause sofrimento a outras pessoas". Especialmente agora, em tempo de epidemia do coronavírus, a beleza da mulher não pode ser tentação para beijos e abraços, sem as devidas precauções!
Salvatore D' Onofrio
Dr. pela USP e Professor Titular pela UNESP
Autor do Dicionário de Cultura Básica (Publit)
Literatura Ocidental e Forma e Sentido do Texto Literário (Ática)
Pensar é preciso e Pesquisando (Editorama)
www.salvatoredonofrio.com.br
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